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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS DIRIGENTES
Carlos Caldeira Filho


De 7/5/1979 a 28/1/1980 

Dirigente do grupo editorial Folha de São Paulo, em Santos representado pelo jornal Cidade de Santos, tinha a ambição de dirigir o município em que nasceu, o que fez durante pouco mais de oito meses. Faleceu em 13 de maio de 1993.


Carlos Caldeira Filho
Foto: jornal santista A Tribuna, em 5 de maio de 1979


Carlos Caldeira Filho, em ato homenageando a padroeira de Santos, defronte ao Paço Municipal
Imagem: detalhe de foto publicada no jornal santista A Tribuna, em 9 de setembro de 1979, página 7

Um ano depois de deixar o cargo de prefeito, Carlos Caldeira Filho foi homenageado com o título de Cidadão Emérito de Santos, o que foi registrado pelo antigo jornal diário Cidade de Santos, na edição de 26 de janeiro de 1981:


O novo "Cidadão Emérito" e sua esposa, dona Leodéa Bierrenbach de Lima Caldeira
Foto publicada com a matéria

Caldeira, Cidadão Emérito

"Agradeço a Deus por esta oportunidade de poder servir à comunidade santista. Dele, certamente, virão as forças de que necessito para levar a bom termo esta empreitada, que espero transmitir ao meu sucessor, já, então, eleito pelo voto direto."

Com estas palavras, ditas a 7 de maio de 1979, no salão nobre do Palácio José Bonifácio, Carlos Caldeira Filho assumia a Prefeitura Municipal de Santos, nomeado que fora, dois dias antes, para o cargo, pelo governador Paulo Salim Maluf. A 28 de janeiro do ano passado, após ter renunciado ao cargo, transmitiu-o ao presidente da Câmara, vereador Washington Mimi Di Giovanni, depois de 8 meses e 21 dias de administração calcada nos interesses da comunidade.

Pelo seu trabalho voltado para o povo e por sua pertinácia na defesa da restauração da autonomia municipal, Carlos Caldeira Filho recebe hoje, às 17 horas, durante a sessão solene da Câmara, comemorativa ao Dia da Cidade, o título de "CIDADÃO EMÉRITO DE SANTOS".

A iniciativa dessa homenagem partiu do vereador Osvaldo Carvalho De Rosis (PTB), em sessão secreta da Câmara Municipal, merecendo a aprovação unânime das bancadas de todos os partidos políticos, na primeira sessão do mês de dezembro. Também a comunidade, por seus setores mais representativos, associou-se à homenagem do Legislativo, revestindo a outorga de excepcional destaque.

Ainda hoje, às 20h30, nos salões do Caiçara Clube, o ex-prefeito será alvo de outra homenagem, de seus amigos, que lhe oferecerão um jantar informal.

O ato solene desta tarde deverá contar com as presenças já confirmadas do governador Paulo Salim Maluf, vice-governador José Maria Marin, ministro do Superior Tribunal Militar, almirante-de-esquadra Júlio de Sá Bierrenbach, secretários estaduais, prefeitos da Baixada Santista, da Capital e de vários municípios do Interior, parlamentares e representações de partidos políticos.

Às 11 horas, numa homenagem a seu antecessor, o prefeito Paulo Gomes Barbosa convidou o novo "Cidadão Emérito de Santos" para inaugurar a Escola Municipal "Professora Iveta Mesquita Nogueira", na Avenida Rei Alberto, Ponta da Praia. Trata-se da primeira professora de Carlos Caldeira Filho, cujo nome foi dado a uma escola, durante sua administração, para perpetuar-lhe o exemplo de dedicação e carinho às crianças santistas, durante mais de 50 anos.

O menino simples, que corria pelas ruas da cidade, pelas praias, que vestia a camisa do uniforme oficial do Santos Futebol Clube para vê-lo jogar no "alçapão" da Vila Belmiro, o jovem que um dia partiu para a Capital "sem dinheiro mas com muitas esperanças", e empresário bem sucedido, que um dia casou-se com a sra. Leodéa Bierrenbach de Lima Caldeira, e tem uma filha, Maria Christina, o homem que nunca abandonou as raízes e sempre buscou as lições e o exemplo de seu pai, em todas as atitudes, recebe, hoje, o galardão maior que Santos pode oferecer a um de seus filhos: o título de "CIDADÃO EMÉRITO".


Desde menino, o amor às cores do Santos Futebol Clube
Foto publicada com a matéria

Carlos Caldeira Filho nasceu em Santos, no dia 1º de julho de 1913, filho de Coralina Ribeiro dos Santos Caldeira e do benemérito Carlos Augusto Navarro de Andrade Caldeira, um dos grandes responsáveis pela manutenção do Asilo dos Inválidos, dirigindo a prestante instituição e a ela dedicando cerca de 50 anos de sua vida.

E é justamente a figura de seu pai, na integridade de atos filantrópicos e no amor ao esporte, que marca os primeiros anos de vida do novo "Cidadão Emérito de Santos".

Com uma memória prodigiosa - da qual muito se orgulha e agradece a Deus - Carlos Caldeira Filho lembra seu pai, que nos albores da infância o conduzia pela mão para o "alçapão" da Vila Belmiro, incentivando-lhe o amor palpitante que até hoje devota às cores alvinegras, do Santos Futebol Clube.

Foi Carlos Augusto Navarro Caldeira quem levou o filho para o Santos e assinou-lhe a proposta de sócio, há 52 anos, em 23 de novembro de 1928. E Caldeira Filho lembra alguns momentos felizes de seu convívio com o pai: "Nós chegávamos à Vila às 11 horas e o jogo só começava às 15 horas. Meu pai, como sempre, sobraçando cravos, que vendia em benefício do Asilo dos Inválidos..."

"Certo dia, o doutor Guilherme Gonçalves, corajosamente, expulsou do Santos Futebol Clube seus melhores atletas: Tuffy, goleiro, e Feitiço, o Pelé da época, só porque os dois comportaram-se de maneira pouco gentil numa disputa entre os selecionados Paulista e Carioca, diante do presidente da República, Washington Luiz Pereira de Souza, no Rio de Janeiro..."

Procurando falar pouco de si e muito dos outros, Caldeira Filho relembra episódios dos seus tempos de infância e juventude. Ao relatar seu ingresso no quadro associativo "com meus próprios recursos, porque em novembro de 1928 eu já deixara a escola disposto a começar a trabalhar", o ex-prefeito santista imediatamente evoca a figura de um cobrador, "o Freitas, um sujeito moreno, alto, de bigode, a quem eu pagava minhas primeiras contribuições..."

Ele lembra com facilidade os nomes dos presidentes do Santos, nos tempos em que começou a freqüentar o clube: Flamínio Levy e Agnelo Cícero de Oliveira...

O estudante - Quando fala de seus tempos de estudante, Carlos Caldeira Filho relembra, com saudade e muito carinho, a veneranda figura de sua primeira professora, dona Iveta Mesquita Nogueira. "Lembro bem do colégio de dona Iveta, na Rua Braz Cubas, 158. Lá estudávamos eu, o Carlos Pacheco Cyrillo, que foi o meu secretário dos Assuntos Jurídicos, o hoje falecido almirante Ernesto Mello Júnior, a Beatriz Lacerda, o Armando Maravilha Negra Guimarães, o Jairo Franco. Havia também dois colegas de nomes diferentes: a República e o Brasil. E também o sobrinho de dona Iveta, o Juca, à época com 2 anos, que entrava nas classes andando de patinete. De dona Iveta recebemos o mesmo amor, orientação e incentivo, que caracterizaram sempre o seu trabalho junto às crianças que lhe eram confiadas. Antes de receber de sua tia, Maria Mesquita da Cunha - Dona Mariquinhas -, o colégio da Braz Cubas, dona Iveta lecionou na União Operária, cuja escola era situada na Rua da Constituição. As filhas de Dona Mariquinhas eram professoras, e dona Iveta, a diretora. Nosso colégio era facilmente identificável, pelas duas belas palmeiras imperiais que guardavam a entrada do grande portão de grades de ferro."

E foi homenageando a memória dessa mestra "que, mesmo sendo solteira, podia ser considerada mãe dos milhares de filhos que conquistou durante os seus longos anos de magistério" (ela aposentou-se compulsoriamente aos 70 anos de idade) que, quando prefeito municipal, Caldeira Filho deu seu nome a uma escola, que será inaugurada hoje às 11 horas, pelo ex-aluno e seu companheiro de bancos escolares, Carlos Nonô Pacheco Cyrillo, a convite do prefeito Paulo Gomes Barbosa.

O esportista - O amor ao esporte e especialmente ao Santos Futebol Clube, inspirados por seu pai, acompanham Caldeira Filho em toda a sua vida. Sobre sua foto de garoto, envergando a camisa do Santos, ele comenta rindo: "Será que sem saber eu fui o precursor da torcida jovem?"

Conta que foi nesse tempo que, junto com o amor ao Santos, recebeu as primeiras lições de legalidade. "Meu pai, junto com Flamínio Levy e Urbano Caldeira, foram os signatários do primeiro estatuto reconhecido pela Justiça do País, em 28 de abril de 1922, dando ao Santos Futebol Clube a sua personalidade jurídica".

Esse amor à verdade causou-lhe, em determinado momento - já adulto - muito aborrecimento e mágoa. Quando pretendia salvar o Santos FUtebol Clube, no intrincado caso da compra do Parque Balneário, foi vaiado pelo Conselho, porque o então presidente faltou à verdade e não quis manter, em público, o que lhe revelara dias antes da reunião. O então presidente advertira Caldeira para não assinar um documento, porque, segundo dizia, "a comissão nomeada para tratar do assunto estava na gaveta".

Caldeira evitou ao máximo revelar esses fatos que lhe haviam sido denunciados pelo presidente, ao Conselho. Mas, por amor à verdade, e fiel à memória de seu pai, corajosamente denunciou a trama. Foi repreendido até por um amigo, ao fazer a denúncia, e acabou sendo vaiado, pois o presidente negou-se a confirmar o que lhe relatara em seu escritório. Sua mágoa maior foi por ver que o presidente preferiu não criar brigas, mesmo que isso custasse o sacrifício do seu clube. E isso não suportou porque seu amor ao Santos era maior e só pretendia defender os interesses do alvinegro, o que fez alguns anos depois, demonstrando a todos que "para ajudar o Santos não é preciso ser diretor. Basta apenas ser alvinegro". O episódio do Parque foi solucionado em seu escritório, de forma a não onerar a agremiação em um centavo sequer.

No Santos Futebol Clube, Caldeira Filho ocupou muitas funções no Conselho e Diretoria, além de representar a agremiação em outras atividades ligadas ao esporte. Foi vice-presidente do Conselho, de 1954 a 1956, e vice-presidente da diretoria, em 1957. No dia 7 de janeiro de 1959, recebeu o título de "Sócio Benemérito".

Por indicação do clube, foi vice-presidente do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paulista de Futebol e membro do Conselho Nacional de Desportos, nomeado pelo saudoso presidente da República, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. No dia 6 de abril de 1971, recebeu do Conselho Deliberativo do Santos Futebol Clube o título de "Grande Benemérito". Em 1975, foi indicado para presidente da diretoria, e na hora da posse não pôde ocupar o cargo por motivos de saúde.

A frase, que hoje se encontra afixada na parede do salão nobre do Estádio Urbano Caldeira, é de sua autoria e diz bem o sentido que procurou imprimir em sua atuação como dirigente esportivo, e que deve nortear os seus seguidores: "EU PASSO, O SANTOS FC CONTINUA".

Comprovando essa mesma posição, como simples associado, foi ele quem, em 1958, realizou o primeiro contrato do Santos Futebol Clube para excursão ao Exterior. "Foi na Suécia, em 1959, e foram acertadas 22 partidas em estádios europeus, e eu estava acompanhado pelo meu amigo Giusfredo Santini (N.E.: então diretor-presidente do jornal santista A Tribuna). Por jogo, o Santos recebeu, livres, 2.750 dólares".

Foi também, graças ao seu voto no Conselho Nacional de Desportos, que a "Briosa", a Associação Atlética Portuguesa, deixou de ser rebaixada para a Segunda Divisão de Profissionais.

Sua militância no esporte santista está registrada por suas carteirinhas de associado do Clube de Pesca, na Ilha das Palmas (do qual foi fundador seu tio Nívio Ribeiro dos Santos), do Yatch Clube de Santos, do Clube Internacional de Regatas. E também sócio-honorário do Clube de Regatas Saldanha da Gama, e um dos mais antigos associados da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio, na qual se inscreveu há mais de 50 anos.


Caldeira, soldado de 1932, entre os tios Corálio, Américo, Gastão,
José Ribeiro dos Santos Filho e o primo Nilde
Foto publicada com a matéria

Vida empresarial - Com 18 anos e 8 dias de idade, Caldeira já trabalhava, mas deixou tudo de lado, ao ouvir "bater no peito heróica pancada". Incorporou-se à Milícia Cívica de Santos, "cuja sede era onde hoje está situado o Colégio Cesário Bastos", e foi para a "frente" de Cachoeira, lutar pelo ideal Constitucionalista de São Paulo, na Revolução de 32. Tinha em sua companhia os tios Corálio, Américo, Gastão e José Ribeiro dos Santos Filho e o primo Nilde. "E ainda me lembro muito bem dos meus comandantes - diz Caldeira, provando a força de sua excelente memória -. Em Cachoeira, era o coronel Palimércio de Rezende. E o comandante geral era o general Euclydes Figueiredo, pai do presidente da República".

De volta a São Paulo, passou a cuidar de seus negócios, casou-se com a sra. Leodéa Bierrenbach de Lima Caldeira e tem uma filha, Maria Christina.

O empresário que já se revelava no jovem foi amadurecendo depois de alguns tropeços, no homem e pai de família. Hoje, Carlos Caldeira Filho é proprietário de inúmeros empreendimentos, entre os quais destacam-se a Estação Rodoviária de São Paulo (que ontem fez 20 anos de funcionamento), da qual é o idealizador, construtor - apesar de não ser engenheiro - e o administrador; a Empresa Folha da Manhã S/A (que edita este jornal), da qual é um dos acionistas majoritários, tendo já exercido a Superintendência por 16 anos; a Companhia Lithográphica Ypiranga (CLY) e a Companhia Brasileira de Impressão e Propaganda (Impress), que se situam entre as maiores do ramo, no Brasil, das quais é superintendente.

Além disso, quando a Fundação Cásper Líbero passou por uma fase difícil, que culminou, em 1968, com uma intervenção do Governo do Estado, Caldeira e um grupo de empresários, entre os quais se encontrava também Giusfredo Santini, assumiram, a convite do Governo do Estado, o comando da Fundação, erguendo-a. De 20 de dezembro de 1968 a 20 de dezembro de 1976, Caldeira foi vice-presidente da entidade, assumindo sua presidência em 20 de dezembro de 1976 e nela permanecendo até 20 de abril de 1979. Em sua administração, foi concluída a construção do prédio da Avenida Paulista, em São Paulo, restauradas as finanças da Fundação, entrou em funcionamento a TV Gazeta, Canal 11, e a Faculdade de Comunicação Social (antiga Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero) passou por uma reformulação.

Tendo como sócio o sr. Royhen Mc Harding, Caldeira dirigiu, nos anos 50, Caldeira dirigiu, nos anos 50, a Construtora Harding, uma das maiores e mais conceituadas de seu tempo. E ainda, no campo da filantropia, é o fundador, construtor e atual presidente da Casa dos Velhinhos de Ondina Lobo, na Capital.


Com o governador Paulo Maluf, no instante em que era convidado para governar Santos
Foto publicada com a matéria

Caldeira prefeito - No dia 8 de fevereiro de 1979, o então governador eleito, Paulo Salim Maluf, apontava Carlos Caldeira Filho como futuro prefeito de Santos, em substituição a Antonio Manoel de Carvalho. Entretanto, foi somente no dia 5 de maio, após aprovação do presidente da República, João Baptista de Oliveira Figueiredo, que o governador, já empossado, fez publicar, no Diário Oficial do Estado, o ato de nomeação de Caldeira Filho como prefeito de Santos.

Sua posse ocorreu às 18 horas do dia 7 de maio de 1979, e em seu primeiro pronunciamento enfatizou a linha de atuação política, em favor da restauração da autonomia municipal, afirmando que pretendia poder entregar o cargo a um prefeito eleito pelo voto popular.

Três dias após sua posse, a 10 de maio, o novo prefeito anunciava que seus vencimentos seriam doados integralmente às entidades de benemerência. Essa promessa foi cumprida fielmente até o último dia de seu governo.

19 líderes - Afirmando sempre que não era político e que aqui estava para servir a sua cidade e não para servir-se dela, o novo prefeito teve seu primeiro encontro com os vereadores de todos os partidos. E ao lhe perguntarem quem seria o líder do prefeito na Câmara, ouviram de Caldeira uma resposta inédita: "Todos os senhores não querem o bem da cidade? Pois eu também o desejo. Assim, todos os projetos que visem ao bem de Santos terão, antecipadamente, minha aprovação. Nesse sentido, sei que terei 19 líderes na Câmara. Todos são meus líderes".

Dois atos polêmicos de seu governo: a suspensão da desapropriação de uma gleba de terra na Zona Noroeste, destinada inicialmente à construção de uma Escola Industrial que "gorou" (caso em que a Justiça, ainda recentemente, deu ganho de causa à Prefeitura) e a desativação dos carros oficiais de uso do prefeito, da primeira dama, dos secretários municipais, da Prodesan e da CSTC. Esses veículos foram leiloados na Praça Mauá, propiciando aos cofres públicos, à época, uma arrecadação de Cr$ 773.700,00. Um exemplo para a "economia de guerra" preconizada pelo presidente João Figueiredo, se a esse valor forem acrescidos os números da economia de combustível que a medida representou. Tanto que mereceu uma mensagem de aplauso do chefe da Nação.

Em seu esquema de economias administrativas, durante todo o seu governo, as vagas na Assessoria de Imprensa, bem como uma de oficial de gabinete, permaneceram em aberto, o que significou uma redução nos gastos do gabinete, da ordem de Cr$ 300.000,00 mensais.

Cobal e "pacote" - Com o espírito voltado à problemática popular, duas atitudes marcaram a administração de Caldeira Filho. A primeira, foi a batalha travada junto à Companhia Brasileira de Alimentos, para a implantação de seus serviços na cidade. Foi vencida com a criação de um "ônibus da economia", que vende alimentos a preços inferiores aos do mercado, às populações das regiões carentes da cidade. Esse serviço, que mereceu total aplauso da comunidade, já atendeu a mais de 110 mil famílias e vem sendo ampliado na atual administração, que projeta colocar em circulação outros "ônibus da economia".

A 1º de agosto de 1979, entrava em funcionamento uma nova providência voltada nitidamente à população carente: o Pacote Escolar, ofertado pelo jornal Cidade de Santos, dentro do espírito de integração Empresa Privada-Governo-Povo. constava da distribuição gratuita de material escolar a todas as unidades de ensino da municipalidade.

O trabalho desenvolvido em torno do Pacote Escolar mobilizou os estudantes de todas as escolas, em torno do roteiro "dar-receber-retribuir". Em troca do material recebido, os estudantes doavam roupas, mantimentos e até devolviam o material escolar (os que não necessitavam). E tudo isso foi encaminhado aos asilos, escolas carentes e hospitais da cidade.

Santa Casa - Estava Caldeira Filho há dois meses no governo da cidade, quando eclodiu violenta crise na Santa Casa da Misericórdia. Com salários em atraso e vendo no provedor de então o principal responsável por esse fato, os médicos, a 18 de julho, deflagraram uma greve, levando o setor da saúde a um colapso quase total, na medida em que os demais hospitais da cidade não se achavam em condições de acolher o fluxo de doentes que representavam a capacidade da Santa Casa.

Em vista disso, no dia 6 de agosto, o prefeito requisitou o hospital e designou um interventor, na pessoa do advogado Aécio de Azevedo Queiroz. Dois dias depois, os médicos suspendiam a greve e retornavam à Santa Casa, que voltou a ter movimento normal.

Diante da normalização, no dia 30, Caldeira Filho suspendeu a intervenção, restituindo a Santa Casa à sua proprietária, a Irmandade da Misericórdia. Com a posse do provedor, novamente os médicos voltaram à greve no dia 31 de agosto. E, em vista disso, no dia 7 de setembro, após ser dado início a uma ação na Justiça, foi decretada intervenção judicial no Hospital e, no dia seguinte, os médicos retornavam definitivamente ao trabalho. A intervenção municipal, por um período de 24 dias, não trouxe qualquer ônus aos cofres públicos.

Impostos e aumento - Duas outras medidas adotadas por Caldeira na Prefeitura, de inegável alcance social, foram a redução de 50 por cento nos impostos de casas situadas nas regiões carentes, mantido este ano pela administração que o sucedeu, e a concessão de um aumento aos funcionários públicos municipais, que chegou a mais de 100 por cento, no caso das categorias menos favorecidas, antecipando-se ao surto inflacionário.

Outra atitude recebida com muita simpatia pela população, foi a abolição dos ingressos pagos no Aquário e Orquidário, instituídos pelo ex-prefeito Antonio Manoel de Carvalho.

Ao entregar o cargo, no dia 28 de janeiro do ano passado, ao presidente da Câmara, Washington Mimi Di Giovanni (PDS), "um homem eleito pelo povo", Caldeira cumpriu a promessa que fizera no dia de sua posse, reiterando sua posição em favor da autonomia de Santos.

E a atual administração, ao assumir, encontrou em andamento várias providências em favor da cidade, iniciadas por Caldeira, tratando de concluí-las. Três merecem destaque: a aquisição do terreno do IBC, na entrada da cidade, a dos terrenos da Rede Ferroviária Federal, que permitirão o alargamento da Avenida Martins Fontes, e a instalação do terceiro trilho da Fepasa no terreno da RFF, retirando do centro de Santos as composições ferroviárias com destino ao porto.

Também vem sendo tratado com atenção pelo novo governo o projeto de Caldeira de urbanização da entrada da cidade, bem como o de ampliação dos serviços da Companhia Brasileira de Alimentos (Cobal). Para esse fim, ao entregar o cargo, Carlos Caldeira Filho deixou na garagem da CSTC dois "ônibus da economia" preparados. Um era velho coletivo desativado da própria CSTC, e outro foi doado especificamente para essa finalidade, pela Viação Santos-São Vicente.


Na memória de seu pai, Carlos Augusto Navarro Caldeira,
a inspiração para o amor aos pobres e ao Santos FC
Foto publicada com a matéria

Em sua edição 1.288, de 19 de maio de 1993, página 83, a revista semanal Veja registrou, no obituário:

Carlos Caldeira Filho, 79 anos, empresário. Ex-sócio do grupo Folha da Manhã, que controla o jornal Folha de S. Paulo, ele dirigia a Litográfica Ypiranga, uma das empresas do grupo. Natural de Santos, em 1979 Caldeira foi nomeado prefeito de sua cidade pelo então governador Paulo Maluf. Dia 13, de choque hemorrágico causado por aneurisma na aorta, em São Paulo.

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Depois de Carvalho, pode vir Caldeira