Imagem: reprodução parcial da pág. 1 de A Província de São Paulo de 24/12/1884 (nota: coluna
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Os acontecimentos em Santos
Acabo de saber por telegrama das violências praticadas contra
o material da iluminação a gás, e de transporte por carris de ferro, serviços explorados pela City of Santos Improvements
Company Limited, da qual sou o advogado.
Não acredito que o motivo de tão irregular procedimento seja o invocado - regularização de
penas d'água. (N.E.: pena d'água era a cota básica de água fornecida a um domicílio).
Em virtude do contrato da companhia com a câmara municipal e com a expressa autorização desta,
regularizou a companhia o fornecimento de água nas casas, por meio de penas, dando quinhentos litros de água em 24 horas.
Já se havia regularizado perto de 150 penas em outras tantas casas, quando um indivíduo se opôs
com armas a que se tocasse no encanamento que fornece água à casa de que ele é inquilino.
O gerente suspendeu todo o serviço, chamou-me a Santos e depois de haver empregado todos os meios
para que tudo se concluísse em paz, voltei a S. Paulo sábado, assegurando tornar terça-feira para fazer prosseguir no serviço de regularização das
penas, com a minha presença em Santos; pois que se queixavam do modo pouco cortês por que procediam os empregados da companhia.
De então para cá, nada fez a companhia senão publicar no Diario de Santos
o anúncio que faço transcrever em seguida, e que revela o seu empenho em caminhar em paz, sem ofender de modo algum a população.
Sabia-se que, para evitar conflitos, o exmo. sr. dr. chefe de polícia, que estivera, por este
motivo, em Santos, voltaria amanhã, sem acompanhar-se de força, porque a ninguém de bom senso é lícito acreditar que se revoltem duas mil pessoas
por motivo tão fútil; acrescendo que não há mais de seiscentas casas servidas de água por encanamento nelas, e apenas quatro ou cinco indivíduos
prometem resistir à regularização das penas, pretendendo-se com direito a ter água sem conta nem medida.
Assegura-se-me que o juiz municipal concederá embargo nas obras da companhia, a requerimento
daqueles que invocam a posse do serviço d'água por canalização particular e sem medida.
Manifestei sempre que obedeceria a toda e qualquer intimação judicial, por mais injusta que me
parecesse, preferindo regular as questões pelos meios legais, a responder às injúrias e ameaças dirigidas ao gerente da companhia particularmente, e
pela imprensa.
De nada fora intimada a companhia e nada também fez esta, depois que os operários foram obrigados
a suspender o serviço da regularização da pena na casa de que é inquilino o dr. Garcia Redondo
(N.E.: o engenheiro carioca Manuel Ferreira Garcia Redondo foi um dos
fundadores do Núcleo Republicano em 1879. Escritor e poeta, participando nos jornais O Commércio de Santos e
Diário de Santos, chegou a Santos em 1876, nomeado pelo governo
imperial para superintender as obras de reconstrução da Alfândega. Projetou e construiu o Teatro Guarani).
O que pois podia motivar os acontecimentos de hoje?
Asseguro que o gerente da companhia é homem da mais fina educação, e incapaz de provocar por
qualquer modo tais violências.
Seguindo agora para Santos, comprometo-me a dar ao público notícia dos fatos que possam esclarecer
as causas destes acontecimentos que todos deploramos, mas que a companhia, repito, não provocou.
Lins de Vasconcellos
The City of Santos Improvements Comp. Limited
O gerente da City of Santos Improvements Comp. Limited, desta cidade, abaixo assinado, previne aos
srs. consumidores d'água desta companhia, que, tendo de fazer o serviço de regularização das penas dos srs. consumidores, pede aos mesmos que
facilitem o referido serviço. Pede mais aos mesmos senhores desculpa no caso de ser forçado a cortar a comunicação d'água àqueles que se recusarem a
esta regularização, esperando que tal não aconteça em virtude de ser a execução de seu contrato. Santos, 20 de dezembro de 1884 - H. K. Heyland,
gerente.
Imagem: reprodução parcial da pág. 1 de A Província de São Paulo de 24/12/1884, coluna 4
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