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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MADEIRENSES
Madeirenses em Santos (3-C)

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Quando habitantes da montanhosa ilha da Madeira resolveram migrar para o Brasil, encontraram na região de Santos um dos melhores lugares, a começar pelo nome da ilha, São Vicente, que recordava localidade homônima em seu arquipélago do meio do Atlântico. Além disso, ilustres patrícios já os antecederam, trazendo na bagagem os instrumentos e as técnicas para a usinagem do açúcar e o preparo do vinho, além de atuarem como entreposto no comércio entre Brasil e Portugal.

E, em Santos, as encostas dos morros lembraram também sua montanhosa terra natal. Em terras santistas, a colônia madeirense ficou conhecida por suas festas e pelas bordadeiras, que continuaram em terras brasileiras as técnicas ancestrais que deram fama à sua ilha.

Esse é o tema de um livrete editado em 1992 pela Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Santos, com apoio da Comissão Municipal de Folclore e Artesanato, em trabalho escrito por Francisco Ribeiro do Nacimento, com ilustrações de Lauro Freire, capa de Eugênio Lara e fotos do arquivo do Diário Oficial/D.O.Urgente, Casa do Folclore, Assessoria de Comunicação/PMC e Tadeu Nascimento:

BORDADOS DA MADEIRA NOS MORROS DE SANTOS [3]
Projeto de resgate

Juntamente com o professor Albino Luiz Caldas, iniciamos em 1982 o trabalho de resgate dessa manifestação cultural, mas o conceituado folclorista veio a falecer subitamente a 19 de março de 1984. Nesses dois anos, subíamos juntos o Morro de São Bento e após as missas dominicais vespertinas, promovíamos palestras informais com a comunidade, salientando a importância da preservação do artesanato executado pelas bordadeiras. Para isso, sempre contamos com o apoio e a colaboração do Padre José Maria Lázaro Zugazaga, pároco da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, padroeira do Morro de São Bento.

Por diversas vezes, sugerimos a necessidade das bordadeiras se organizarem numa associação ou em uma Cooperativa de Trabalho. Isso possibilitaria a constituição de um grupo autônomo, que venderia seus trabalhos diretamente ao consumidor, eliminando, assim, os atravessadores.

Após esses dois anos, tivemos a satisfação de promover a primeira reunião nas dependências da Igreja. Isso aconteceu no dia 5 de abril de 1984. Conseguimos reunir na ocasião 15 bordadeiras portuguesas e brasileiras. Nessa oportunidade, reverenciamos a memória do professor Albino Luiz Caldas, fundador da Casa do Folclore de Santos, em 16/10/78, e idealizador do projeto em desenvolvimento.

Reestruturada a Entidade, no dia 9 de junho de 1984, passou a denominar-se Casa do Folclore "Professor Albino Luiz Caldas", ainda em memória daquele que durante anos dedicou sua vida na convicção de que: "Do fundo das imperfeições de tudo quanto o povo faz,/vem uma força, uma necessidade, que em arte, equivale/ao que é a fé em religião/Isso é que pode/mudar o pouso das montanhas". (Poema de Mário de Andrade).


Nesta igreja (N. Sra. da Assunção), no Morro do São Bento, o início das primeiras reuniões

"Cidadão emérito"

Ana Maria Sachetto, editora de Artes de A Tribuna, edição de 26/3/84, p. 16, sob o título "Uma Perda. Mas muita fé em nossa cidade", escreveu:

"Estava acostumada a vê-lo sentado à minha frente, tranqüilo falando sempre com muito amor das coisas do Folclore e, principalmente, das belezas da cultura santista... o professor Albino não era homem de desanimar. Se o dia era de tristeza e mágoa, era certo que dali a algum tempo viria o dia de fé, de entusiasmo e de confiança..."

Rubens Lara, na justificativa apresentada ao projeto de lei nº 398 em 20/6/84, à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, denominando "Prof. Albino Luiz Caldas" a Escola de 1º Grau Conjunto Humaitá, do município de São Vicente, diz: "Interessou-se especialmente pelo Folclore Santista, que conhecia profundamente... Infelizmente as autoridades responsáveis do Município não foram sensibilizadas pelo seu trabalho".

Alcindo Gonçalves, em discurso proferido dia 10 de agosto de 1984, no salão nobre da Câmara Municipal, na sessão solene de entrega à família do Prof. Albino Luiz Caldas do título de "Cidadão Emérito de Santos", "post mortem", conferido pelo Decreto Legislativo nº 06/84, de sua autoria, afirmou: "No fundo, creio que o professor Albino, em seu trabalho permanente, imaginava uma sociedade onde, destruídas as diferenças entre os homens, a oposição entre cultura erudita e cultura popular desse lugar a uma cultura humana, alguma coisa, como modo de sentir, pensar e agir de todos, expressasse finalmente a descoberta de um mundo solidário."


O conhecimento e a dedicação do prof. Albino Luiz Caldas foram de grande valia para o surgimento do projeto de resgate do artesanato madeirense

Perfil

Professor e estudioso do Folclore da Baixada Santista, Albino Luiz Caldas foi uma pessoa integralmente voltada ao ensino de seus conhecimentos aos jovens de sua terra. Filho de dona Maria do Carmo e do senhor Manoel Luiz Caldas, ele nasceu em Santos, a 9 de maio de 1921.

Iniciou seus estudos primários no Grupo Escolar Municipal "Olavo Bilac", concluindo-os em 1931, desenvolvendo em seguida o curso ginasial no Ginásio "Tarquínio Silva". Na mesma escola, formou-se Contador em 1937. Outros cursos acadêmicos e de especialização completaram sua formação e a presença sempre humana no trato das coisas ligadas à Cidade.

Aposentado em 1970, com a mesma desenvoltura e acuidade iniciou o curso de Estudos Sociais na Faculdade de Ciências Humanas "Laerte de Carvalho", do Ceuban, formando-se professor. Nesse período, teve como professora Laura Della Mônica, que muito contribuiu para que Albino Luiz Caldas abraçasse o estudo e a pesquisa do Folclore. Formou uma considerável bibliografia sobre o assunto e um acervo variado e riquíssimo que, após o seu falecimento, foi cedido, sob condições, à Universidade Católica de Santos. O Departamento de História do Ceuban organizou o Centro de Estudos Folclóricos "Prof. Albino Luiz Caldas", aberto ao público.

O brilhante historiador realizou muitos projetos visando dar expressão aos costumes regionais, promovendo festivais folclóricos, inclusive o "Mutirão do Folclore" de Santos, em 1982. Lecionou na cadeira de Folclore na Ceuban e Estudos Sociais, Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil e História, na Escola Estadual "Malachias de Oliveira" e Escola Estadual "Canadá".

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