Ponte Pênsil
Exemplo de capacidade da engenharia brasileira, quer pela aparência
monumental, quer pela solidez, a Ponte Pênsil, em São Vicente, inaugurada em 1914, é, sem dúvida, um verdadeiro monumento
do qual se orgulham brasileiros de todos os cantos.
Construída com tecnologia alemã, cujo material chegou ao Porto de Santos entre 1911 e 1913. Todo o material foi
encomendado à Casa August Klênne Dortmund, na Alemanha. A ponte é suspensa por cabos de aço e seu piso
de madeira está 6,5 metros acima da maré mínima e a 4 meros da maré máxima. Suas torres de sustentação atingem 20 metros de altura e suportam, cada
uma delas, quatro cabos de aço. As torres têm, ainda, oito metros enterrados em concreto no solo.
Na realidade, são dezesseis cabos de aço num comprimento de 286 metros. A carga máxima comportada pela ponte é de
sessenta toneladas, sua extensão é de 180 metros com pista de 5 metros de largura e leito para pedestre de 1,4 metro. Sob a ponte passam os
emissários de esgoto.
A Ponte Pênsil surgiu da necessidade levantada pela Comissão de Saneamento de Santos, presidida pelo engenheiro
Saturnino de Brito, de elaborar uma planta de reurbanização para Santos, isto em 1910. A recomendação era para
que figurasse um plano completo de esgoto por meio de estações elevatórias, sendo que os despejos da cidade seriam
recalcados no bairro do José Menino.
A necessidade de conduzir até a ponta do Morro do Itaipu (São Vicente) e José Menino obrigou a comissão a planejar
uma ponte na cidade vicentina, entre os morros dos Barbosas e Japuí, atravessando o Mar
Pequeno na sua parte mais estreita.
O Clube de Regatas Tumiaru, cuja garagem de arcos ficava na encosta do Morro dos
Barbosas, onde começaria a ponte, deu lugar ao canteiro de obras e transferiu a garagem para o Japuí. Enquanto se dava a construção da ponte, o
engenheiro Miguel Presgreave já tinha providenciado a abertura da Avenida Getúlio Vargas, circundando o Morro dos Barbosas com murada de pedras e
quebra-mar do lado da praia, onde, até hoje, pescadores amadores passam horas tentando fisgar um peixe.
De expressão e beleza arquitetônicas sem
par, a Ponte Pênsil é hoje monumento conhecido no mundo inteiro
Imagem: reprodução da página 25 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
Maio de 1914: um colosso suspenso espanta o Brasil
Homens e mulheres elegantes tomaram conta de São Vicente. Tudo era
festa naquela tarde de 21 de maio de 1914. Estava sendo inaugurada a Ponte Pênsil, uma obra-prima suspensa por cabos de aço. Um verdadeiro colosso.
Não apenas a região, mas São Paulo inteira estava agitada com a notícia. um vagão especial chegou a Santos pela
São Paulo Railway Co., da capital, com várias autoridades. Uma caravana de mais de vinte carros,na qual se
encontrava o dr. Washington Luis, então prefeito de São Paulo, também estava chegando.
Toda a comitiva foi recebida na cabeceira da ponte pelo prefeito de São Vicente, o capitão Antão Alves de Moura, e
pelo presidente da Câmara Municipal. No local, um completo bufê com doces, frios, licores e champanha. A Banda do
Corpo de Bombeiros de Santos também estava lá. O grande pintor Benedito Calixto exibia, na cabeceira da
ponte, dois grandes quadros a óleo representando a maravilha que estava sendo inaugurada.
Finalmente, um momento único, de incontida emoção: a transposição da Ponte Pênsil pelos convidados e populares a
pé, depois por 200 carros em direção a Japuí, Praia Grande, Itanhaém...
Assim, de Martim Afonso de Souza à Ponte Pênsil foram quase quatro séculos com a
travessia para o litoral feita por barcos e posteriormente por balsas pelo estreito vicentino. A economia rural, até então, era escoada por água ou
no lombo dos cavalos pelas picadas, que no futuro seriam a Rodovia Pedro Taques, hoje Padre Manoel da Nóbrega. A Ponte Pênsil tornou-se um marco na
economia paulista.
Sua inauguração, em maio de 1914, agitou
o país
Imagem: reprodução da página 25 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
Amor a um monumento
De largos bigodes, um eterno cachimbo que não tirava da boca, mesmo
quando o fumo já havia queimado por inteiro, roupas brancas e olhar severo. Assim era o francês Fernando Besson, o primeiro guarda da Ponte Pênsil,
cuja função desenvolveu por 32 anos.
Um de seus netos, Roberto Besson Fernandes, 61 anos, aposentado, residente em São Vicente, conta que seu avô
chegou ao Brasil, mais precisamente a Santos, em 1910 e, quando construída a ponte, foi designado seu guardião.
A tarefa era árdua, afinal, Besson trabalhava dia e noite cuidando para que automóveis e caminhões não
desenvolvessem velocidade acima do limite. Para que os pedestres, principalmente as crianças - entre eles o dr. Alberto Lopes, advogado e
ex-vereador, que ainda reside do outro lado da cabeceira da ponte (Japuí), na época um moleque traquina -, não atravessassem a ponte pela parte
destinada aos veículos, nem incomodassem os motoristas, e para afugentar os casais de namorados.
Logo depois, os problemas do guardião Besson com a criançada iam além do pequeno Alberto e outros meninos. Seus
filhos também eram muito peraltas (Besson teve oito filhos). Pior ainda foram os netos, entre eles o próprio Roberto, que fazia da murada da ponte
trampolim para mergulhar no Mar Pequeno, brincadeira perigosa que alguns ainda se atrevem a fazer.
O guardião Besson morava na casa especialmente construída para ele, na cabeceira da ponte junto ao Morro dos
Barbosas. Mesmo com a construção do destacamento da 4ª Cia. de Polícia Militar no local, a casa foi mantida. Besson faleceu em 1946, com 72 anos de
idade e numa das poucas entrevistas que deu, disse: "A minha vida é tomar conta desta ponte. Habituei-me tanto com ela que penso em não a deixar. Só
quando morrer".