Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0047.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/09/06 19:31:27
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Marapé, esquecido em 1938

Problemas de um bairro que então apenas começava a ser urbanizado

Matéria publicada em uma quarta-feira, o dia 7 de setembro de 1938, no jornal santista A Tribuna (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda - grafia atualizada nesta transcrição):


"Um trecho quase intransitável da Rua Dr. Saturnino de Brito"
Foto e legenda publicadas com a matéria

PROBLEMAS LOCAIS-III
Marapé, o bairro esquecido
Ruas inacessíveis - Falta de iluminação - Moscas e mosquitos - Contrastes

A zona suburbana da cidade está totalmente povoada. Campo Grande, Macuco, Vila Hayden, Vila Jockey (N.E.: área no atual bairro Aparecida, onde funcionou um Jockey Clube) e Marapé já não são várzeas. Cresceram. E sob os nossos bairros, preferencialmente, habitados por gente de limitados recursos econômicos. Porque o problema da habitação nesses distritos suburbanos se resolve sem as dificuldades que empolgam a gente do centro urbano. Os aluguéis são cômodos. Predominam as edificações de madeira, algumas confortáveis, elegantes, com relativo luxo de detalhes arquitetônicos, e outras acanhadas, mal construídas, anti-higiênicas, assemelhando-se a pombais...

Nos chalés de madeira, até a taxa de água é reduzida, em relação às casas de tijolo. Por isso, a preferência da gente pobre, da gente operária, pelos chalés e, conseqüentemente, pelos bairros.

Mas a população suburbana, magnífica fonte de renda para o município e para o Estado, não conta com os cuidados dos poderes governamentais. Os bairros estão esquecidos. Suas ruas não têm calçamento nem iluminação. O policiamento é falho e deficiente o serviço de esgotos. São paragens de clima ameno, agradável, mas que se vêm tornando insalubres diante do descaso das autoridades sanitárias e municipais.

O Marapé - O Marapé é um bairro novo, pode-se dizer. Cresceu em pouco tempo. Lá se dissemina uma população densa, sempre pressurosa em atender aos imperativos fiscais. Mas é um bairro sem higiene, apesar de distar poucos minutos da praia, onde as edificações se levantam luxuosas, elegantes.

A reportagem da A Tribuna esteve ontem em visita a esse distrito suburbano. Não há nenhuma rua calçada. A iluminação é mal distribuída, havendo ruas em trevas. É de assinalar também que várias vias públicas, embora totalmente edificadas, ainda não foram entregues à Prefeitura. São chamadas ruas "projetadas", que se eternizam no abandono, com aquele jocoso título.

A Avenida Pinheiro Machado, que é cortada em toda a sua extensão pelo canal n. 3 (N.E.: atualmente denominado canal nº 1), apresenta-se como a principal artéria do bairro. É trafegada pela única linha de bondes que serve o Marapé. Mas não está calçada. É um extenso areal...

A Rua Saturnino de Brito apresenta uma faceta curiosa. Essa via pública, ao cruzar com a Carvalho de Mendonça, sofre solução de continuidade. Naquele ponto, dividindo a rua, se levantam 2 ou 3 chalés de maneira que o transeunte, para alcançar a outra parte da via pública, é obrigado a um longo trajeto.

E o pior é que essa rua, que tem o nome de um dos mais notáveis higienistas brasileiros, está em condições deploráveis. Totalmente coberta de capim, pelo menos até a Rua Carvalho de Mendonça, com valas mal cuidadas, cheias de vegetação ordinária e com águas sem escoamento, constituindo, dessa maneira, focos de infecção, não dispõe ainda a "Saturnino de Brito" de iluminação, como muitas outras ruas do bairro.


"Uma parte da rua Projectada 105, vendo-se, à direita, a valla coberta de matto"
Foto e legenda publicadas com a matéria

A Rua Projetada 105 (N.E.: que em 30/9/1948 ganharia o nome de Rua 9 de Julho), que lhe é transversal, apresenta depressões extravagantes de terreno. Contou-nos um morador que, há tempos, e por sua iniciativa, foi organizada uma subscrição para compra de pedregulhos e areia, a fim de aterrar vários trechos da rua, tais as depressões que o terreno oferecia.

A avenida Contorno (N.E.: que em 9/4/1954 receberia o nome de Avenida Dr. Nilo Peçanha), aberta na encosta do morro, é um logradouro inacessível em dias de chuva. O barro que se desloca do morro forma, nessas ocasiões, verdadeiros lodaçais, obrigando o transeunte a arriscadas provas de equilíbrio.

Pelas imediações daquela "artéria", onde residem centenas e centenas de famílias japonesas, estas transformam os pequenos espaços de terrenos de suas residências em currais de porcos, que causam exalações insuportáveis, principalmente nos dias de calor, com grave risco, como é de ver, para a saúde dos moradores das proximidades.

Mas esse não é um mal isolado. De males, o bairro do Marapé está inundado.

É preciso que se zele pela saúde daquela gente!

QR Code - Clique na imagem para ampliá-la.

QR Code. Use.

Saiba mais