Imagem: reprodução parcial da matéria original
A metamorfose de Santos
Panorama santista do último quartel do século passado
(N.E.: século XIX) - O flagelo das epidemias que dizimavam a população adventícia - Obras de
melhoramento urbano - Vultos notáveis que muito contribuíram para o saneamento e aformoseamento da atual "Cidade-Ninféia"
Guedes Coelho
(Especial para a edição do Cinqüentenário da A Tribuna)
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Gênese de importantes serviços públicos
No complexo aparelhamento funcional e vital de uma cidade avultam em segundo plano, após a
relevância dos esgotos e do abastecimento de água potável, primaciais, os serviços de iluminação pública e particular, de locomoção e
transportes, e de comunicações telefônicas.
Num rápido bosquejo, investiguemos o histórico, isto é, a origem, a criação, o
desenvolvimento destes, que tanto contribuem, quando exatos e eficientes, para o conforto e progresso urbanos.
As primeiras linhas de bondes
As nossas linhas de bondes têm origens diversas.
Estabeleceram uma para São Vicente, a tração animal a
princípio, e a vapor depois, situando seu ponto inicial na esquina das ruas Itororó e das Flores (Amador Bueno), os alemães
Jacob Emerich e Henrique Ablas (marchante e cortador este), sogro e genro, e ambos naturais da Baviera
(N.E.: = Bavária, na Alemanha).
Quase contemporaneamente, em 1872, foi criada outra para o
Boqueirão, pela Cia. Melhoramentos de Santos, nome primitivo da City of Santos Improvements. Do Boqueirão, da Av.
Barnabé, Caminho Velho antes, partia um ramal extenso até as cercanias do Prado ou Rua
Alexandre Martins, trafegado por um único animal, e cujo cocheiro, confiando-se à experiência e à docilidade asininas, fazia as cobranças das
passagens.
E o bondinho, lembro-me ainda, na brumosa recordação de tenra meninice, seguia tardia
e lentamente, aos fundos das raras chácaras da praia, através estreita trilha talhada no denso matagal, e ladeada de duas valas, infectos viveiros
de "anófeles" e "stegomyas faciata", transmissores dos germes amarílico e malárico.
Posteriormente, essa linha, sujeita a freqüentes descarrilamentos, que demandavam
adjutório dos passageiros ao cocheiro para a reposição do carro nos trilhos, foi desviada para a praia, estendendo-se até a
Ponta da Praia.
Matias Costa e a origem do atual Gonzaga
Em 1888, adquirindo grande área do Pasto das Vigárias, Matias Costa, negociante
português, inteligente, de largo descortino comercial, fundador da Vila Matias e de sua linha de bondes, e
tragicamente morto em plena mocidade, em maio de 1888, abriu-se o caminho para a Praia, servindo-o de bondes também.
E nesta, à beira de um córrego, onde atualmente se cruzam as ruas Floriano Peixoto e
Marcílio Dias, cerca do Clube XV, Antônio Luiz Gonzaga, marceneiro de profissão, santista, alegre
e bonachão, origem de honesta descendência, e em pequeno chalé de madeira montou um bar rudimentar, cercando-o de barracas
para banhistas, de que foi o iniciador, e emprestando seu nome à pitoresca paragem assim chamada até hoje.
De Ana Costa, viúva de Matias Costa, dama pertencente à ilustre família fluminense
Azevedo Sodré, chamou-se então a ínvia estrada, soberba avenida de agora.
Os pontos de estacionamento dos bondes do Boqueirão e do José
Menino e Vila Matias eram respectivamente na Rua da Penha (Marquês do Herval), e na esquina do Hotel da Europa, de
Madame Millon, cruzamento das ruas Santo Antônio e do Sal (Comércio e José Ricardo hoje). E
ambos, quer os do Boqueirão, quer os do José Menino e Vila Matias, seguiam no velho itinerário, abandonado quando da eletrificação das linhas, as
ruas de Santo Antônio, 15 de Novembro, Praça da República,
Senador Feijó, onde se desviavam os primeiros por General Câmara e
Conselheiro Nébias.
No último decênio do século XIX se transferiu para o
Largo do Rosário o ponto inicial do traçado dessas linhas. O "grande consortium" de que era presidente o
conselheiro Francisco de Paula Mayrink englobou-as, as três, sob o nome de Companhia Viação Paulista, debaixo da gerência do cidadão grego João
Constantino Janacopulos.
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