OUTEIRINHOS, UM BAIRRO EM TRANSFORMAÇÃO - Marcado pela expansão da atividade portuária, o Outeirinhos é um bairro que vive em constante processo de transformação. Essa parte da Cidade se originou de uma antiga propriedade da família de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência. A região é classificada dentro da Zona Portuária Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 20/9/2010

Em constante transformação

Parte da cidade, antiga propriedade de José Bonifácio de Andrada e Silva, contava com pequenos morros, daí seu nome

Luiz Gomes Otero

Da Redação

Um bairro que vive um constante processo de transformação, marcada pela expansão da atividade portuária. E que continua mantendo essa tendência, demonstrada através das grandes obras no sistema viário e novas adequações e ampliações de sua infra-estrutura.

Assim pode ser descrita a situação do bairro Outeirinhos, que tinha uma realidade bem diferente da que vemos hoje, no passado.

O historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos, José Dionísio de Almeida, informa que o bairro se originou de uma antiga propriedade da família de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência. E sua paisagem era bem diferente da que vemos hoje.

"Essa parte da Cidade contava com pequenos morros. Daí o motivo do nome Outeirinhos, que significa exatamente isso, ou seja, pequenos montes e colinas. Com o passar do tempo, a paisagem foi modificada. Os morros foram demolidos e suas pedras usadas na pavimentação e aterro da faixa portuária, que se expandiu no final do século 19", assinalou Almeida.

No local há poucas referências ao núcleo conhecido como Outeirinhos, embora ele seja reconhecido pela Prefeitura como um bairro. O Censo do IBGE de 2000 não identificou habitantes no bairro, que é classificado dentro da Zona Portuária, conforme indica o Plano Diretor do Município de 1998.

A Prefeitura adianta que não pretende alterar essa classificação para o bairro no processo de revisão do Plano Diretor.

Talvez a única referência ao nome do bairro seja a Praça dos Outeirinhos, onde está a imagem de Nossa Senhora de Fátima. O monumento foi inaugurado em dezembro de 1951 e é objeto de devoção dos portuários, que têm a santa como padroeira oficial do Porto.

Fora isso, não há placas indicando a sua delimitação, que é estabelecida pela Prefeitura pelas seguintes vias: Praça Silvério de Souza, Rua João Octávio, Avenida Cidade de Santos, Rua Manoel Tourinho, Rua Xavier Pinheiro, Avenida Senador Dantas, Rua João Guerra, Rua Conselheiro João Alfredo, Rua Conselheiro Rodrigues Alves, Canal do Estuário.

A área total do bairro é de 926.573 m². E passa novamente por uma profunda transformação em seu sistema viário, por conta das obras da Avenida Perimetral executadas pelo Governo Federal, que visam facilitar o acesso ao Terminal Turístico de Passageiros Giusfredo Santini (Concais) e para todo o complexo portuário.

O projeto contempla a implantação de pistas de entrada e saída, cada uma com 10,5 metros de largura, com três faixas de rolamento, separadas por canteiro central de 1,5 metro, dois viadutos e acessos aos terminais. São, no total, seis quilômetros de vias, desde a Praça Barão do Rio Branco, no Centro, até o Canal 4, no Macuco.

Essa obra também mostra um paradoxo curioso: o bairro recebe investimentos do Governo Federal mesmo sem ter um único morador reconhecido pelo IBGE na área. Uma prova de sua importância estratégica para a expansão do Porto de Santos.

Bairro passa por mudança viária com as obras da Avenida Perimetral, que visam facilitar o acesso ao Terminal Turístico de Passageiros e a todo o complexo portuário

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Expansão

Localizado no antigo Armazém 25, o Terminal Turístico de Passageiros Giusfredo Santini (Concais) vive um momento de expansão em sua estrutura, que ocupa boa parte do bairro Outeirinhos. Serão investidos cerca de R$ 17 milhões até 2012. Na prática, o complexo será ampliado em 60%, tornando as operações mais ágeis e garantindo um conforto maior ao turista.

O investimento foi dimensionado para atender o pico de transatlânticos. Por dia, até seis navios podem atracar no complexo. Um dos pontos que será ampliado é o estacionamento de veículos, que atualmente tem capacidade para 400 veículos. A idéia é elevar o número de vagas para 1 mil. A previsão é que o número de passageiros aumente ainda mais para a temporada 2010/2011, quando são esperados 1 milhão e 95 mil passageiros, um crescimento de 12% em relação à temporada anterior.

Com uma área de operação no Porto de Santos de 37,5 mil m², na área interna de 19,5 mil m², o Terminal dispõe de sete salões, sendo um para recepção e seis para espera, check-in, embarque e desembarque de passageiros e tripulantes, utilizados de acordo com o movimento de passageiros.

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Praça em reforma

A Praça dos Outeirinhos também será remodelada em função da obra da Avenida Perimetral. A informação foi confirmada pelo secretário municipal de Assuntos Portuários, Sérgio Aquino, que também preside o Conselho de Autoridades Portuárias (CAP).

A Prefeitura vai discutir o projeto de remodelação da praça com a Companhia Docas do Estado [de São Paulo] (Codesp). É provável que o monumento da santa seja relocado para outro ponto próximo da área. "Ainda não debatemos isso. Mas isso será feito em momento oportuno, conforme os trabalhos avançarem", disse Aquino.

O secretário ressalta que Outeirinhos tem uma importância estratégica, pois além de dar acesso ao Terminal de Passageiros, será rota de passagem para a carga e descarga do Porto. "Como no passado, essa área continua sendo importante para a atividade portuária. Não há como mudar essa realidade daquela área", concluiu o secretário.

Referência da região está com os dias contados

Uma referência importante do bairro está com os dias contados. Trata-se da Lanchonete Outeirinhos, localizada próxima do Terminal Turístico de Passageiros Giusfredo Santini, que será demolida para dar lugar ao novo complexo viário que está sendo construído na área.

Atualmente Romero Ângelo de Medeiros e Marcelo de Paula Brasil estão mantendo o local funcionando, atendendo o público que passa pela faixa portuária.

O estabelecimento já existe há cerca de 40 anos. Não há como precisar uma data de sua inauguração. Mas muitos freqüentadores antigos lembram que ao lado da lanchonete ficava o mural onde os estivadores vinham acompanhar a escala do serviço no Porto.

"Não somos dessa época e não podemos afirmar se isso aconteceu ou não. Mas muitos que vêm aqui garantem ter vivenciado isso. O que percebemos é que há uma certa identificação do trabalhador com esse local", assinalou Medeiros.

Muitos afirmam ter tomado o café da manhã antes de pegar no batente. "Até falam que funcionárias antigas da lanchonete se casaram com trabalhadores do Porto", comentou Medeiros.

Porém, essa realidade está prestes a desaparecer para dar lugar à expansão do sistema viário. É o progresso, que vem como uma espécie de roda viva, levando a memória de um tempo que não volta mais.

Lanchonete Outeirinhos

Marcelo de Paula Brasil e Romero Angelo de Medeiros - 51 anos e 36 anos

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Os dois funcionários da Lanchonete Outeirinhos permanecerão no local até o dia 24, data prevista para o início da demolição do imóvel do estabelecimento. Eles contam que ouvem diariamente histórias a respeito do passado do local e demonstrações de carinho para com a lanchonete, que foi referência no bairro.

Marcelo de Paula Brasil explicou que o atual proprietário da lanchonete recebeu uma proposta para transferir seu estabelecimento para outro ponto. "Estamos aguardando ainda a definição dessa negociação. Certo mesmo por enquanto é que estaremos encerrando o atendimento aqui no dia 24".

Nova perspectiva - Já para quem trabalha no entorno de Outeirinhos, a perspectiva começa a melhorar, conforme avançam as obras de construção da avenida perimetral.

É o caso do Bar do Timóteo, onde o proprietário, Reinaldo Timóteo, já providenciou a confecção de uma faixa para que o público possa visualizar o seu estabelecimento, que fica bem no início da Rua João Guerra.

A demolição de um muro da via permitiu que o bar ficasse mais visível. "Estamos apostando no aumento do movimento. Estou muito confiante", disse o comerciante.