Sem passageiros, uma estação sem vida
Nem o sol que bate de frente pela manhã consegue dar vida à
estação de trem da Avenida Ana Costa. Está bem cuidada, conserva as mesmas janelas altas, o lustre repleto de pequenas luzes, a catraca e as
barras de proteção de ferro. Mas não há o corre-corre que dava cor ao ambiente desde que partiu o último trem de passageiros, com destino a
Juquiá, em fevereiro de 1977.
A estação só foi mantida para recepção de fretes e cargas, e como que acompanhando o silêncio que perdura
durante a maior parte do dia, os tradicionais relógios estão parados. Funcionam normalmente, asseguram os funcionários, mas quem se interessa em
dar corda?
Até 10 trens de passageiros chegaram a movimentar a estação diariamente, dizem os mais antigos. E ali, no pátio
do Campo Grande, eram montados os vagões vindos da Alemanha, Estados Unidos e França. Quem se lembra? As conhecidas famílias de ferroviários -
como os Pietro, Capela, Domingues e Lourenço - moravam perto, de casa podiam ouvir o barulho das composições.
Hoje poucos se aventuram na profissão. É certo que os que fazem, dificilmente a abandonam. Deve haver algo muito
especial que faz um senhor como Waldomiro Ferreira, o "Trolinho", 64 anos de idade, chegar ao serviço às 5 horas, quando seu horário de entrada é
às 7 horas. Se aposentar nunca quis, mesmo depois de 42 anos de trabalho. Nunca faltou, nunca tirou licença médica e nem chegou atrasado.
O que esse homem não sente quando ouve protestos contra as linhas que dividem o bairro, o trepidar e o barulho
que desvalorizam imóveis? Para muita gente, trem não passa daquela coisa que irrita quando impede a passagem do carro. Será só isso?
Já não há campos de várzea e as crianças disputam a rua com os carros e os pedestres
Os campos acabaram, restam os clubes
Vovô do Campo Grande. Assim é conhecida a agremiação amadora
mais antiga do bairro, o Jaú Futebol Clube. Fundado em 1924, na Rua Espírito Santo, para a prática de futebol amador, resistiu às transformações
que acabaram por determinar o fim de todos os campos de várzea existentes no Campo Grande.
Resistiram também o Pará, o Vasquinho e o Amazonas, todos clubes com mais de 30 anos, que diversificaram
atividades para acompanhar a nova realidade. Permanecem como clubes pequenos, de ambiente familiar, mas para cultivar o futebol amador, em torno
do qual foram criados, só mesmo alugando quadras ou aproveitando a faixa de areia da praia.
Hoje se destacam mais pelos campeonatos de bocha, dominó, buraco e outras promoções que organizam. O Amazonas
Clube guarda muito da fama por organizar a tradicional Corrida das Cuécas, que é realizada todos os anos, a 31 de dezembro. No último final do
ano, reuniu mais de 350 participantes de Santos e do Interior.
Os tempos são outros para os campeões de ontem: como se projetar no futebol sem ter campos para treinar?
Poucas são as casas com grandes quintais
Um bairro sem praças
Pode existir um bairro sem praças, onde não haja espaço para
o verde, para o lazer e o descanso dos moradores? Poder não poderia, mas existe pelo menos um em Santos: o Campo Grande. Entra rua e sai, e não se
depara com nada que ao menos de leve lembre uma praça. Nem mesmo uma pequena pracinha abandonada, como tantas da Zona Noroeste.
É certo que não se pode reclamar da arborização das ruas, que é das melhores em toda Santos. Mas isso não
justifica a falha dos que projetaram quadras certinhas, montaram esquemas de circulação, mas esqueceram que o homem ainda é o ponto de partida de
tudo. |