Antigos chalés estão sendo substituídos por edifícios luxuosos
O bairro cresce e a população se organiza
O chalé da Rua Duque de Caxias, 66, está com os dias
contados. Em um mês, dois no máximo, vai desaparecer, depois de 61 anos, para dar lugar a um prédio de sete andares. É mais um prédio para esse
bairro que ganhou novas feições nos últimos anos, e perde aos poucos as últimas casas de madeira, com quintais amplos, cheios de árvores e
plantas.
O processo parece irreversível. Quem ainda tem casas acaba cedendo às pressões dos corretores, sempre dispostos
a oferecer muitos apartamentos em troca de área, ou não consegue continuar vivendo no mesmo lugar, cercado por enormes blocos de concreto.
No caso do chalé da Rua Duque de Caxias, 66, à insistência dos construtores somou-se a necessidade de resolver
questões de herança. As moradoras Aurora da Silva Santos e Maria da Silva Galhego se viram sem alternativas se não dar fim ao imóvel pago com
tanto sacrifício pelo pai, há mais de meio século.
Aurora, alegre e extrovertida, conserva o mesmo hábito de servir café e bolo para as visitas, e parece não se
entristecer diante da idéia de ver a casa, onde mora há 61 anos, transformada em um monte de entulho. Maria, ao contrário, não esconde a tristeza
e nem sabe se vai continuar morando no bairro onde nasceu. Em alguns momentos, pensa besteiras, acha que o coração pode não resistir.
Esse chalé vai desaparecer para dar lugar a mais um prédio
Quantos não
enfrentam dramas como esse, desde que a lei 3.530, de 16 de abril de 1968, contida no Código de Posturas, autorizou a construção de arranha-céus
nos bairros? As áreas nobres de zona de praia tornaram-se escassas e os construtores penetram cidade adentro. Só no Campo Grande surgiram dezenas
de prédios nos últimos quatro ou cinco anos.
Hoje é um dos bairros mais populosos de Santos, com seus mais de 26 mil habitantes, segundo estimativas da
Prodesan, concentrados nos limites entre as avenidas Francisco Glicério e Ana Costa, Rua Carvalho de Mendonça, Avenida Bernardino de Campos e
parte da Pinheiro Machado. O Censo de 1970 apontou apenas 83 lotes vagos, número que deve ter se reduzido ainda mais de lá para cá (não há
estatísticas mais recentes), levando-se em conta o processo de mudanças que vive a região.
Maria da Luz Ferreira Duarte dá um bom exemplo para ilustrar a situação: quando se mudou para a Rua Amazonas, há
oito anos, tinha apenas dois prédios de três andares nas imediações. Hoje, há nove prédios, entre eles um de nove andares.
A maioria é de alto gabarito e um apartamento com três quartos e suíte, na Rua Teixeira de Freitas, está
custando quase Cr$ 9 milhões. Os de dois quartos variam entre Cr$ 6 milhões e quase Cr$ 8 milhões. Só para comparar, um apartamento com três
quartos, no Gonzaga, a poucos metros da praia, custa em média Cr$ 13 milhões.
Os comerciantes ficam eufóricos com a chegada de tanta gente nova, e muitos identificam as grandes obras que
sobem em direção ao céu como progresso. Acham que valorizam o bairro. Mas, será que a qualidade de vida continua a mesma?
De uma forma ou de outra, não se pode negar que o Campo Grande é um bairro tipicamente residencial, sem grandes
estabelecimentos comerciais, mas com os tradicionais bares de esquina, onde os moradores se reúnem para contar casos e passar o tempo. Bares bem
típicos, com gaiolas de passarinhos ou periquitos penduradas na porta.
Há, também, mercearias, daquelas onde o freguês pode escolher o feijão, o arroz e a batata. É certo que algumas
diversificaram serviços, como a Nossa Senhora da Mó, muito conhecida porque o proprietário prepara uma irresistível lingüiça no álcool. Ainda como
opção de compras, há o Empório Tem Tudo, inaugurado em 1928, e o Empório Rosário, mais ou menos da mesma época.
Em termos de restaurantes, não se pode esquecer o Caldeira, que há mais de meio século serve uma das melhores
feijoadas de Santos. Isso sem contar que o Campo Grande mudou muito - esse nome surgiu porque se tratava justamente de um campo bem grande -, mas,
na Bernardino de Campos com a Carvalho de Mendonça, ainda se encontra uma bomba de gasolina de calçada, que não sucumbiu diante da instalação de
grandes e bem equipados postos.
Esse chalé vai desaparecer para dar lugar a mais um prédio
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