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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [38]
Santa Terezinha

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Publicado em 30/8/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


O CÉU E O MAR POR TESTEMUNHAS - Um condomínio privado que teve suas origens ainda na década de 60. Com o tempo, porém, foi ganhando ares de bairro. Cercado de Mata Atlântica e com o sossego dos poucos carros nas ruas, lembra uma cidade do interior, com o privilégio de ter uma das mais belas vistas do mar e de outros pontos de Santos e São Vicente.

É o Morro Santa Terezinha

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 30/8/2010. Foto de Walter Mello

Perto do céu com vista para o mar

Condomínio privado construído na década de 60, e que preserva a tranqüilidade e a natureza, vai abrir suas portas para visitações

Viviane Pereira

Da Redação

Um condomínio com jeito de bairro ou um bairro fechado como condomínio? Essa é a dúvida que costuma inquietar quem passa e vê uma guarita na Rua Hércules Florence, no Marapé, que dá acesso ao Morro de Santa Terezinha.

O local é um condomínio privado que começou a assumir esse formato na década de 60 e que, com o tempo, foi ganhando ares de bairro. Por suas peculiaridades - cercado de Mata Atlântica e com o sossego dos poucos carros nas ruas -, lembra uma localidade do Interior, com o privilégio de ter uma das mais belas vistas do mar e de outros pontos da Cidade.

Apesar de ser uma área privada, é obrigatório que o condomínio mantenha livre o acesso à capela e ao mirante na parte superior. "Esse acesso será feito em um veículo ou com um guarda acompanhando, em determinados horários. É uma decisão do condomínio e deve ser cumprida, pois se alguma pessoa reclamar na promotoria, cabe ação judicial", explica o promotor de Meio-Ambiente, Daury de Paula Júnior.

Fora essa exigência, o Santa Terezinha é fechado ao público e as visitas só podem ser feitas com autorização dos moradores. Porém, o condomínio pode voltar a abrir suas portas, pelo menos parcialmente. A idéia é que até o ano que vem sejam permitidas visitações de estudantes e pequenos grupos de turistas acompanhados por guias, para exibir o esplendor da mata preservada entre seus portões.

"Não adianta preservar para ficar fechado", diz o síndico do condomínio, advogado Gastone Righi. Por outro lado, ele destaca que é preciso controle para não estragar o que se manteve intacto nesse tempo todo.

Righi conta que em vez de uma Sociedade de Melhoramentos, o Santa Terezinha vai ganhar uma sociedade de proteção ecológica e ambiental, para preservar o que pode ser a maior área privada de Mata Atlântica, se não do País, pelo menos do Estado. Para isso, a idéia é criar uma reserva ecológica, com apoio do Ibama.

Moradores do condomínio estão se reunindo para montar a sociedade de proteção, que deve começar a atuar ainda este ano.


Com belas vistas da orla e de outros pontos da Cidade, o Morro de Santa Terezinha deve ganhar uma plataforma panorâmica no próximo ano

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Educação e turismo - O estímulo à educação ambiental é uma das prioridades. Segundo o advogado, essa ação será realizada com visitas de estudantes ao morro. "Vamos aprimorar as trilhas no meio da mata e as crianças poderão ver tatu, sagüi, bicho-preguiça. Temos muitos animais aqui". As trilhas são pequenos caminhos ladeados de mato, com várias espécies de animais, e que ligam uma rua a outra.

O turismo será incentivado com a passagem do ônibus turístico da Prefeitura. "As pessoas poderão subir o morro durante o passeio. Santos tem necessidade de respirar. Temos que modernizar, crescer com sentido humanístico", diz Righi. Ele cita como exemplo Beverly Hills. "O ônibus passa pelas ruas próximas às residências dos astros de Hollywood com o guia orientando. Nosso objetivo é enriquecer o turismo sem devassar a privacidade dos moradores".

Para melhorar o acesso a uma das vistas mais bonitas da Cidade, a proposta é construir uma plataforma panorâmica próximo da capela - na parte mais alta do morro - que servirá de mirante.

Polêmica - Uma das questões que gerou polêmica sobre o aspecto ambiental da ocupação do morro teve uma nova ação este ano, com a negativa da Cetesb de fazer acordo para legalizar todas as casas. O promotor explica que a ocupação é complexa porque existem diversas situações diferentes.

Até 1965 a ocupação era livre. A partir dessa data até 1985 ficou determinado que não poderiam ser feitas construções no topo do morro - sem estabelecer qual seria exatamente esse espaço. A partir de 1958 ficou especificado que topo era o terço superior do morro.

"Há casas com e sem autorização do órgão governamental. Existem até situações de autorizações ilegais, que foram dadas em desacordo com a lei", afirma o promotor.

O Ministério Público, juntamente com a Prefeitura e outros órgãos envolvidos, vinha negociando há quase dois anos para acertar acordo e legalizar as construções. Com a negativa da Cetesb, de Paula revela que o ministério deverá entrar com ação demolitória das casas que estão em situação irregular, seja por não terem autorização ou porque não possuem autorização ilegal (N.E.: SIC. a palavra seria "legal").

"Teremos que pedir anulação das que estão ilegais. Já que o Estado entende que não é possível fazer acordo, deveria anular as licenças ilegais que expediu", diz o promotor. "Antes de propor as ações demolitórias, o Ministério Público vai tentar uma nova rodada de negociações".

Altitude

220 metros

é a altura do Santa Terezinha que, ligado ao Morro José Menino, é o mais alto da Cidade

 

Moradora acompanhou as mudanças

Rosa Maria Bandiera Marsaioli foi uma das primeiras a chegar ao condomínio. Viúva de Cláudio Doneux - que criou o empreendimento -, ela acompanhou o processo desde o início. "O Cláudio visitou diversos locais para ter idéias, como Beverly Hills, em Los Angeles".

A família mudou para o Santa Terezinha em 1970. Os pais de Rosa chegaram meses depois. Ela lembra do início, quando havia poucas ruas e duas casas. "Form surgindo outras casas e o condomínio cresceu".

Rosa revela que mesmo no início, com menos estrutura, subir e descer o morro várias vezes por dia para levar os quatro filhos às atividades nunca foi problema. "Eu chegava na Praça Mauá em seis minutos", lembra. "Agora é que é difícil, com esse trânsito".

Depois de quatro décadas vivendo no condomínio, ela se diz ainda apaixonada pelo local, por sua área ambiental, a paisagem. "O ar é maravilhoso, o clima é ameno e a vista, é algo de Deus".


A capela em homenagem a Santa Terezinha embeleza a paisagem

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria

Morro já teve outras denominações

O morro era a parte avançada do então sítio e pico do Combuca. Por volta da década de 40, era conhecido como Suíça Santista e Morro do Loureiro. Esse último nome fazia referência ao dono do local, Francisco Loureiro, que vendia lotes para criar um bairro.

Nessa época, foi aberta a primeira estrada e construída a capela em homenagem à santa que batizaria o morro: Terezinha.

Quando Loureiro faleceu, o genro dele, José Ferreira da Silva, assumiu o negócio e decidiu mudar o perfil do local. Parou de vender lotes, recuperou os que já tinham sido vendidos e construiu um prédio com restaurante e salão de danças.

O morro chegou a abrigar um cassino. Houve época em que os portões eram abertos a partir das 15 horas, dando acesso ao restaurante na área superior. Os pedestres tinham entrada livre, mas os carros pagavam pedágio, que era descontado na consumação.

No final da década de 60, o empresário Cláudio Doneux adquiriu o morro de José Ferreira da Silva e começou a construir o condomínio, abrindo ruas e vendendo lotes, até formar o Santa Terezinha como é hoje.


Os quatis podem ser vistos com facilidade nos galhos das árvores

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria

Macaco, cobra e quatis são visitantes

Mal abre os olhos e Maria Angélica Dias precisa se apressar. Se ela se atrasar, a gritaria é certa. Por isso, sem demora ela pega as bananas reservadas especialmente para o visitante que vem toda manhã: seu vizinho macaco. "Se eu levanto tarde, ele grita até eu acordar. Ele tem rotina", avisa.

A amizade foi conquistada aos poucos. "Ele gritava, a gente começou a dar comida. Ele foi chegando cada vez mais perto. Agora, às vezes eu vou dar comida e ele não pega. Tenho que ficar segurando, esperando ele comer".

O contato com a natureza foi justamente o que levou a ceramista a optar por morar no morro, há sete anos. "Nós somos do Interior e temos o perfil do mato, de estar com os animais". A paixão é partilhada pela família, que ajuda a cuidar dos animais que costumam visitar a casa.

Entre os visitantes, ela cita a cobra que mora entre seu ateliê e a casa. "É a Dorotéa. Às vezes, quando estou com as alunas, ela fica na cadeira. Quando passo batendo o pé ela vai embora".

Os quatis, comenta Angélica, chegam em grupo de dez. Na casa anterior, onde morou durante três anos, havia também um mico-leão e um bicho-preguiça. Hoje, a família tem contato também com o lagarto e muitos pássaros.

Depoimentos

Nelson de Paula Garcia:


"O bom do Santa Terezinha é a segurança, a tranqüilidade e o contato com a natureza. A gente vê o macaquinho sair da mata, andar nos fios e voltar. A vista também é maravilhosa. De um lado, a praia: é possível ver a Laje de Santos e as Ilhas de Alcatrazes. De outro, vemos a Cidade, o Campo Grande, o Marapé, a Vila Belmiro, o Centro e um pouco do Porto"

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria

Gastone Righi:


"A ONU recomenda que o ideal é que haja 15 metros quadrados de área verde por habitante. Aqui no morro temos de 250 a 300 metros quadrados por habitante"

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria

 
 Veja Bairros/Morro Santa Terezinha

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