VISTA PRIVILEGIADA - Localizado em cima do Túnel Rubens Ferreira Martins, o Morro do Fontana é
uma ilha de tranqüilidade no centro de Santos
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 27/9/2010. Foto de Walter Mello
O movimento da cidade aos seus pés
Ocupado desde o final dos anos 20, o morro fica em cima do túnel Rubens
Ferreira Martins, local de intensa movimentação de veículos
Luiz Gomes Otero
Da Redação
Você acha possível ter uma vida tranqüila,
sem a correria dos grandes centros, morando sob[re] um ponto que
recebe grande parte do movimento diário de veículos da Cidade? Pois essa é a realidade de quem mora no Morro do Fontana, onde na parte baixa foi
construído o Túnel Rubens Ferreira Martins, que concentra boa parte do tráfego de veículos que se desloca entre o
Centro e outros bairros.
A ocupação do morro, que está situado ao lado de outras elevações como o Monte Serrat e o Morro
do São Bento, começou no final dos anos 20, com os portugueses. O historiador José Dionísio de Almeida, da Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS),
explica que a Cidade vivia um processo de transformação, motivado pelos problemas sanitários.
Parte dos moradores do Valongo migrou para
o Paquetá e a Vila Nova. Uma outra parcela começou a residir nos morros, incluindo os do São Bento e do Fontana. Na década de 40, a área passou a
ser ocupada de forma efetiva, dentro do processo de expansão e formação de novos bairros.
O nome Fontana é atribuído ao comerciante Benjamin Fontana, de origem italiana, que adquiriu
terras no morro e em seus arredores, instalando ali sua residência e mantendo negócios em várias partes da Cidade.
Essa denominação, no entanto, é motivo de controvérsia. Há quem ainda chame parte da área de
Morro do Bufo, muito embora o Plano Diretor aprovado em 1998 não reconheça esse nome na lista oficial de bairros do
Município.
O livro História de Santos, de Francisco Martins dos Santos, cita que Bufo era o nome
dado ao local antes de se chamar Fontana. Porém, a Prefeitura não tinha esse nome (Bufo) como referência oficial. Até
1968, os morros não eram reconhecidos como bairros, muito embora já estivessem organizados dessa forma.
Na nova lei de abairramento, os morros foram incluídos. Mas o do Fontana ficou descrito somente
dessa forma.
José Dionísio de Almeida também não encontrou elementos históricos que indiquem a origem do nome
Bufo. "Como Fontana, já há elementos que indicam essa denominação".
Um deles está na Gruta do Fontana, onde é guardada a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. Nesse
local, construído em 1935, são feitas correntes de orações e até já foram celebradas missas. O espaço foi restaurado em 2000 pela Prefeitura.
Com pouco mis de 800 habitantes, o Morro do Fontana tem nítida vocação residencial, dispondo de
poucos estabelecimentos comerciais
Foto: Walter Mello, publicada com a
matéria
Características - O Fontana é um dos menores morros da Cidade. Sua superfície soma 72.573
metros quadrados, área delimitada pelas seguintes vias: Elevado Aristides Bastos Machado; Escadaria Santa Marta (aproximado); Rua São Miguel
(aproximado); Rua São Caetano (aproximado); Avenida São Cristóvão; Rua Professor Celso da Cunha Alves (aproximado); Rua Nossa Senhora de Lourdes;
Rua Santa Marina; Avenida Nossa Senhora do Monte Serrat; e Travessa Santa Casa.
Não há um comércio estabelecido no bairro. Alguns bares localizados no chamado Largo São Cosme e
Damião são a única referência para as pessoas que buscam algum tipo de produto. Fora isso, é preciso recorrer ao comércio do Morro do São Bento e
do Jabaquara. O mesmo vale para os equipamentos públicos de saúde.
A população é estimada em pouco mais de 800 habitantes, de acordo com o Censo IBGE de 2000.
Porém, basta uma volta pelo morro para perceber que essa conta pode estar errada, já que o número de moradias é significativo. Os dados
atualizados serão conhecidos no levantamento que o instituto realiza atualmente.
TRADIÇÃO MANTIDA - Celso Alves Capella reside na casa construída por seu avô no Morro do Fontana
e conseguiu continuar trabalhando no comércio, mantendo uma lanchonete perto de sua residência. Dessa forma, permanece colocando o nome da família
como referência no bairro
Foto: Walter Mello, publicada com a
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Família Capella é referência no local
A família Capella é uma das mais tradicionais do Morro do Fontana. No passado, manteve uma
intensa atividade no comércio de revenda de produtos elétricos na parte baixa da Cidade.
Dono de uma lanchonete no Largo São Cosme e Damião, Celso Alves Capella, de 67 anos, lembra dos
tempos áureos da família no comércio. "Era uma potência. Mais de 90 funcionários trabalhavam na Casa Capella".
Ele afirma que, no passado, a vida no morro era melhor. "Era um tempo diferente do que vemos
hoje. Havia mais união. Hoje em dia, as pessoas estão mais individualistas, mesmo aqui em cima da Cidade".
A casa onde reside há 11 anos foi construída por seu avô, que trabalhou como estivador no Porto
de Santos, no serviço de carregamento de sacas de café para os navios.
"Ele construiu essa casa com as próprias mãos. Tenho um armário que está aqui há 90 anos. É uma
casa com uma história muito presente e forte. Tenho orgulho de morar aqui e ajudar a perpetuar essa memória".
Apesar de residir há pouco tempo no Morro do Fontana, Capella explica que já freqüentava o local
na infância. "Eu lembro de como o morro era antes. Não tinha essa quantidade de casas que vemos hoje. Era bem mais tranqüilo".
Quem freqüenta sua lanchonete costuma reclamar da falta de serviços públicos no bairro. "Aqui
precisava, pelo menos, de um creche", afirmou o comerciante.
Apesar de ficar em cima do túnel, o morro mantém a tranqüilidade
Foto: Walter Mello, publicada com a
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Comunidade cobra mais serviços
Depender dos serviços oferecidos em bairros vizinhos é uma das maiores dificuldades enfrentadas
pelos moradores do Morro do Fontana. Em que pese o fato de algumas melhorias terem sido feitas nas escadarias e nos acessos viários, o bairro
ainda não conta com estabelecimentos essenciais, como farmácia e uma unidade da rede de saúde pública.
A alternativa da população é se deslocar para o Jabaquara ou o Morro do São Bento, dependendo da
localização da moradia.
"Acho que merecemos um atenção maior, principalmente na questão do transporte coletivo. As
lotações poderiam chegar mais próximo de nosso núcleo", disse a moradora Rosali Oliveira de Souza, de 71 anos.
A irmã de Rosali, Marli de Oliveira Lima, de 70 anos, é uma figura bastante conhecida dos
moradores, por liderar vários movimentos em prol da comunidade.
"Em época de eleição, todo mundo promete um milhão de coisas, mas a maioria não cumpre nem 1% do
que fala. Toda vez é a mesma história", disse Marli.
Como exemplo, ela cita o caso da creche não instalada. "Essa é uma reivindicação antiga. Até
hoje, nenhum governo conseguiu torná-la realidade".
As duas irmãs reclamam também dos poucos estabelecimentos comerciais no bairro. "Pelo menos uma
farmácia, a gente precisava ter aqui", ponderou Rosali.
A Prefeitura mantém um espaço de lazer no sopé do morro, ao lado do Túnel Rubens Ferreira
Martins, denominado Recanto Vereador Noé de Carvalho, que conta com uma quadra de futebol e mesas de alvenaria.
Para ao próximo ano, no bairro, estão previstos serviços de pavimentação e melhorias na Avenida
Nossa Senhora do Monte Serrat e na Rua Rubião Júnior.
Personagens
Marco
Antonio da Silva - 64 anos:
Morador do Morro do Fontana há mais de 40 anos, Marco Antonio guarda um documento precioso: o
registro do antigo Bloco Carnavalesco Boêmios, que reunia moradores dos morros e adjacências. O bloco foi fundado em 9 de novembro de 1939 e
obteve a inscrição municipal da Prefeitura em maio de 1960. "Esse bloco foi uma parte da história do Carnaval santista".
Foto: Walter Mello, publicada com a
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Marli
de Oliveira Lima - 70 anos:
Nascida e criada no Morro do Fontana, Marli é uma pessoa atuante e sempre envolvida com os
assuntos referentes à comunidade. Segundo ela, o bairro ainda se ressente da falta de serviços básicos, para os moradores não ficarem na
dependência dos núcleos vizinhos. "Precisamos, principalmente, de um posto de saúde e de uma creche para atender quem mora aqui"
Foto: Walter Mello, publicada com a
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