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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CANAIS
Uma guerra pelos canais santistas (1)

Comparação com navios e com os esgotos parisienses, e até Comte e o Positivismo, entram na polêmica
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"A cidade de Santos é desservida, desde 1889, por uma rede de esgotos construída e mantida, até 1892, por comissão municipal a uma empresa. Nesse ano, o governo do Estado, colimando o Saneamento dos seus núcleos populosos e principalmente o do seu grande porto de mar e entreposto comercial, encampou os direitos e propriedades da empresa, por considerar de utilidade geral os serviços sanitários ordinariamente desprezados pelas municipalidades", descrevia no início do século XX o engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito.


Ponte antiga (Rua Braz Cubas) no Ribeirão dos Soldados, início do século XX

Em Projetos e Relatórios - Saneamento de Santos (volume VII das Obras Completas de Saturnino de Brito, publicação da Imprensa Nacional/Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1943), o engenheiro relata que "em fevereiro de 1905 o governo do Estado de São Paulo deu nova direção aos trabalhos da Comissão de Saneamento de Santos, ampliando o programa anteriormente restrito às obras de esgoto. De acordo com este programa, começamos por projetar a expansão da cidade, abrangendo toda a planície e compreendendo alguns melhoramentos que lhe eram indispensáveis".

A intervenção urbanística renderia grandes polêmicas nos anos seguintes, com a Câmara Municipal de Santos - secundada pelo jornal A Tribuna - atacando o traçado das ruas e dos canais. Uma das principais razões das críticas eram os interesses contrariados de grandes proprietários de terras urbanas, que pretendiam manter suas chácaras intactas, não concordando com as desapropriações necessárias para as obras saneadoras.

Escrevendo do Recife em 1915, como consta no volume XXI de suas Obras Completas (intitulado Urbanismo - A Planta de Santos e publicado em 1944), o sanitarista explicava a polêmica, em que eram citados até expoentes internacionais da doutrina do Positivismo, como Augusto Comte, nos debates sobre a criticada "abundância de linhas retas, sem horizonte limitado", criando "ruas intermináveis", com mais de um quilômetro de extensão.

Dizia Francisco Saturnino, em sua resposta ao chefe da Seção de Obras da Prefeitura, Dr. Francisco Teixeira da Silva Telles: "A inspeção detalhada (...) mostrar-lhe-ia que, apesar do abuso da linha reta, foram aplicadas de um modo geral os princípios da arte moderna, conforme o Sr. Bouvard; a gente de Santos, aliás, não toleraria o uso da linha curva, a não ser muitíssimo discreto (...). A inspeção detalhada mostra que as ruas retas e exageradamente longas são ruas e avenidas existentes, entre as quais o Dr. Teles entende que fiz bem em deixar como estão (Vila Macuco, Rua C.Mendonça, as enormes avenidas etc.), e assim ele cogita de conservá-las como legado histórico e prolongar, conforme veremos...; o xadrez, o traçado geométrico, pode-se dizer que só foi aplicado ao lado da Barra, como simples rede para não deixar esta região ao completo abandono".

Em outro ponto de sua argumentação, Saturnino de Brito lembrava que, das 161 vias existentes em Santos na época, só 14 tinham mais de um quilômetro de extensão, não chegando a 2 km, sendo algumas propostas pela própria Câmara, como a Avenida Taylor (atual Rodrigues Alves).


Ponte antiga (Avenida Conselheiro Nébias) no Ribeirão dos Soldados, início do século XX

Em 19/10/1905 começou o saneamento de Santos pela retificação do Ribeirão dos Soldados (nas Avenidas Rangel Pestana e Campos Salles). Em 27/8/1907, ocorre a entrega de 2.030 metros de canais de drenagem, assim descrita pelo engenheiro: "Todos os jornais publicaram edições especiais, algumas ilustradas, que enalteciam o ato do Governo; descreveram detalhadamente os canais inaugurados e as suas pontes. À noite, o concurso popular se tornou maior, atraído pelo passeio de algumas pequenas embarcações iluminadas à veneziana, em uma das quais tocava a Tuna Internacional, e pela iluminação elétrica e multicor com que a City of Santos concorreu para abrilhantar aquela festa verdadeiramente popular".

Foram inaugurados 1.360 metros do Canal Ribeirão dos Soldados, 217 metros da Grande Galeria Braz Cubas, 173 metros do Canal Braz Cubas e 278 metros do Canalete da Usina, perfazendo 2.028 metros, mais 491 metros de coletores afluentes e diversas obras de arte (seis pontes de concreto armado, seis pontes galerias e três passadiços), além de serviços diversos, totalizando precisamente o investimento de 544:898$339. A usina terminal, no bairro do José Menino, passava a ser circundada pelo canalete de retificação do córrego Cachoeirinha. O Canal Braz Cubas é o atual canal 3 (Rua Braz Cubas e Avenida Washington Luiz).

Em outro ponto de seu livro, Saturnino citava uma função especial e pouco lembrada para o Canal 4 construído do Boqueirão à Vila Macuco, passando pelo novo edifício do Isolamento, no Caminho Velho da Barra, e apanhando a Vala Grande, que dessa forma desaparecerá": serviria para a navegação de pequenas embarcações que transportariam ao Isolamento (atual hospital Guilherme Álvaro) os "pestosos retirados dos vapores" (tripulantes e passageiros dos navios que chegavam a Santos, portadores de doenças contagiosas).


Canal de drenagem superficial, em concreto armado, planejado por Saturnino de Brito

Plano dos canais - Nos Projetos e Relatórios, Saturnino descreve os projetos e as obras que seriam iniciadas em 1905:

Galerias pluviais

Na circunvalação da montanha se dispensará o canal contínuo, substituindo-o por pequenas valetas e sarjetas, as quais serão tributárias das caixas de detenção da areia (sist. "R. de Brito")., de onde partirão as grandes galerias pluviais.

Quatro destas galerias (n. 1 a 4) fazem parte integrante do projeto apresentado em junho de 1905 e vão ser executadas.

Nestas galerias serão aproveitados os excelentes tubos de cimento armado, fabricados pelo Snr. Dr. José Rebouças; estes tubos serão aplicados em plena secção, ou cortados diametralmente para servirem de abóbada à secção retangular das galerias feitas in situ. Estas galerias descarregarão nos trechos de embocadura no cais, construídos pela Companhia Docas de Santos.

Canais de drenagem

Os canais de drenagem projetados e aprovados são em número de oito, mas a eles virão ter outros tributários - canaletes, galerias, coletores e sarjetas subsidiárias (n. 5 a 14) formando a rede pluvial completa.

Em grandes linhas, eis a descrição dos cursos:

A retificação do Rio dos Soldados, já executada, começa na Doca do Mercado, no extremo da galeria construída pela Companhia Docas de Santos; na Rua Braz Cubas se bifurca, seguindo um ramo por essa rua, parte em galeria e parte em canal, conforme está executado até atravessar a linha férrea da Companhia Docas de Santos; será no futuro prolongado até a baía, onde sairá próximo à foz dos Dois Rios, que serão aterrados. A parte em galeria tem por abóbada virolas de 1,60 m, de cimento armado, cortadas ao meio.

A retificação do Rio dos Soldados, conforme está executada, continua o seu curso pela Rua Rangel Pestana, e atravessa a Avenida Ana Costa; pouco adiante recebe o canal que drenará a planície Jabaquara, vindo do ocidente. O canal grande continuará para o Sudoeste, passando entre o Morro das Vigárias e a ponta de Jabaquara; aí mudará de declividade e se bifurcará.

Um ramo, com a mesma secção, se aproximará da montanha, se curvará e seguirá para a Praia José Menino, saindo em terrenos do Snr. Dr. Paulo de Queiroz. O outro ramo, atravessando e saneando os terrenos Marapé, correrá paralelamente à Avenida Ana Costa, na distância de cerca de 600 m, direção Sul, saindo na mesma praia e já está sendo executado.

Três outros canais cortarão de mar a mar os terrenos entre Vila Macuco, Avenida Conselheiro Nébias e a Ponta da Praia.

Dos canaletes tributários está feita uma parte da retificação do córrego Cachoeirinha, em José Menino (raio de um metro).

Vamos dar os caracteres dos tipos principais: depois descreveremos as pontes executadas.

Os canais são de tipos diferentes, de acordo com a capacidade necessária e as condições locais.

A capacidade, quer das galerias na cidade, quer dos canais, foi avaliada para esgotar as águas contribuintes pelas superfícies tributárias, desde a linha de cumeada da montanha, descendo as encostas vertentes, até os bairros futuramente formados, com as suas superfícies revestidas pelo calçamento ou cobertas pelos telhados das casas. O cálculo obedece aos princípios expostos na memória que apresentamos ao Terceiro Congresso Científico Latino-Americano, reunido no Rio de Janeiro em 1905.

A técnica da construção constitui a parte mais interessante pela feliz aplicação de um simples revestimento de concreto armado, em perfil transversal, nimiamente apropriado à execução econômica e sanitária da obra no terreno fluente.

O perfil é formado por um segmento circular (fig.1), cujo raio R varia com o tipo e cujo ângulo central é de noventa graus: portanto, as tangentes extremas t formam com o horizonte ângulos de 45 graus, e uma parte destas tangentes serve de diretriz para prolongar o revestimento de concreto armado, que depois se dobra e mergulha no terreno, formando duas abas de resistência e de apoio para os taludes das terras, também inclinados a 45 graus e revestidos de grama até as banquetas marginais M.

O revestimento de concreto armado é formado por barras de ferro redondo de 8 mm de diâmetro, colocadas transversalmente (segundo a diretriz) de 10 cm a 15 cm de espaçamento; longitudinalmente (segundo a geratriz) são entrançadas naquelas as barras de 3 mm a 5 mm de diâmetro; a espessura do concreto que envolve as barras é de 10 cm a 15 cm; feito o concreto se regulariza a superfície interna por meio de um reboco de argamassa de um de cimento e três de areia. No fundo e nas paredes laterais existem drenos-filtros, que descarregam a água do subsolo e diminuem as subpressões; estes drenos, formados de tijolos perfurados, que saem de um fundo de areia grossa e pedrinhas, exigem cuidado para que nunca deixem passar a areia do subsolo, o que prejudicaria a integridade da obra.

No cruzamento das ruas atuais ficam os bueiros para a descarga dos coletores pluviais, a construir pela municipalidade.

Um outro tipo de canal (fig. 2), mais caro, apropriado, porém, aos casos de ruas de escassa largura, é o adotado na rua Rangel Pestana. O ângulo central é de 120 graus, as tangentes revestidas se inclinam a 60 graus e sobre as abas E se levantam os muros verticais, que podem ser de cimento armado, ou de alvenaria de pedra, ou de alvenaria de tijolo; no coroamento do muro se implanta o parapeito.

Em qualquer destes casos se não deve perder de vista que o revestimento de concreto armado vem resolver de um modo cabal, estético, sanitário e econômico, a questão da retificação de córregos e a das canalizações pluviais dentro das cidades. Não se trata de canais de navegação; se essa utilidade os reclamasse em Santos outras seriam as condições do projeto.

Não só é fácil a limpeza dos canais revestidos, como também a execução do revestimento não exige cuidados especiais quanto à estabilidade; qualquer conserto eventual pode ser executado com a maior facilidade. Pelo antigo sistema de construir, as muralhas laterais são verdadeiros muros de arrimo, e qualquer fenda indica um defeito ou uma ameaça à estabilidade da obra; aqui, uma fenda real e eventual nunca poderá comprometer a estabilidade, e esta estará sempre (mesmo que as fendas se multiplicassem e aí o ferro se consumisse) e melhores condições do que os simples revestimentos de pedra seca em perfis igualmente traçados; tais fendas apenas trabalhariam como drenos imprevistos. Por este motivo, são também desnecessários cuidados especiais para que a argamassa do revestimento superficial não estale, por efeito do forte calor em Santos.

Limpeza dos canais e descargas

O revestimento completo da secção, normalmente molhada pelas águas de enchente, permite a limpeza normal e a a auto-limpeza, por meio de um "batel-adufa" (à semelhança do que se usa nos grandes esgotos de Paris) transportando, pelo impulso das águas represadas, os detritos para os poços ou caixas de areia construídos no fundo do canal, em diversas situações.

Para a conservação sanitária dos canais de Santos é indispensável o prolongamento de mar a mar, conforme o projeto da Comissão. É preciso que as águas se renovem, por ocasião das grandes marés, no fluxo e no refluxo; do contrário a obra ficaria defeituosa e poderia mesmo trazer a desagradável impressão (embora bem atenuada) do canal do Mangue no Rio de Janeiro (*).

Para esta renovação de águas e para manter as descargas livres da obstrução de areias acumuladas pelo mar, serão estabelecidas adufas que represem as águas de preamar e as descarreguem em baixa-mar; este assunto será convenientemente estudado e exposto após a instalação e o funcionamento dos aparelhos.

A propósito da conservação do canal, faz-se necessário punir os que atirem impurezas e pedras às águas, até que todos se habituem a estimar os melhoramentos que a todos pertencem; a lei de proteção dos cursos, tão necessária como fundamental garantia da salubridade do país, compreenderá, certamente, este caso.

Avenidas laterais

Os canais de drenagem, bem como os cursos naturais retificados, devem ficar sempre no centro ou lado de avenidas e ruas, nunca atravessando os quarteirões ou terrenos particulares, para que não se faça servidão imunda das suas águas.

Em Santos as novas avenidas estão abertas com 30 m e 35 m de largura, ficando o canal ao centro.

O tipo de canal (fig. 1) com as banquetas e os taludes gramados, em avenidas arborizadas, é essencialmente apropriado para atenuar a forte reverberação solar das cidades tropicais. O tipo de canal (fig. 2) com o ângulo central de 120 graus, muros marginais e parapeitos (tipo aplicado na rua Rangel Pestana) é mais caro e permite reduzir a superfície ocupada, quando é escassa a largura disponível para as ruas.

Estes canais, com as suas avenidas, constituem um elemento estético de valor apreciável no que está feito; além dos outros serviços sanitários a que se destinam, não é para desprezar o da distribuição da ventilação, quer devido à largura das avenidas, quer favorecida pelo próprio curso das águas.

Estas razões reforçam o argumento em favor do indispensável prolongamento dos canais de Santos até a baía, de mar a mar.

Pontes e passadiços

As pontes e passadiços executados são de tipos diferentes, e a variedade é, por sua vez, elemento de estética para obras que não são, e nem devem ser, de caráter meramente utilitário.

Esse predicado não podia ser desprezado em Santos, o grande empório comercial, a cidade de recepção para os que, vindos do mar, se destinam a S. Paulo, ou apenas por aqui passam para terras estranhas e daqui devem levar boa lembrança. Este é o programa do Governo e a ele procurou satisfazer a Comissão do Saneamento.

Aquelas obras de arte são de concreto armado, mas o modo de fundar algo oferece de interessante sob o ponto de vista técnico. Sabe-se que a regra, na arte de construir, é fundar sobre planos horizontais, em um só plano ou em degraus.

Vamos dar uma explicação a todos acessível, das fundações das novas pontes. Elas não são feitas em planos horizontais; - serve de fundação a própria superfície cilíndrica do canal, reforçada na proporção dos ferros e com as nervuras transversais, espaçadas de três em três metros. É aliás intuitivo que a estabilidade seria obtida para obras pesadas construídas sobre esta superfície côncava, à semelhança do que se faz estabelecendo pesadíssimas construções mecânicas sobre as superfícies côncavas dos navios; teremos as nervuras ou as cavernas, para o reforço do esqueleto do canal ou do navio (figs. 3, 4 5). Dito isto, é fácil compreender a razão de ser da construção, e o mais se resume na indagação da distribuição das pressões no terreno e nas alvenarias.

Nas pontes das avenidas Conselheiro Nébias e Constituição, foram aproveitadas, como galerias laterais de descarga, virolas de cimento armado existentes, com o diâmetro de 1,60 m (fig. 3); assim, o vão central ficou limitado a três metros, o que permitiu dar às pontes a pequena espessura de 15 cm a 18 cm, deixando por baixo um vão livre de 2,50 m a 2,70 m de altura, para a franca passagem de escaleres de passeio, por ocasião das grandes marés, ou para aquele mister represando as águas.

A prova da grande economia realizada com os novos tipos de pontes está no seguinte: - a nova ponte, incluindo o preço do material que já existia (trilhos e virolas), e o da ornamentação, custou cerca de 25 contos, ou menos dez contos que a antiga ponte, na mesma avenida.

As pontes das ruas Constituição e as de Braz Cubas são de estilos diferentes.

A ponte na Rua Senador Feijó não se destina a trânsito pesado, visto que o traçado dos bondes elétricos estava projetado por (N.E.: "por" no sentido de "via Rua") Braz Cubas: destina-se apenas a facilitar o pequeno trânsito de carruagens e automóveis e constitui um motivo ornamental. É a ponte de construção mais leve, tendo apenas 15 cm de espessura em vão de 5,40 m, podendo, entretanto, dar passagem a duas carruagens do peso total de 16 toneladas.

O tipo de construção se aproxima do tipo Matrai, ou de uma pequena ponte suspensa com os cabos de aço cobertos de cimento (fig. 4); estes cabos, de duas polegadas de diâmetro, envolvem o canal e fecham em ciclo os esforços fletores e resistentes; os cabos existiam nos depósitos da Comissão desde 1892. Está calçada com asfalto e escória de ferro.

A ponte Ana Costa (fig. 5 B) é bastante ampla para o mais movimentado trânsito de bondes e outros veículos, no cruzamento de duas avenidas. Os seus parapeitos são ornamentados por duas calhas em que as folhas multicores dos crotons lhes dão o desejado realce.

Na extremidade do canal, na praça do Mercado, e junto às pontes Braz Cubas e Ana Costa, estão feitas as escadas de acesso para as embarcações.

Alguns passadiços oferecem certo interesse pelo aspecto leve da construção; no tabuleiro de cimento armado foram feitas aberturas transversais para o enxugo, à semelhança do que se faz nos pavimentos de madeira.

As canalizações de ferro para água e gás passam sob o passeio das pontes, em caixas facilmente reabertas para qualquer conserto ou substituição; aí passarão também os emissários de tubos de ferro das estações elevatórias distritais. Junto às pontes das ruas Constituição e Senador Feijó se vêem tubos de ferro que atravessam o canal perto do fundo - são canalizações provisórias do esgoto antigo, e que desaparecerão brevemente, após a execução da rede nova.

A ornamentação das pontes, com o granito artificial, ou mosaico, de cimento e mármore, foi executada pelo artista D. Savorelli, estabelecido em Santos.

Seja dito de passagem que algumas pessoas pensam constituir um grande incômodo público não haver uma ponte em cada cruzamento de rua; outras pensam que as pontes devem ter a largura e o nível das ruas... Os exemplos instrutivos, dados pela generalidade das cidades em análogas condições, são os melhores argumentos para corrigir a insensatez das reclamações ou das críticas.

Valor das obras concluídas

As obras de drenagem superficial, inauguradas a 27 de agosto de 1907, compreendem os serviços constantes dos Quadros juntos, mencionando as quantidades de obra e o custo dos trechos inaugurados.

Temos, portanto, dois quilômetros de canais prontos e inaugurados em agosto de 1907, além de cerca de 500 metros de afluentes, quinze obras d'arte e os serviços extraordinários mencionados. Estas obras, excluindo a quota de administração geral (almoxarifado, escritório central etc.), comum a todos os serviços a cargo da Comissão, incluindo, porém, o ordenado do engenheiro e a conservação das obras, importaram em quantia inferior à da verba autorizada (...)

A população de Santos, os visitantes estrangeiros e nacionais, têm dispensado a estas obras elevado apreço, o que realça o ato do Governo mandando executá-la e justifica a necessidade do seu prosseguimento. Além das representações feitas à Câmara Municipal e ao Snr. Dr. secretário da Agricultura, há que destacar o eloqüente apoio dos proprietários que cederam, gratuitamente, os seus terrenos, em extensão superior a oito quilômetros por 35 m de largura.

Quadro n.1

Especificação e quantidades dos serviços executados
até 27 de agosto de 1907

Número de ordem

Especificação

Quantidades

Retificação do Ribeirão dos Soldados, até passar a Avenida Ana Costa
1.360,00 m

2

Canal Braz Cubas:
a) trecho em galeria
b) trecho em canal com o fundo de raio 0,80 m, tipo especial
c) trecho em canal de raio 1,00 m, taludado
 
217,00 m
156,00 m
 17,00 m

3

Galeria, córrego M.Serrat
18,20 m

4

Galerias pluviais afluentes (Avenida Conselheiro Nébias, Rua Braz Cubas)
148,00 m

5

Coletores de manilhas afluentes
325,25 m

6

Canalete da Usina terminal, raio 1 m (Cachoeirinha)
278,00 m

7

Pontes:
a) abertura do canal 9,00 m
b) vão 5,40 m
c) vão 2,00 m
d) ponte-galeria vão 1,60 m
 
2
3
1
6

8

Passadiços
3

9

Remoção de terra para aterro de avenidas e do antigo Rio dos Soldados
15.940,00 metros cúbicos

10

Muros e passeios, em terrenos cedidos para o alargamento
616,65 metros lineares

11

Calçamento da Viela sanitária e das ruas
1.251,30 metros quadrados

12

Serviços diversos:
Derivações de cursos; modificações de encanamentos de água, gás e esgotos; postes para a iluminação do Canal Rangel Pestana; assentamento de meios fios; passeio nos canais; arborização das margens; remoção de pequenas casas; indenizações de benfeitorias etc.

RESUMO

 

A

Extensão total de canais e canaletes
2.030,00 m

B

Idem de afluentes
491,45 m

C

Idem de bueiros de 0 ,60 x 0,60 m
104 m

D

Número total de pontes e passadiços
15

(*) Em diversos opúsculos e artigos para o Jornal do Comércio, tenho mostrado a necessidade do prolongamento do Canal do Mangue, de mar a mar, indicando como preferíveis um dos seguintes traçados:

a) contando a Praça da República, passando ao sopé do morro de Santo Antonio e atravessando o Largo da Lapa (v. Esgotos de Santos, pág. 34, 1903);

b) cortando os terrenos de arrasamento do morro do Senado e vindo sair na Lapa pela então projetada avenida Mem de Sá, que deveria ter sido oportunamente alargada (v. artigos anexos ao opúsculo Águas pluviais).

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