BORDADOS DA MADEIRA NOS MORROS DE SANTOS [4]
Nova etapa
A 27 de outubro de 1984, no recinto da Igreja de Nossa Senhora Assunção, iniciamos, com a presença de um técnico da Secretaria de
Estado da Promoção Social, Gisela Ione dos Santos, nova etapa do projeto: visamos não só a preservação do bordado como traço da cultura portuguesa,
mas também como uma atividade produtiva para geração de renda.
Nessa ocasião, as bordadeiras puderam expor suas dificuldades, falta de recursos para
aquisição de material como tecido e linha, poucas perspectivas a curto prazo, e venda dos produtos.
Desse encontro resultou a concessão de uma pequena verba do Estado, destinada à compra
dos materiais, possibilitando assim a primeira exposição e venda dos bordados na "Casa da Madeira", fundada em 15 de abril de 1934, com a
denominação de Centro Beneficente da Madeira.
A partir daí, após efetuadas as vendas nas exposições levadas a clubes, hotéis e
outros locais, o valor destinado à compra dos materiais retornou, constituindo-se num Fundo de Participação, administrado pelas próprias
bordadeiras.
O projeto está restrito à União das Bordadeiras do Morro de São Bento, com nove
artesãs efetivas na faixa etária de 24 a 65 anos, sendo 70% naturais da Ilha da Madeira; 30% suas descendentes, e brasileiras. Trata-se de um
embrião que deverá crescer com o apoio da sociedade e do Governo.
Um fato que merece destaque: em 27 de outubro de 1984, uma das bordadeiras fez a
seguinte indagação: "Qual o nome que devemos dar à nossa roda?" Dessa simples pergunta, surgiu a denominação da "União das Bordadeiras do Morro São
Bento".
Desse momento em diante, os coordenadores do projeto sentiram que a organização das
bordadeiras estava se efetivando. Havia já uma conscientização do grupo em relação à validade das propostas de trabalho. A Casa do Folclore
"Professor Albino Luiz Caldas" tem cadastradas 60 bordadeiras, residentes no morro, mas há um levantamento informando que elas ultrapassam a 100.
Muitas, no início, não acreditaram no projeto. Outros tantos aguardam uma oportunidade para participarem do grupo, ou da constituição de novos
núcleos. Enquanto isso, continuam trabalhando para os intermediários.
Das bordadeiras cadastradas, 36 são da Ilha da Madeira e 24 são brasileiras. É
interessante notar que do grupo das 24 se incluem algumas não descendentes de madeirenses. Apenas uma aprendeu o ofício em curso profissionalizante,
em colégio religioso. As demais no processo de aculturação das comunidades dos morros.
A União das Bordadeiras reúne-se sempre que necessário. Todas as atividades são
discutidas, desde as mais simples, como: preço das peças, o que vende mais, até as mais complexas como a realização de mostras.
Foram realizadas 19 exposições com vendas, num total de 41 dias, obtendo-se resultados
satisfatórios: uma, em 1984, na casa da Madeira; 15, de 1985 a 1989, no Ilha Porchat Clube; três em 1987 e 1988, no Parque Balneário Hotel; e uma,
1989, no Clube Internacional de Regatas.
Em 1986, a Casa do Folclore "Prof. Albino Luiz Caldas" conseguiu a cessão de uma sala
na Sociedade União Portuguesa, para funcionar como sede da entidade, exposições e realizações de cursos.
As bordadeiras participam desde 1984, no mês de agosto, do Mutirão do Folclore de
Santos. Além de expor e vender seus trabalhos, ensinam a técnica deste artesanato aos alunos das redes de ensino do Município e do Estado, nas
Oficinas de Trabalho (Folclore na Educação) instaladas nesse evento oficializado pela Prefeitura Municipal de Santos.
Também desde 1984, no mês de dezembro, são convidadas para expor seu artesanato na
festa de aniversário do Museu de Arte Sacra de Santos, nas Universidades Unisantos, Uniceb e na Factur da Aelis.
O projeto em foco contou também em 1985 com apoio técnico de uma assistente social da
ASPE - Associação Promocional Educativa, da Diocese de Santos, em atividade no Morro de São Bento.
D. Maria Paixão de Abreu, entusiasta no trabalho de aglutinação das bordadeiras
através de uma entidade específica
A Secretaria da Promoção Social e a Casa do Folclore "Prof. Albino Luiz Caldas"
apresentaram em dezembro de 1986, à Secretaria de Relações de Trabalho, os projetos: Oficina de Trabalhos - Bordados da Ilha da Madeira - Morro São
Bento e Curso de Bordados, aberto à comunidade do morro, numa tentativa de aliar a preservação da cultura e a conscientização do associativismo.
Aprovados os projetos propostos, em maio de 1987, realizou-se a Oficina de Trabalho,
tendo a União das Bordadeiras (em organização) recebido verba para compra de materiais necessários à confecção de peças bordadas. Após a venda em
exposições, o resultado obtido, menos o custo da mão-de-obra das artesãs, passou a constituir-se em um Fundo de Participação.
E no período de 23 de novembro a 18 de dezembro de 1987 realizou-se, em convênio com o
Projeto de Geração de Renda, programa de aperfeiçoamento de mão-de-obra, o curso de bordados a 30 alunas, adolescentes e adultas, com carga horária
de 80 horas, com currículo de: confecção de pano de amostras: pontos básicos (haste, boinha, cheio, matiz, areia, caseado, ponto aberto, cordão
crivo) e arremate com pontos: Paris e Rolitê.
Foram entregues certificados, a todas, emitidos pela Secretaria de Relações de
Trabalho, em solenidade com a apresentação das peças, em conjunto com a exposição e venda, promovida pela União das Bordadeiras, dias 16 e 17 de
julho de 1988, no Ilha Porchat Clube, com as presenças dos diretores e técnicos dos órgãos e entidades envolvidas no projeto.
Assim, em 1989, os componentes da União das Bordadeiras se constituíram num grupo
autônomo, detendo os seus próprios meios de produção e colocando os trabalhos diretamente no mercado.
Portanto, atingiram os objetivos propostos. Diz dona Maria Paixão de Abreu,
uma das artesãs, nascida em 29 de março de 1928, na Ilha da Madeira: "Esse trabalho da União deveria ter começado há mais tempo. Passamos muitos
anos trabalhando para fábricas, com remuneração baixíssima. Agora não. Vendemos nossa produção, a preço razoável, diretamente aos interessados.
Antes, por causa desse baixo retorno financeiro, não tínhamos nem o apoio de nossas famílias para nos dedicarmos aos bordados. Nem nossas filhas
queriam aprender a técnica. Com a União das Bordadeiras, tanto nós, como os compradores, fomos beneficiados. Nós recebemos mais, e o comprador,
certamente, compra mais barato, pois no sistema anterior quem lucrava mesmo eram as fábricas". (1) |