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SANTOS - Igreja Anglicana está em processo de tombamento
Imagem: reprodução parcial da página A-1, com foto de Alberto Marques |
Igreja Anglicana: na lista do Condepasa
Órgão acatou pedido de tombamento e inicia agora processo de análise para preservação do único
prédio em estilo anglo-saxão da região
Viviane Pereira
Da redação |
A única igreja em estilo anglo-saxão da região poderá ser
tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa). O órgão aceitou pedido e deu início ao processo de tombamento do
imóvel da Igreja Anglicana, situada no José Menino, na Praça Washington nº 92.
"Agora começam os estudos para avaliar o interesse na preservação do imóvel", explica o presidente
do Condepasa, José Manuel Costa Alves. Ele ressalta que a partir do instante em que o Conselho demonstra interesse, a construção já fica preservada:
é preciso autorização para qualquer alteração.
O arquiteto do Condepasa, Vanderlei Hassan, acredita que quando esse processo estiver em estudo,
não deve levar muito tempo para análise do pedido de tombamento. "Agora ele entra em uma fila. Existem nove processos de tombamento em andamento"
(veja destaque).
A facilidade na análise do imóvel deve-se, segundo o arquiteto, às características da igreja: um
prédio isolado, com qualidades arquitetônicas bem definidas, e que já tem nível de proteção. "A fachada, volumetria e telhado estão intactos",
avalia Hassan. "O imóvel está original".
Ele chama atenção ainda para o fato da igreja estar situada em região de bens tombados: a
Estação Elevatória de Esgoto e o Orquidário Municipal.
Relevância histórica - Hassan destaca a relevância histórica da construção, que data de
1918. Na virada do século XIX para o século XX, Santos passou por grande desenvolvimento, com o crescimento do Porto, a chegada da estrada de ferro,
a construção dos canais. "Nesse processo de desenvolvimento da Cidade, houve grande contribuição de empresas estrangeiras, especialmente inglesas".
Com a vinda dos ingleses, nasceu a necessidade de ter um templo para a comunidade. "Eles trouxeram
o que havia de representativo na arquitetura de sua terra. Por isso vemos a igreja com pedras aparentes, telhado em ângulo proeminente".
Com capacidade para 120 pessoas, igreja foi criada no
início do século XX para acolher espiritualmente e servir de ponto de encontro dos ingleses que vieram para o Brasil
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
Em andamento |
Hospital Beneficência Portuguesa
Colégio São José
Sindicato dos Estivadores
UME Acácio de Paula Leite Sampaio
Edifícios da Codesp
Associação Japonesa de Santos
Catedral de Santos
Pinacoteca Benedito Calixto
Sítio das Neves |
* Processos em análise no Condepasa |
Austeridade |
O arquiteto Vanderlei Hassan explica que o estilo anglo-saxão das
igrejas é diferente da Católica tradicional, que vem do barroco e é mais rebuscado, com interior cheio de imagens e pinturas. "O interior de
uma igreja que tem a corrente do culto baseada no Protestantismo é mais austero. Não tem estátuas, imagens ou pinturas. A arquitetura é mais
austera". |
Abertura |
Uma das diferenciações que o reverendo ressalta da Igreja Anglicana
em relação à Católica Romana é uma abertura maior à comunidade. Para participar dos aspectos
litúrgicos, o cristão precisa apenas ter sido batizado em uma igreja cristã. "Nós não fazemos propaganda do segundo casamento, mas admitimos
divorciados", afirma Campos.
"Somos uma das poucas que não exclui pessoas de orientação homoafetiva, homossexuais". Ele conta que
também batiza crianças de pais que não são casados. "Existem sinais 'proféticos' de acolher todas as pessoas como filhos de Deus, sem
distinção. Todos somos cristãos". |
O templo |
Capacidade para 120 pessoas
Sem estátuas de imagens de santos ou afins
Vitrais com São Jorge, São Patrício, Jesus Cristo, Nossa Senhora,
São Pedro, São Paulo e outros
Uma vez por mês - todo segundo domingo às 9 horas - é celebrada
missa em inglês
Todo domingo às 10h30 tem missa em português
Rodeada de jardim, a área da igreja soma 2.250 metros com o
templo, a casa paroquial e o salão paroquial |
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PEÇA RARA - Harmônio - Órgão de fole, centenário, é abastecido por um motor antigo. Foi feito em
Liverpool, na Inglaterra. É o único no estilo na Baixada Santista
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
"Queremos preservar o templo"
"O tombamento será importante para a preservação do patrimônio", avalia o reverendo Leandro
Antunes Campos, da Igreja Anglicana, citando que esse já é um dos objetivos estatutários. "Nossa meta é conservar o templo e manter o rito anglicano
para quem deseja participar e conhecer".
O reverendo comenta que a igreja é fruto da presença anglicana em Santos. A comunidade era
bastante ativa no início do século XX. "Várias pessoas se destacaram no processo de desenvolvimento da Cidade, na área de benemerência, em
associações beneficentes". Campos destaca o Clube dos Ingleses e a Loja Maçônica Wanderers. "Havia o cemitério dos ingleses
e o Hospital Anglo-Americano, que ficava no Canal 6".
A igreja era um ponto de encontro da comunidade de língua inglesa. Segundo o reverendo, atuava
como um espaço de expressão da espiritualidade e religiosidade dos povos.
Estilo - O religioso comenta que a capela tem um clima rústico. "É a réplica de um templo
rural inglês", diz. "Quem vem na igreja pode passear no jardim, coisa que outras não têm.
Estima-se que cerca de 60 famílias freqüentem o local. "Cresceu bastante a comunidade de língua
portuguesa participando, especialmente jovens casais para batismo e casamento".
Quanto à religião, ele explica que a Igreja Anglicana busca a via média entre o Catolicismo e o
Protestantismo. "Apesar da mesma origem da Católica Romana, há outras influências. Usamos o Livro de Oração Comum (The Book of Common
Prayer), uma síntese de ritos litúrgicos que existiam na Inglaterra", explica. "Nós tentamos enxugar a expressão da espiritualidade
medieval e apresentar uma espiritualidade moderna".
A igreja-mãe é a Diocese de Canterbury - aqui chamada de Cantuária ou Catedral de Cristo.
Segundo Campos, a comunidade anglicana brasileira é fruto de três diferentes origens: inglesa, que
veio para o Brasil a partir de 1810 com o tratado de comércio entre Inglaterra e Portugal; a segunda é norte-americana, e veio com a República, em
1890, quando missionários norte-americanos chegaram para trabalhar especificamente com brasileiros; e a terceira, por volta de 1920, com a migração
japonesa.
Na parte interna, vitrais com temas religiosos compõem o cenário
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
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