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NO MORRO DO PACHECO, A SIMPLICIDADE QUE RESISTE
- Quase não existem mais os antigos chalés de madeira em estilo português construídos nos anos 20 e 30. Agora, casas de alvenaria tomam
conta do local. O bairro, um dos mais aprazíveis de Santos, acompanhou a evolução urbana da Cidade. Mas o Morro do Pacheco não perdeu sua
característica principal: a tranqüilidade
Imagem: reprodução parcial da primeira página de
A Tribuna de 4/10/2010 |
Pacheco preserva simplicidade
Num dos morros mais tranqüilos da Cidade, a ocupação começou nos anos 20 com
os chalés construídos pelos imigrantes portugueses
Luiz Gomes Otero
Da Redação
Os
antigos chalés de madeira em estilo português, construídos nos anos 20 e 30, deram lugar às casas
de alvenaria. Mas a tranqüilidade ainda é a principal característica de quem mora no Morro do Pacheco, um dos bairros mais aprazíveis de Santos,
que acompanhou a evolução urbana da Cidade.
O historiador Waldir Rueda explica que o local era conhecido inicialmente como a Chácara do
Barreiro. Posteriormente, passou a ser chamado de Caminho do Pacheco, sobrenome de um cidadão português que comprou muitas terras em leilão
público. Na época, a prática era comum por conta dos terrenos bem baratos.
No início, os habitantes eram basicamente pessoas simples e trabalhadoras, de origem portuguesa,
em sua maioria. Por muitos anos, vários moradores faziam festas e cantavam músicas regionais da Ilha da Madeira. Essas comemorações eram bem
animadas.
A partir de 1940, houve um completa transformação na população dos morros. "O Pacheco recebeu
muitos migrantes de outros estados, a maioria do Nordeste, que permanecem morando lá até hoje e se estabeleceram financeiramente".
Esses novos habitantes acabaram sendo empregados nos trabalhos do porto, dos armazéns de café e
na construção civil, entre outros segmentos.
Um detalhe que chama a atenção, de acordo com Rueda, é o fato de a maioria ser proprietária dos
imóveis. "Aquela imagem de periferia não combina com o Morro do Pacheco. As pessoas podem até ter uma origem humilde, mas mantiveram suas posses
até hoje".
A área total do bairro é de 129.818,30 m², mas a sua delimitação é bastante irregular, pois não
segue exatamente o sistema viário. Ela é considerada da seguinte forma: Avenida Martins Fontes; Corredor 3, Rua O, Rua N, Rua H, Rua 4, Sítio
Anastácio e Rua Visconde de Embaré.
A entrada mais importante do morro, com portal em forma de arco, tornou-se uma referência para
todos
Foto: Paulo Freitas, publicada com a
matéria
A pedra vai cair? - O Morro do Pacheco tem algumas lendas curiosas criadas pelos
moradores mais antigos. uma delas é a da Pedrona, uma rocha localizada no alto do morro, cuja posição dava a impressão de que cairia a qualquer
momento.
"No entanto, a pedra continua lá, no mesmo lugar. Isso não passou de um boato que acabou se
tornando um mito no bairro", assinalou Rueda.
Outro ponto curioso lembrado foi o do Chapadão do Cruzeiro, que na verdade não tem nenhum
cruzeiro lá. O local ficou famoso porque alguns moradores chegaram a colocar uma cruz de madeira no local, que depois desapareceu.
Houve também uma história curiosa de um misterioso tesouro que estaria escondido dentro de um
túnel. "Houve tentativas de se encontrar o talo tesouro, mas ele nunca apareceu de fato. Era apenas mais uma lenda em torno do Morro do Pacheco".
O ex-prefeito e ex-vereador de Santos, Paulo Gomes Barbosa, viveu dos
2 aos 23 anos no morro. A casa onde a sua família residiu permanece no local até hoje. O imóvel abriga a Fundação Paulo Gomes Barbosa (Pagoba),
entidade fundada pelos seus cinco filhos (Paulo Alexandre, Paulo Eduardo, Cristine, Adriane e Rosane), em 5 de dezembro de 2003, em homenagem ao
pai.
Sem fins lucrativos, a entidade desenvolve cinco eixos de trabalho: a educação, a cultura, o
esporte, a saúde e a geração de renda, em parceria com instituições públicas e privadas.
Moradores |
2.167 habitantes
é a população estimada do Morro do Pacheco |
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MIRANTE/TURISMO - No final da Rua Oito, o visitante tem uma vista privilegiada da Cidade,
inclusive de parte do Centro Histórico. Há quem defenda a construção de um posto de visitação turística no local
Foto: Paulo Freitas, publicada com a
matéria
Comunidade reivindica mais melhorias
Quem mora no Morro do Pacheco há mais de 30 anos lembra bem como era a realidade do bairro
décadas atrás. Escadarias íngremes sem acabamento e ruas com terra batida, ao invés do asfalto, dificultavam o acesso até as moradias.
A área era basicamente formada por bananais, que desapareceram à medida em que o núcleo foi
evoluindo no setor habitacional. A banana cultivada ali era comercializada no morro e fora dele, na parte baixa da Cidade.
Assim como ocorre em outros morros, o do Pacheco se ressente da falta de serviços públicos e de
um comércio mais ativo. Por conta disso, os moradores acabam tendo que se deslocar para os bairros vizinhos.
Mirante - O detalhe que chama a atenção é o visual que se tem do alto do morro. No final
da Rua Oito existe um espaço que, se fosse transformado em mirante, proporcionaria uma vista privilegiada dos pontos de referência do Centro, como
a Praça dos Andradas.
Economia - José Neves, morador há mais de 20 anos do morro, montou uma pequena loja de
material de limpeza. A escolha do tipo de comércio levou em conta as dificuldades que há para se obter esse tipo de produto.
"Descer o morro para comprar sabão em pó ou desinfetante é um tormento para a dona-de-casa.
Passei a atender esse público e, ao mesmo tempo, encontrar uma fonte de renda".
Natural de Sergipe, Francisco José de Almeida chegou ao local ainda jovem para tentar ganhar a
vida em Santos. E não se arrepende de ter escolhido o morro. "Gosto muito daqui. Mas falta bastante coisa, como um posto de saúde ou mesmo um
posto policial", sentenciou.
Administração - A Prefeitura informa que já investiu na urbanização, drenagem e
pavimentação da Rua 10, execução de muro de arrimo e impermeabilização de encosta na Rua Quatro. Além disso, execução de muro de arrimo e escada
hidráulica na Rua Um. O gasto total foi de R$ 450 mil.
Para os próximos meses estão previstas novas obras, como mais drenagem, muro de arrimo,
impermeabilização de encosta, escadarias e urbanização nas ruas Seis e Oito. O gasto alcançará R$ 230 mil.
Solicitação |
Moradores cobram a instalação de um posto de
saúde, para não terem que se deslocar para os bairros do São Bento e do Centro |
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EMOÇÃO:
"Aqui está a história da minha família. Não tem sentido sair do morro nesta altura da vida"
- David de Freitas Gonçalves, 64 anos,
morador do Morro do Pacheco
Foto: Paulo Freitas,
publicada com a matéria
Pioneiro lembra a tradição portuguesa
Descendente de portugueses, David de Freitas Gonçalves, 64 anos, acompanhou de perto a evolução
do Morro do Pacheco. Ele ainda se recorda dos velhos chalés de madeira que foram desaparecendo com o passar dos anos.
Sua família cultivava banana e cana-de-açúcar no bairro. Não por acaso, seu pai fabricava
aguardente na propriedade, que era referência no morro. "Eram tempos bem diferentes dos atuais. As pessoas se ajudavam mais. Não havia tanto
individualismo. Mas ainda assim, quem mora aqui se conhece", disse, com um ar de saudade.
Quando completou 18 anos, Gonçalves passou a procurar emprego. Trabalhou em agências de
navegação e hoje em dia já está aposentado. "Tive muita sorte, mas também fiz por merecer. Se não tivesse arregaçado as mangas e trabalhado, não
teria o que tenho".
Oportunidades para sair do Morro do Pacheco não faltaram para Gonçalves. Ele preferiu ficar.
Afirma ter uma relação sentimental muito forte com o bairro. "Não tenho coragem de sair. Minha história está aqui".
Personagens
José
Neves - 56 anos: |
José
Wilson de Lima - 47 anos: |
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José Neves trabalhou na extinta CSTC e mora no
morro há mais de 20 anos.
Hoje em dia, mantém uma loja de produtos de
limpeza bem próxima à entrada principal do Pacheco e à sua casa.
Ele garante que não trocaria sua rotina pela
vida atribulada do Centro ou de outro bairro da Cidade: "Não me vejo morando em outro lugar de Santos" |
José Wilson é uma exceção no Morro
do Pacheco. É natural do Mato Grosso do Sul.
A maioria dos vizinhos veio de
estados do Nordeste. Mas, como os nordestinos, encontrou no Morro do Pacheco a moradia ideal. "Aqui a gente tem o sossego, que é o principal
para se morar bem.
O resto a gente conquista com o
tempo. Estou feliz do jeito que está" |
Fotos: Paulo Freitas, publicadas com a
matéria
Sede da Fundação Paulo Gomes Barbosa é avistada logo na entrada
Foto: Paulo Freitas, publicada com a
matéria
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