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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TEATRO GUARANY
Teatro Guarany quase vira floresta urbana (10)

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Ao primeiro olhar, uma foto publicada em 12/5/2004 engana o observador distraído, que pensará ver uma cena de bosque, numa cidade serrana do interior paulista. Só com a explicação ele se localizará e perceberá que no primeiro plano o bosque são as ruínas do Teatro Guarany, bem no centro de Santos, e que teve em 1881 lançada a sua pedra fundamental. Em dezembro de 2008, o imóvel recuperado foi reentregue festivamente à população, conforme informou o Diário Oficial de Santos na edição de 6 de dezembro de 2008:
 


Restaurado, teatro Guarany reabre amanhã no Centro Histórico - Após anos de abandono, casa de espetáculos vai abrigar escola de artes cênicas; programação festiva começa às 19h30, na Praça dos Andradas, com a Sinfônica de Santos
Imagem: reprodução da primeira página do Diário Oficial de Santos de 6 de dezembro de 2008

Revitalizado, Teatro Guarany é devolvido à cidade

Santos terá de volta amanhã um grande espaço das artes, da cultura e de sua história. O Teatro Guarany será entregue à população pela prefeitura, totalmente restaurado, para abrigar espetáculos e a escola municipal de artes cênicas. E também impulsionar ainda mais a revitalização do Centro Histórico.

Para marcar a entrega do teatro, abandonado por décadas, a partir das 19h30, a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos executa trechos da ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, ao ar livre, na Praça dos Andradas, em frente ao imóvel restaurado. Após o espetáculo, ocorrerá visita monitorada ao Guarany.

A obra de reconstrução do teatro, inaugurado em 7 de dezembro de 1882, respeitou as formas originais do prédio na sua parte externa e refez toda a área interna – destruída por incêndio em 1981 -, com infra-estrutura de moderna casa de espetáculos.

Ao custo de R$ 6,7 milhões, viabilizado pela iniciativa privada, por meio da Lei Rouanet, o projeto foi elaborado pelo arquiteto Ney Caldatto Barbosa, da Seplan (Secretaria de Planejamento).

Os recursos foram captados pela Ama-Brasil (Organização de Desenvolvimento Cultural e Preservação Ambiental), junto às empresas Cosipa-Usiminas, Telefonica, MRS Logística, Cutrale, Petrobras, Fosfertil, Comgás, Bunge, Copersucar e Carbocloro. As obras tiveram início em fevereiro de 2007.

Novo Guarany - Além de platéia com 270 lugares e camarotes – a capacidade total será de 350 pessoas -, o novo Guarany terá ateliê, camarins, café, salas de aula e laboratórios de som e iluminação e de cenografia. As adaptações contemplam acesso para deficientes.

No prédio renovado se destacam as pinturas do teto e do foyer do segundo piso, feitas pelo artista Paulo Von Poser. A primeira retrata cena do romance O Guarany, de José de Alencar, e da ópera composta por Carlos Gomes.

A outra é uma releitura do artista para o quadro de Benedicto Calixto, que mostra Santos vista do alto do Monte Serrat.

A sala de espetáculos receberá o nome de Carlos Alberto Soffredini, autor e diretor santista. Já a Escola de Artes Cênicas da Secult (Secretaria de Cultura) será denominada Wilson Geraldo, diretor de teatro amador.

Externamente, a fiação para a iluminação foi embutida sob o piso e os postes são de época, semelhantes aos da Rua XV de Novembro. A fachada do teatro terá ainda luz especial.

Detalhes da beleza arquitetônica
Fotos: Marcelo Martins,

publicadas com a matéria


Capacidade total é para 350 pessoas
Foto: Vanessa Rodrigues, publicada com a matéria

Histórico - Por volta de 1876, um grupo formado por pessoas da sociedade santista fundou a Associação Theatro Guarany. O objetivo era a construção de uma nova casa de espetáculo para substituir o antigo armazém situado no Largo da Misericórdia (atual Praça Mauá), que abrigava os eventos do município.

Em 1981, incêndio destrói área interna
Foto: Arquivo Secretaria de Comunicação (Secom)/

Prefeitura de Santos, publicada com a matéria

Em 6 de junho de 1880, a Associação Theatro Guarany abriu inscrições para o concurso que escolheria o projeto arquitetônico para construção do teatro. Dentre os inscritos, o vencedor foi o engenheiro carioca Manuel Ferreira Garcia Redondo, com um projeto de inspiração neoclássica. A execução ficou a cargo da serraria e carpintaria de Tomaz Antonio de Azevedo. Benedicto Calixto era funcionário da serraria e foi o responsável pela pintura das paredes e do teto, além de um dos panos de boca do palco do teatro. Por esse trabalho, Calixto ganhou renome e a oportunidade de estudar na Europa.

Além das pinturas, o Guarany ostentaria a riqueza da gente que investira nele. Os materiais empregados eram de primeira qualidade. As paredes externas, por exemplo, foram feitas em alvenaria de pedra, antiga técnica portuguesa.

Em 7 de dezembro de 1882, após atraso de 11 meses na obra por motivos financeiros, o Teatro Guarany, nome dado em homenagem a José de Alencar e Carlos Gomes, abria suas portas com a exibição do drama Mário, extraído do romance Marthe de Kerven, de Eduardo Capendu, adaptado curiosamente pelo autor do projeto, o engenheiro Manuel Ferreira Garcia Redondo. A partir desse momento, o Guarany receberia personalidades do porte de Sarah Bernhardt (1886), Emanuel Giovani (1887), Rejane (1902) e Artur Azevedo (1907).

Além de grandes eventos artísticos, o teatro abrigou manifestações abolicionistas, incluindo discursos de José do Patrocínio, palanque para atos republicanos e até cerimônias fúnebres, como no falecimento de Carlos Gomes (1896), quando seu corpo passou por Santos a caminho de Campinas.

Por volta de 1910, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia adquiriu o teatro. O imóvel passou por reforma, retomando suas atividades e recebendo expoentes da cultura brasileira, como Olavo Bilac (1917) e Júlio Dantas (1923). Com a inauguração do Teatro Cassino Parque Balneário (1923) e do Coliseu (1924), o Guarany sofreu um duro golpe. Os dois novos prédios renovaram as exigências da burguesia cafeeira, que o trocou pelas duas novas casas.

O prédio serviu de ambulatório na Revolução de 1924. Foi concentração de oposicionistas ao regime de Vargas, na Revolução de 1932. Com o passar do tempo exibiu apenas espetáculos menores, sem grande projeção. Nos anos 50 sofreu profundas alterações em seu interior, onde foi instalado um cinema, bar e loja comercial, marcando o declínio do espaço.

Ficou assim até meados de 1980, quando a Santa Casa quis vender o imóvel. No mesmo ano o Condephaat decidiu pelo tombamento. Em seguida a este anúncio, um incêndio destruiu o interior da casa de espetáculos. O imóvel permaneceu abandonado. Somente a partir de 1994, a Santa Casa leiloou o teatro, que foi arrematado por um comerciante por US$ 90 mil.

Em 2003, a Prefeitura de Santos desapropriou o imóvel e iniciou o processo de compra e recuperação total do Teatro Guarany, a partir do Programa de Revitalização da Região Central Histórica, o – Alegra Centro.


Funcionários dão os retoques finais no prédio para a festa de reinauguração, seguida de visita monitorada
Foto: Vanessa Rodrigues, publicada com a matéria

Áurea entrou na casa de espetáculos em 1928

Nascida em Santos em 14 de dezembro de 1918, Áurea Abrantes da Silva, filha de portugueses, que se conheceram no Brasil, entrou no Teatro Guarany em 1928, quando tinha dez anos. Na ocasião, ela estudava na Escola Portuguesa, que sempre nos finais de ano promovia a confraternização dos alunos.

Primeira visita foi uma confraternização
Foto: divulgação, publicada com a matéria

"Em 1928, a festa ocorreu no Teatro Guarany e minha professora pediu que eu declamasse um poema. Eu até ensaiei uns dias, mas acabei desistindo por vergonha. Recordo de detalhes do espetáculo, que mostrou peças de música, dança e poesia. Lembro até de um trecho que ia declamar. Era assim: 'O meu corpinho leve e gentil, com muitas graças, com graças mil'". Em relação ao Guarany, Áurea diz que guarda boas lembranças.

"Era um teatro bonito, aconchegante e popular, bem limpo, de piso de cimento e com poltronas de madeira. Infelizmente, foi a única vez que pisei lá, pois meu pai não tinha dinheiro e nem deixava as filhas saírem". Sobre a restauração, completou: "Acho muito importante a recuperação do Guarany, pois foi um lugar relevante no passado e particularmente para mim traz muitas lembranças, porque eu morava naquela região, no bairro do Paquetá".


Até início das obras de recuperação em 2007, imóvel foi retrato da decadência e do abandono
Foto: Francisco Arrais, publicada com a matéria

Programação

Amanhã

19h30 - Orquestra Sinfônica Municipal de Santos

Programa: Carlos Gomes – trechos da ópera Il Guarany

Solistas: Gabriela Pace (soprano), Marcelo Vanucci (tenor) e Sebastião Teixeira (barítono); narração: Silvio Roupa (ator); Regência: maestro Luís Gustavo Petri / Direção: Cléber Papa

Após o concerto haverá visita monitorada, ao som do saxofonista Caio Mesquita

 

Segunda-feira

das 11h às 17h: visitas monitoradas e abertas ao público

19h30 - Coral Municipal de Santos

Regência: maestro Roberto Martins

Entrada franca com retirada de ingressos

 

Terça-feira

das 11h às 17h: visitas monitoradas e abertas ao público

19h30 - Camerata Heitor Villa-Lobos. Direção artística: prof. Antônio Manzione. Entrada franca com retirada de ingressos

 

Quinta-feira

19h – noite de autógrafos do livro: Theatro Guarany – O renascer de um palco centenário, de autoria de Taís Assunção Curi Pereira

Local: Livraria Realejo (Av. Marechal Floriano Peixoto, 44 – Miramar Shopping)

Patrocínio: Cosipa-Usiminas

 

Dias 13 e 14

das 11h às 17h: visitas monitoradas e abertas ao público

Espetáculos da Escola de Artes Cênicas da Secult

15h – A Revolta dos Perus (infantil)

19h – Bailei na Curva (adulto)

Direção artística: André Leahun. Entrada franca com retirada de ingressos

 


Maquete eletrônica do teatro restaurado
Imagem enviada a Novo Milênio por Amélia Fernandez Gonzalez, da Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura Municipal de Santos/Departamento de imprensa


O teatro, restaurado, em dezembro de 2008
Foto: Vanessa Rodrigues, enviada a Novo Milênio por Amélia Fernandez Gonzalez, da Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura Municipal de Santos/Departamento de imprensa

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