Trecho de matéria publicada em 1/4/1990 no jornal santista A Tribuna
Uma cidade de muitos rios esquecidos
Ivani Ribeiro da Silva
Santos é uma cidade com inúmeros cursos d'água. Os
maiores e mais importantes, até o final do século passado (N.E.: século XIX),
eram os ribeirões do Itororó, de São Jerônimo e de São Bento, os mananciais de água potável para a população. Também havia
o Ribeirão do Seixas - ou Rio dos Soldados - que saía do estuário e seguia o atual traçado das avenidas Campos Salles, Rangel Pestana e Pinheiro
Machado; existiam ainda os rios Branco e Dois Córregos. Esses dados constam do mapa de José Pereira Rebouças, de 1903,
pesquisado agora pelo santista José Paulo Saddi.
Quase todos esses cursos foram canalizados por baixo de ruas e avenidas, ou tiveram
seus leitos desviados para os canais de drenagem idealizados por Saturnino de Brito e construídos a
partir de 1905. Este é o caso do Dois Córregos, que vinha do estuário, cortando o Macuco, e virava para o lado da
praia, onde depois surgiu o Bairro do Gonzaga. A outra ponta do rio (na praia) ficava exatamente onde foi traçada a divisa do
Gonzaga com o Boqueirão.
Quando começaram a ser construídos os canais, foi aberta a Avenida Washington Luiz
(mais tarde Canal 3). Ela começava no ponto onde terminava o Rio Dois Córregos e seguia numa reta até a altura da linha férrea que iniciava na Rua
Braz Cubas e, à altura da Rua Barão de Paranapiacaba, seguia para o José Menino.
O leito do trecho do Dois Córregos que virava em direção à praia ficava entre as
avenidas Ana Costa e Washington Luiz, foi aterrado e o curso d'água desviado para o Canal 3. Um pedaço desse antigo leito corta a Rua Goiás,
coincidentemente nas imediações do Edifício Maison Moulin Rouge.
Na coleção A Baixada Santista - Aspectos Geográficos, editada pela USP, o
professor José Carlos Rodrigues comenta que grande parte do solo da Baixada é constituída por terrenos pantanosos, incapazes de suportar cargas
apreciáveis.
Desde a década de 60, quando se intensificaram as construções de edifícios na Cidade,
José Carlos diz: "...as sondagens para fundações de edificações pesadas têm amiúde revelado, sob as areias, espessa
camada de vasa (material lodoso próprio do fundo de rio ou mar) inconsistente".
A areia é bom material de sustentação de cargas pesadas, mas, em Santos, há muitos
terrenos arenosos com lodo embaixo. Neste caso, há risco de o peso fazer o terreno ceder. José Carlos sugere que sejam feitas estacas atravessando o
lodo até encontrar terreno firme, mas destaca que, em determinados espaços, elas têm que ser tão longas a ponto de encarecer excessivamente as
edificações. |