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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [17]
Valongo

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Publicado em 5/4/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


Ruínas do Casarão do Valongo: com captação de recursos, construção histórica vai abrigar o Museu Pelé - Foto: Rogério Soares

VALONGO: O VELHO SE RENOVA - Antes convivendo com a degradação, o Valongo vai mudando sua imagem. Deve isso à chegada de projetos ligados a petróleo e gás natural, turismo, porto e tecnologia, que prometem aquecer a economia local e gerar muitos empregos. Para os moradores dessa região de Santos, nada mais justo com o passado de história do bairro

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 5/4/2010

VALONGO

No berço da Cidade, bons ventos

Graças a investimentos privados e públicos, o tradicional bairro começa a se transformar para ser a cara de Santos no século 21

César Miranda

Da Redação

Pouco a pouco a imagem decadente que perdura por muitas décadas no Valongo, uma das primeiras áreas povoadas em Santos, vai ficando para trás.

Com a chegada de projetos ligados a petróleo e gás natural, turismo, porto e tecnologia, que irão aquecer a economia local e gerar muitos empregos, a expectativa é de bons ventos tanto para os tripulantes e passageiros.

Para os mais de 200 moradores do bairro, é um ato de justiça para com o lugar, que se destaca pelo seu conjunto arquitetônico, com prédios do século 17, como a Igreja de Santo Antônio e a capela da Venerável Ordem 3ª de São Francisco da Penitência, além do prédio onde foi criada a Estação Ferroviária Santos-Jundiaí, no século 19.

Filha de uma portuguesa com um espanhol, a aposentada Alzira Peres, de 67 anos, é testemunha da evolução do bairro. Na iminência de mudanças, ela fica contente novamente como espectadora. "A expectativa é boa porque vai mudar a cara do lugar, que hoje tem aparência feia e suja".

Essa imagem negativa surgiu pelo fato de o lugar ser ocupado por estabelecimentos antigos abandonados, além de armazéns e atividades ligadas a caminhões, como borracharias e oficinas mecânicas, e ainda hotéis, botecos e restaurantes para atender caminhoneiros e prestadores de serviço.

Dos bons tempos do Valongo, quando estava em sua juventude, ela lembra dos meninos "arteiros" que subiam nos bondes em movimento, as calçadas ocupadas por famílias para conversar no fim de tarde, das procissões, e do incêndio que destruiu as instalações internas do Casarão do Valongo.

Sua casa está há 46 anos na Avenida Martins Fontes, próximo à Rua São Bento, onde havia um cinema (N.E.: Cine São Bento). "Na minha juventude, assisti a muitos filmes ali com meu irmão gêmeo. Era um lugar muito agradável. Na volta para casa, íamos de mãos dadas porque éramos unidos e havia quem pensava que fôssemos namorados", contou, às gargalhadas, a alegre e religiosa Alzira.

Um pouco afastado de onde irão ocorrer as mudanças mais significativas, o aposentado Evaristo Pereira de Souza, de 76 anos, que mora na Rua Cristiano Otoni, local que concentra praticamente só residências, acalenta em ver o desenvolvimento do bairro.

"Espero que as coisas melhorem, Já está na hora. Ninguém agüenta mais caminhões soltando esse cheiro fedorento (fumaça) e parando em frente das nossas casas". Ele mora ali faz 29 anos e é o mais antigo entre os vizinhos. "Sou do tempo que atravessava a rua e nem precisava olhar para os lados".

Altos e baixos - O comerciante Francisco Gonçalves Filho viu altos e baixos no bairro. Próximo à Igreja do Valongo, na Rua São Bento, ele mantém o Paulista, que concentra um bar, restaurante e um hotel, desde 1972. O negócio hoje é tocado por ele, a esposa e parte dos nove filhos. Devido ao esvaziamento financeiro do bairro, o faturamento caiu. "Quando eu montei girava dinheiro, agora só empata".

No tempo das "vacas gordas", era servido vinho fino e havia sistema a la carte no restaurante, substituído atualmente por pratos comerciais. Hoje, bebidas daquele tempo apenas decoram as paredes do imóvel, que precisa de reforma se quiser atender uma clientela diferenciada como as torres da Petrobrás e outros empreendimentos. Como paga aluguel pelo imóvel, ele diz que só vai investir se realmente houver essa mudança de público. "Não posso gastar o que não tenho, mas tomara que melhore".


Em outros tempos, o Valongo foi um dos bairros mais prósperos de Santos. Anos depois, mergulhou numa fase de degradação que, ao que tudo indica, está com os dias contados

 Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

 

Manifestações

"A expectativa é boa porque vai mudar a cara do lugar, que hoje tem aparência feia"

Alzira Peres, 67 anos, aposentada

"Sou do tempo que atravessava a rua e nem precisava olhar para os lados"

Evaristo de Souza, 76 anos, aposentado

"O Valongo vai ter a cara de Santos no século 21"

João Paulo Papa, prefeito

"Não poderia acontecer nada melhor do que a revitalização desta área"

Michael Timm, presidente da ACS

Destaque

Apostando em mudanças e atentos, principalmente, ao crescente público que irá freqüentar a região, empresários já estão investindo em bares e casas noturnas. Por enquanto, são poucos, mas significativos. Na Rua São Bento, dois estabelecimentos já costumam atrair bastante gente. Um deles é o Bar do Batata, onde acontecem shows de samba e pagode. O outro é o Cadillac Vintage Bar, com temas voltados aos anos 50, 60, 70 e 80.

Em breve, mais um estabelecimento irá surgir. Próximo ao Largo Marquês de Monte Alegre, o empresário Marcílio Macedo de Andrade e seus sócios investiram cerca de R$ 2 milhões na instalação da Estação Santos, uma casa especializada em receber eventos corporativos, sociais e culturais, além de palestras e formaturas. Prevista para ser inaugurada no meio do ano, funcionará em uma área total de 2,3 mil metros quadrados.

O empresário acredita que a proximidade com outras atrações, como a Estação do Valongo e a Bolsa do Café, além do futuro Museu Pelé, tornarão a região mais atrativa. "Nossa expectativa é que esse entorno vai mudar radicalmente, essa é a razão pela qual já estamos fazendo o investimento".


Dona Alzira mora há 46 anos no bairro e tem boas lembranças

 Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Plano Diretor proibirá circulação de caminhão no bairro

Visando o salto de desenvolvimento nos próximos três anos, um grupo de trabalho, envolvendo setores da Prefeitura, além da Codesp, Petrobrás, Polícias Militar e Civil, vem discutindo as ações estratégicas para elaboração de um plano diretor no Valongo.

Proibição de circulação de caminhões no Largo Marquês de Monte Alegre, São Bento, Marquês de Herval, Augusto Barata e outras adjacências, melhoria na iluminação pública, instalação de câmeras de monitoramento, são alguns dos temas que irão fazer [parte] do plano.

Sem revelar detalhes, a Prefeitura estuda ainda medidas para incentivar empresas transportadoras e de retroporto a se mudarem para outros lugares na Cidade, embora elas tenham respaldo na Lei 312/98 que disciplina o uso e ocupação do solo, para ficar no bairro. Por ora, garantido está a transferência das novas sedes do 1º DP e da 3ª Companhia da PM para o Valongo.

O fator determinante para começar a aquecer o desenvolvimento naquele trecho da Cidade aconteceu com a compra de um terreno de 43 mil metros quadrados, através da Igreja do Valongo, que pertencia à Rede Ferroviária Federal, em 2006. Mais tarde, a Prefeitura vendeu parte do terreno (26 mil metros quadrados) para a Petrobrás construir suas três torres, que irão abrigar a Unidade de Negócio de Exploração e Produção de Gás de Petróleo na Bacia de Santos. No complexo arquitetônico, 6.500 funcionários irão trabalhar. A primeira torre está prevista para ser concluída em 2012.

Futuro promissor - Dois anos é também a expectativa de conclusão da construção do Museu Pelé, no Casarão do Valongo. Na área de seis mil metros quadrados, a Cidade vai ganhar um importante equipamento para incentivar o turismo.

O complexo da Petrobrás e o museu serão peças-chave na renovação do Valongo e estarão integrados a outros projetos a serem implementados pela Prefeitura, como o Porto Valongo, sobre a recuperação dos armazéns de 1 a 8 do cais. O projeto visa transformar a área, entre os armazéns 1 e 8, de 55 mil metros quadrados, em um complexo turístico, cultural, náutico e empresarial com terminal de cruzeiros, restaurantes, marina e escritórios, entre outras instalações.

Um dos responsáveis pelos bons ventos no Valongo, o prefeito João Paulo Papa vê um futuro promissor para a região. "O Valongo vai ser a cara de Santos no século 21".

O presidente da Associação Comercial de Santos (ACS), Michael Timm, faz uma avaliação positiva com o adensamento empresarial e comercial no Valongo. "Não poderia acontecer nada melhor do que a revitalização desta área. Hoje já vemos a instalação de algumas casas noturnas e logo vamos ter o comércio, restaurantes, prestadores de serviços, além de outros".

O frei André Becker, responsável pelo Santuário do Valongo, já enxerga também o fim da deterioração da região. "Já venho percebendo investimentos com a reforma de imóveis. Tudo isso irá ser fundamental para preservar a história e memória de Santos".


O comerciante Francisco tem saudade do tempo em que corria dinheiro

 Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Veja o bairro em 1983
Veja Bairros/Valongo

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