INFRA-ESTRUTURA, PAZ E IDOSOS VIRAM MARCA REGISTRADA - Antigo caminho para o mar, bairro hoje
oferece uma das melhores infra-estruturas de Santos. Essas qualidades e o clima pacato das ruas atraíram os idosos, que somam 70% dos moradores,
segundo cálculos da sociedade de melhoramentos
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 8/3/2010
INFRA-ESTRUTURA
Versátil e completo como poucos
Do caminho que desembocava na praia surgiu o bairro que hoje em dia é um dos
mais desenvolvidos da Cidade
Tadeu Ferreira Jr.
Da Redação
Tudo começou em meados do século 19, quando
o santista descobriu como era bom um banho de mar. Corria a década de 1860 quando a até então desprezada Barra, como era chamada a praia, começou
a atrair adeptos. E o único caminho à disposição era o Boqueirão - em alusão à grande boca que significava este acesso,
numa época em que a orla era ignorada quase que por completo.
O traçado que desembocava no Boqueirão da Barra era o chamado Caminho
Velho, que saída do Centro de Santos, seguia pela atual Rua Luís de Camões, alcançando o caminho aproximado da hoje
Rua Oswaldo Cruz. As décadas se sucederam e aquele que era um recanto pouco valorizado hoje é um dos bairros que detêm uma das melhores estruturas
urbanas do município.
O Boqueirão
mescla harmonicamente, como poucos, comércios e residências. Gravatas e chinelas. Casinhas e casarões, prédios e escritórios. Nos fins de semana
com dias quentes, conseguir uma vaga para o carro no asfalto para pegar sol na praia é missão que exige muita paciência.
"Pode ter lugar tão bom quanto. Melhor não. Aqui tem tudo. Supermercado, correio, médico, ônibus
fácil. Só saio daqui morta porque minha campa fica no Paquetá", brincou a aposentada Luciene Miranda, de 63 anos, há mais de 30 vivendo na Rua
Oswaldo Cruz.
A moradora faz parte de uma parcela da população do bairro que, conforme o presidente da
Sociedade de Melhoramentos do Boqueirão, José Carlos Rodrigues, é a maioria. "Cerca de 70% dos nossos habitantes são idosos. E a estrutura do
bairro favorece isso", observou Rodrigues, citando as grandes redes de drogaria e bancos que há no Boqueirão como exemplo. "O comércio aqui é
pacato e bastante tradicional", destacou.
Mas o bairro também reivindica. "Tem algumas poucas coisas que o pessoal reclama. Coisa infantil
como caminhões que estacionam na porta, falta de poda de árvore, população de rua e barulho de um ou outro estabelecimento", enumerou. No ano em
que completa 50 anos, a Sociedade de Melhoramentos do Boqueirão também reclama uma sede, que nunca existiu, para as reuniões dos 70 associados.
Uma das principais vias do bairro, a Rua Oswaldo Cruz abriga o tradicional Super Centro do
Boqueirão, além da Unisanta: ecletismo é sua marca
Foto: Rogério Soares, publicada com a
matéria
Livros e cadernos - Outra peculiaridade do Boqueirão são as escolas e universidades. Os
moradores se acostumaram com a crescente presença dos estudantes ao longo das décadas, espalhados principalmente pelas principais vias do bairro,
como a Oswaldo Cruz e Conselheiro Nébias.
Os colégios Santa Cecília, Stella Maris, o Centro Universitário
Lusíada (Unilus), a Universidade Católica de Santos (UniSantos) e, principalmente, a
Universidade Santa Cecília (Unisanta) são os mais tradicionais.
A mais representativa é a Associação Educacional Santa Cecília (que mantém o colégio e a
universidade). Ela se instalou no Boqueirão em 1969 e hoje tem 110 mil metros quadrados de área construída divididos em 34 edificações. O Unilus é
ainda mais antigo no Boqueirão: surgiu em 1966, na Rua Armando Salles de Oliveira.
O aposentado Hélio Arantes trabalhou num comércio na Oswaldo Cruz até 2005 e sente saudades da
animação dos estudantes. "Eles fazem muita bagunça, mas movimentam o bairro. Isso mantém o comércio vivo", salientou.
Vila Rica - Uma condição curiosa do Boqueirão é manter em seus
domínios a chamada Vila Rica, que muita gente trata como bairro mas, na verdade, não passa de um trecho nos arredores da Avenida Washington Luiz.
Há 13 anos no ramo, o corretor de imóveis Ivo Sanches avalia que, apesar do glamour, a Vila Rica
não difere do Boqueirão quando o assunto é especulação imobiliária. "É tudo Boqueirão", resumiu. Segundo ele, o metro quadrado no bairro custa
entre R$ 2,5 mil e R$ 3,5 mil para imóveis usados e de R$ 3,6 mil a R$ 5 mil para novos.
Saúde - A Saúde é outra área muito bem servida no Boqueirão. Lá estão os hospitais
Guilherme Álvaro, Casa de Saúde, Frei Galvão, além de um ambulatório da Unimed.
Há, ainda, um dos mais tradicionais edifícios de consultórios médicos da Cidade, de nº 730
(N.E.: Av. Conselheiro Nébias, 730).
Tal desempenho ajuda a sustentar o fato de o maior número de profissionais registrados no Boqueirão serem médicos: 275.
RAIO-X: 45 mil moradores aproximadamente, tem o Boqueirão, segundo sua Sociedade de
Melhoramentos. Área: 1.585.935,63 m². Valor do m²: R$ 2,5 mil a R$ 5 mil. Zona Eleitoral: 273. Número de seções: 53. Eleitores: 26.592. Total de
imóveis: 1.668. 16.400 residências, arrecadando R$ 22 milhões de IPTU e R$ 2,9 milhões em taxas de lixo; 1.668 comércios, arrecadando R$ 3,6
milhões em IPTU e R$ 356 mil em taxas de lixo; e 46 terrenos, arrecadando R$ 1,2 milhão em IPTU e R$ 5,5 mil em taxas de lixo. No total, R$ 26,9
milhões arrecadados em IPTU e R$ 3,2 milhões em taxas de lixo
Infográfico da Editoria de Arte/AT, com
dados da Prefeitura de Santos, Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e corretor Ivo Sanches
Chácara resiste na Conselheiro Nébias
Antes de se tornar uma das avenidas mais importantes de Santos, a Conselheiro Nébias abrigou
inúmeras áreas verdes no trecho do Boqueirão, sendo que algumas chácaras resistiram até os anos 2000. Porém, para saciar as ávidas necessidades do
progresso, tudo foi dando lugar a asfalto e concreto.
Em 1982, reportagem de A Tribuna narrava que, das chácaras da via, apenas duas
sobreviviam: a Thaumaturgo, no nº 674, e a Brasil, no 631. Há cerca de cinco anos uma delas sucumbiu às pressões do
desenvolvimento e deu lugar a uma escola de futebol society. Assim, no lugar do solo nu, foram instaladas quadras de grama sintética.
Dessa forma, o único oásis verde sobrevivente é a antiga Chácara Thaumaturgo, que mudou de nome
e hoje abriga o Espaço Cultural Unilus, que preservou aquele que se tornou um dos grandes pulmões do espaço urbano santista.
Quem passa pela avenida nem repara direito, mas a antiga chácara de 6,3 mil metros quadrados
abriga 18 palmeiras imperiais, algumas rivalizando com prédios de dez andares ao redor, pés de manga, abacate, banana, pitanga, goiaba e abil,
além de um extenso gramado, orquídeas e um velho chalé que beira os 100 anos.
O reitor do Unilus, Nélson Teixeira, adquiriu a antiga chácara de Olímpia Vergara Thaumaturgo,
viúva do fundador, Emmanuel, em 1994. O casal semeou no local espécies adquiridas em viagens ao redor do mundo. Apesar de já ter sido sondado por
grandes construtoras com projetos mirabolantes, Teixeira garante que, enquanto for vivo, a Fundação Unilus não perderá sua sede.
De tão grande, o terreno atravessa a quadra e tem uma segunda entrada pela Rua Armando Sales de
Oliveira. Nos 6,3 mil metros de área, há, construídos, apenas a casa principal, que hoje abriga exposições esporádicas, uma casa anexa e um velho
galpão, além do chalé. O resto é verde. "No entardecer temos o privilégio de receber gaviões, periquitos, até tucanos. Algo impensável em plena
área urbana de Santos", gabou-se Teixeira.
O Espaço Cultural Unilus é um verdadeiro oásis verde, com 6,3 mil m²
Foto: Irandy Ribas, publicada com a
matéria
O número 1
Não é possível falar em Boqueirão sem lembrar do Super Centro Comercial do
Boqueirão, que ajudou a popularizar o nome do bairro. Considerado o primeiro shopping
(N.E.: centro comercial) da América Latina -
concorre com o paulistano Iguatemi, inaugurado um ano depois - completa 45 anos de vida este ano.
Com perfil diferenciado em relação aos demais shoppings que vieram a se estabelecer na
Cidade, o Super Centro resistiu a algumas tentações da modernidade e manteve-se com suas tradicionais praças a céu aberto e piso áspero, por
exemplo.
Mas isso vai mudar. Segundo o administrador do local, Júlio Ramos, está em fase final de
aprovação um projeto para a repaginação da fachada, que será mais "arrojada". Em seguida, conforme Ramos, virão a implantação de um sistema de
isolamento térmico no telhado (o Super Centro não tem áreas comuns climatizadas, tornando-se muito abafado nos dias de calor) e a troca do piso,
já amarelado pelo tempo.
Também diferente dos demais shoppings, o Super Centro não tem um dono, é administrado
como um condomínio comum. Atualmente abriga 130 lojas dos mais diversos segmentos. Muitas ocupam dois ou mais dos 205 boxes existentes. A maioria
é inquilino. Uma das proprietárias mais antigas é Adelaide Lascane Saguir. Hoje à frente da Brut's Moda Masculina (fundada em 1972), ao lado do
marido, ela foi uma das pioneiras em 1966, com a Lascane Moda Infantil. "Fechei há dois anos e vim ajudar meu marido aqui", lembra ela.
Adelaide recorda a época em que surgiu o Super Centro. "No início, só feirantes vieram para cá.
Então tinha peixaria, açougue, mercearia. Hoje está moderno e muito mais agitado, com a faculdade aí do lado (Unisanta)".
Contemporâneo de Adelaide, Agenor Moraes Pereira também veio da feira, onde vendia meias. Neste
ano está completando 40 anos de atividade no Super Centro, com sua Meia Dada. O tempo passou e o comércio se adaptou, hoje é especialista em
artigos esportivos. A gestão também foi descentralizada: a filha Sandra já trabalha com a neta Alessandra. O trio atua junto atrás do balcão.
"Ainda recebo clientes fiéis da época da feira. Já estão velhinhas e se tornaram grandes amigas", garante Agenor.
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
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