O antigo prédio escolar terá suas características preservadas
Foto: João Vieira, publicada com a matéria
PATRIMÔNIO
Grupão tem sua história resgatada
Imóvel datado de 1898 está sendo restaurado pelo Governo do Estado
Luiz Gomes Otero
Da Sucursal
Uma das poucas edificações remanescentes do final do
século XIX ainda existentes em São Vicente está tendo parte de sua história resgatada. Trata-se do imóvel situado na Praça Coronel Lopes, no Centro,
onde funcionou a antiga Escola Estadual Ziná de Castro Bicudo, e que ficou conhecido como Grupão. O local, que atualmente abriga a Diretoria
Regional de Ensino, está sendo reformado e restaurado, seguindo as características originais do imóvel que foi inaugurado em 1898 por iniciativa da
Loja Maçônica Fraternidade, de Santos.
Orçada em R$ 676.575,80, a obra está sendo executada pela empresa JWA Construções,
devendo ser concluída até o final do ano. Todo o sistema de drenagem está sendo refeito, bem com os sistemas hidráulico e elétrico.
Alguns muros que não faziam parte da paisagem original foram removidos. O jardim da
entrada também será ampliado e terá as mesmas características do que existia na época da inauguração da obra.
O prédio ocupa um terreno de cerca de 3 mil metros quadrados, sendo 1.811 metros
quadrados de área construída. Com o passar dos anos, foram feitas ampliações nas laterais sem, contudo, afetar a estrutura do prédio original, que
agora está sendo recuperada pelo Governo do Estado.
A fachada conserva as colunas de sustentação, inspiradas nos templos maçônicos,
contendo na parte superior símbolos ligados à Educação esculpidos em alto relevo: um globo terrestre, um compasso e um livro.
Entre as melhorias realizadas, destacam-se a implantação de um auditório para
videoconferência com capacidade para 300 pessoas e duas salas de capacitação técnico-pedagógica, que contam com 30 computadores cada, utilizadas
para a formação de alunos-monitores da rede estadual e pelos professores.
De acordo com a diretora regional de Ensino, Oneide Ferraz Alves, a proposta de
ocupação do antigo prédio consiste em tornar o imóvel um centro de referência pedagógica. "São mais de 80 mil alunos sob esta jurisdição, incluindo
cinco cidades (São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe). E as redes escolares desses municípios também usam esta infraestrutura.
Aqui não são realizados apenas trabalhos burocráticos".
Apesar de cumprir essa função de apoio técnico-pedagógico, é cada vez maior o
interesse de moradores antigos de São Vicente e das cidades vizinhas pelo prédio do Grupão. Segundo Oneide, embora não haja um plano de visitação
pública definido, na prática ela já ocorre.
"Recentemente, em um sábado, durante uma reunião de trabalho, percebi um grupo de
pessoas tirando fotos na frente do prédio. Eles disseram que familiares haviam estudado na escola e que gostariam de tirar uma foto de recordação.
Há aquele sentimento de orgulho pelo fato de o local onde passaram um rico período da infância ter sido preservado", assinalou a diretora.
Apesar de ainda não ser tombado pelos órgãos de defesa do Patrimônio Histórico, Oneide
garante que eles estão sendo informados sobre os serviços realizados.
Para marcar a inauguração da obra, a Diretoria Regional está preparando uma série de
eventos, incluindo uma exposição com fotos antigas que mostram as várias fases da unidade, uma das mais tradicionais da Baixada Santista.
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Colégio é motivo de orgulho para a comunidade
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Primeira denominação foi Escola do Povo
A história do Grupão começou no dia 10 de junho de 1893, no armazém de secos e
molhados do capitão Antão Alves de Moura, onde um grupo de cidadãos vicentinos decidiu fundar a Escola do Povo. A maioria pertencia à Loja
Fraternidade de Santos, que auxiliou no trabalho de construção do prédio.
A unidade chegou a funcionar provisoriamente na Praça João Pessoa (antigamente
conhecida como Largo Batista Pereira) e na Rua XV de Novembro, antes de se transferir definitivamente para a Praça Coronel Lopes, em 1898.
Em 1913, a Escola do Povo passou a ser administrada pelo Governo do Estado, que
resolveu ampliá-la, construindo um prédio em forma de U, dando fundos para a Avenida Padre Anchieta. Passou a ser denominada, então, Primeiro Grupo
Escolar de São Vicente, com oito classes.
Em 20 de dezembro de 1979, o Estado mudou mais uma vez a denominação, agora para
Escola Estadual de Primeiro Grau Ziná de Castro Bicudo, que permaneceu até a desativação do imóvel como unidade escolar, há cerca de três anos,
passando a ser ocupado pela Diretoria Regional de Ensino.
A desativação da escola foi justificada pelos investimentos realizados pelo Estado em
São Vicente, que ampliou a rede escolar em vários bairros.
Ocupação do local causa polêmica
A diretora regional de Ensino, Oneide Ferraz Alves, prefere não alimentar a polêmica
em torno da proposta do vereador Alfredo Moura (PPS) de repassar o prédio ao Município, para implantação de um centro cultural. Ela lembra que o
imóvel está sob a administração do Estado há mais de 80 anos.
Moura chegou a encaminhar ofícios às secretarias de Estado da Educação e Cultura, com
este objetivo. O presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente (IHGSV), Fernando Lichti, também se mostrou favorável à iniciativa e
sugeriu até a reativação de cursos escolares, desta vez voltados ao ensino supletivo.
Sem intenção de fomentar essa discussão, a diretora regional fez um convite aos
segmentos da comunidade interessados no assunto para que conheçam o trabalho que vem sendo realizado no local.
"A obra de reforma e restauração do Grupão reafirma o compromisso do Estado de
preservar este Patrimônio Histórico, que pertence não só a São Vicente, mas à memória do Ensino da Baixada Santista. Considero este o local mais
adequado para sediar a Diretoria Regional", disse Oneide. |