Um pedaço do campo na cidade.
Mas, até quando?
Uma faixa de vende-se na frente do imóvel revela que aquele lugar bucólico, com árvores e plantas de várias espécies, pode
estar com os dias contados. A Chácara Brasil, na Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão, até agora resistiu ao tempo e ao avanço dos prédios.
Chácara Brasil
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
Privilégio
Oásis urbano
Da Reportagem
Leonardo Corte Sant'Anna tem sérias decisões a tomar
todas as manhãs. O que deve fazer primeiro: andar de bicicleta, aventurar-se numa trilha no meio do mato ou pescar no tanque perto da casa onde
mora? Aos 7 anos de idade, as opções para o garoto são muitas, e talvez dê tempo de ele fazer tudo isso antes de se aprontar e descer o Morro da
Nova Cintra para ir à escola, depois do almoço.
Para quem mora em centros urbanos, talvez seja difícil imaginar tanta atividade em
pleno dia de semana. O máximo que se pode fazer é planejar um passeio em um sábado ou domingo e, mesmo assim, a criança terá que escolher entre um e
outro tipo de lazer.
Sorte de Leonardo, cujos pais decidiram arrumar as malas e mudar para a chácara da
família há cerca de um mês. "Antes, achava que não conseguiria me adaptar, mas, agora, não troco isso por nada". Engana-se quem pensa que essa frase
é do garoto. Nada disso. Mara Sant'Anna, a mãe, também se rendeu aos encantos do mato.
Na Chácara Cantão, além de Mara, o marido e o filho, vivem ainda mais cinco pessoas (a
sogra e um cunhado em uma casa e outro cunhado com o filho e a mulher, em outra). Ali a família também trabalha, na produção de mudas de plantas
para vendas e execução de projetos de jardinagem.
Qualidade de vida - Além da tranqüilidade proporcionada pela distância (nem tão
grande assim) da Cidade, longe de ruídos que para a maioria dos mortais já não causam estranheza, como buzinas, máquinas trabalhando e guardas
apitando nos semáforos, a família de Mara ainda é contemplada com visitas inesperadas de sagüis, esquilos, tucanos e pássaros. Esses, responsáveis
pela trilha sonora do local.
"Meu filho adorou mudar para cá", conta Mara. "Até o ar que a gente respira é melhor.
Aqui, a água é de nascente, não tem aquela água de encanamento, é mais limpa, mais saudável", elogia a mãe de Leonardo.
Faz coro com ela o garoto, em cima da bicicleta, tendo ao lado o inseparável
companheiro Tibor, um dos cães da família. "Estou adorando morar aqui. É bem melhor". Cheio de planos, ele conta que vai ter uma casa na árvore e um
escorregador. Os "garotos da floresta", como se auto-intitularam Leonardo e os amiguinhos, ainda têm muito o que explorar.
Acesso - Engana-se quem pensa que morar assim significa ter de abrir mão de
toda a comodidade oferecida pelos centros urbanos. Shopping centers (N.E.: centros comerciais),
cinemas, restaurantes, escolas e hospitais não ficam a mais de meia hora de carro ou uma hora de ônibus.
"Quando precisamos de alguma coisa, é só pegar o carro, ou mesmo ir de ônibus. Temos
acesso a tudo, não encontramos dificuldade nenhuma", garante Mara. "Até o celular pega aqui".
Há cerca de um mês, a família de Leonardo
instalou-se na chácara e está encantada com as novidades
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
Chácara Brasil está com os dias contados
No número 629 da Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão, uma chácara resiste ao
tempo e ao avanço dos prédios que tomaram conta de quase toda a Cidade. Trata-se da Chácara Brasil Ltda., conhecida pelas mudas de várias espécies
de plantas que produziu e pelos projetos paisagísticos que executou ao longo de quase oito décadas, entre os quais na Riviera de São Lourenço
(N.E.: situada no município de Bertioga).
Hoje, uma faixa de Vende-se na frente do imóvel indica que os dias da chácara
estão contados. Dentre os interessados, muitas construtoras que poderão, no lugar das palmeiras imperiais, ficus, plantas frutíferas e ornamentais,
erguer mais um edifício.
Quem está triste é o neto de Antônio Fernandes, português que chegou à Cidade em 1927
e criou a Chácara Brasil. Para Paulo Eduardo Fernandes Mathias, os R$ 3 milhões pedidos pelo imóvel não pagam as lembranças que ficarão ali. "Meus
tios nasceram e cresceram aqui. Eles e o meu avô cuidavam de tudo isso", recorda Mathias.
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Fundador da chácara chegou à cidade em 1927
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Realidade - O valor da propriedade, embora pareça fora da realidade, está
dentro do que é cobrado pelo metro quadrado na Cidade. Segundo o delegado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) em Santos, Dirceu
Carlos Augusto, em regiões consideradas nobres, como Embaré, Ponta da Praia, Gonzaga e Boqueirão, o metro quadrado custa entre R$ 800,00 e R$
1.200,00.
A Chácara Brasil, com 3.060 metros quadrados, está dentro da média cobrada. Mas
poderia valer mais, já que é um dos últimos oásis que podem ser encontrados no centro da ilha. "Não existem mais imóveis como esse da Conselheiro
Nébias à venda", afirma Augusto.
Perda - A venda da Chácara Brasil também deixa triste o paisagista Milton de
Souza Júnior. "Será uma grande perda para a Cidade", declara Souza, lembrando que foram os tios de Mathias que lhe ensinaram as técnicas da
profissão. "Tudo que eu aprendi, devo a eles", conta, referindo-se aos irmãos Francisco, Ismael (ambos falecidos), Cláudio e Antônio.
Enquanto o imóvel não é vendido, os proprietários atendem a clientes antigos. "A terra
aqui é a melhor que tem", garante Mathias. "Eu não queria vender, mas sou a minoria", conclui.
Localizada na Avenida Conselheiro Nébias, 629, a Chácara Brasil está à venda por R$ 3
milhões
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
Orquidário - A grande chácara |
Se você não mora em uma chácara como as privilegiadas famílias de Mara Sant'Anna
e de Paulo Eduardo Fernandes Mathias, ainda assim pode respirar um ar mais puro sem ter de sair da Cidade. Para isso, basta fazer uma visita ao
Orquidário Municipal. Localizado em uma área com 22.240 metros
quadrados, os visitantes que ali chegam encontram jardins e vegetação semelhante à de florestas da região, além de répteis, aves e mamíferos,
alguns soltos pelo parque e outros mantidos em recintos próprios (a maior parte nativos do Brasil).
Considerado uma ilha verde no meio da Cidade, é o terceiro parque mais visitado do
Estado. O Orquidário (Praça Washington, s/nº) fica aberto de terça a domingo, das 8 às 18 horas. O ingresso custa R$ 1,00. Crianças e idosos não
pagam. |
Fonte: Prefeitura
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Orquidário
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
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