O governo federal: 1) Dr. Wencesláo Braz Pereira Gomes (vice-presidente); 2) Dr. Lauro Müller
(ministro das Relações Exteriores); 3) Dr. Pedro de Toledo (ministro da Agricultura); 4) Dr. Francisco A. de Salles (ministro da Fazenda); 5) Dr.
Rivadavia Corrêa (ministro da Justiça); 6) Dr. Enéas Martins (subsecretário das Relações Exteriores); 7) Almirante Manoel Ignacio Belfort Vieira
(ministro da Marinha); 8) Dr. José Barbosa Gonçalves (ministro das Obras Públicas)
Foto publicada com o texto, página 175
Perfis biográficos
Marechal Hermes da Fonseca
sr. marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, atual presidente da República, descende de uma ilustre família, cujo
nome está ligado à história militar e, principalmente, ao regime republicano, no Brasil. Filho do general Hermes Ernesto da Fonseca, nasceu o
marechal Hermes no estado do Rio Grande do Sul, a 12 de maio de 1855. Sentou praça a 25 de setembro de 1871 e a 13 de julho de 1873 era promovido a
segundo tenente. Em 1877, pertencendo ao 3º Batalhão de Artilharia a Pé, foi incluído, por transferência, no 2º Regimento de Artilharia, com sede no
Rio de Janeiro. Em 1878, concluía o curso de Artilharia de acordo com o regulamento de 1874.
No ano de 1879 foi nomeado agente do Conselho Econômico; mas, tendo sido logo depois promovido,
por decreto de 18 de janeiro desse ano, ao posto de primeiro-tenente, deixou aquele cargo para ir servir no Pará, como ajudante de ordens do Comando
das Armas daquela antiga província do Norte. Em 1880, sendo do 3º Regimento de Artilharia a Cavalo, voltou a pertencer ao 2º Regimento da mesma
arma, estacionado na Corte, assumindo logo o comando da 1ª Bateria, cargo que deixou em janeiro do ano seguinte, para ser novamente nomeado
encarregado do rancho, lugar este que já em época anterior havia desempenhado com louvor dos seus superiores.
A Imperial Revolução de 22 de dezembro de 1880 mandou contar-lhe antiguidade de posto de
primeiro-tenente desde 7 de dezembro de 1878. Comandava a 3ª Bateria do seu regimento quando foi promovido, a 30 de julho de 1881, ao posto de
capitão, sendo pouco depois eleito tesoureiro do Conselho Econômico, cargo este para que foi reeleito no ano seguinte.
Na mesma época, levou a bateria do seu comando à Escola de Tiro do Rio Grande do Sul, a fim de
instruir as suas praças no exercício de tiro ao alvo. de volta desta diligência foi elogiado, em ordem do dia, pela sua dedicação e pela ordem e
disciplina que soube manter na força do seu comando. O comandante da Escola de Tiro também o elogiou pelo seu zelo e aplicação ao estudo prático de
Artilharia.
O decreto de 4 de setembro de 1883 transferiu-o para o Estado Maior de Artilharia. Em 1889,
concorreu para a proclamação da República feita pelo seu tio marechal Deodoro da Fonseca. A 7 de janeiro de
1890 era promovido a major pelos serviços relevantes prestados à República e a 8 de outubro do mesmo ano era promovido a tenente-coronel, por
merecimento.
O decreto de 11 de junho de 1891 retirou-o do Corpo de Estado Maior da Artilharia e fe-lo
comandante do 2º Regimento da mesma arma, estacionado na capital federal. Em 1895 foi louvado em ordem do dia da Repartição de Ajudante General pela
presteza com que formou o seu regimento para prestar honras fúnebres ao marechal Floriano Peixoto,
ex-presidente da República, e pelo asseio, ordem, garbo militar, correção, firmeza e uniformidade de movimentos e manobras que executou esse corpo.
Em 7 de setembro do mesmo ano, levou o seu regimento à Escola Prática do Realengo, onde, durante
20 dias, fez vários exercícios de artilharia. Por portaria do Ministério da Guerra, datada de 17 de setembro de 1895, foi nomeado para fazer parte
da comissão encarregada de elaborar o Regulamento do Estado Maior do Exército, cabendo-lhe redigir a parte relativa à Direção Geral de Artilharia.
Pelo decreto de 24 de maio de 1907 foi-lhe conferida a medalha de ouro, criada em 1901, por contar mais de 30 anos de relevantes serviços militares.
Em 1903, exerceu interinamente as funções de chefe de polícia da capital federal e, depois, as de
comandante da Brigada Policial. Neste lugar, deu nova regulamentação a vários serviços da Brigada, normalizou a escrituração geral dos corpos e
repartições, fez novas construções, criou uma biblioteca para uso dos oficiais e praças, modificou o plano dos uniformes e conseguiu, junto do
governo, a criação de uma caixa beneficente garantidora do futuro das famílias dos oficiais e praças.
Depois da sua geralmente louvada administração da Brigada Policial, foi nomeado comandante da
Escola Militar do Realengo, onde prestou grandes serviços, especialmente na ocasião da revolta de 14 de novembro de 1904, conservando os seus
comandados dentro da disciplina e prendendo os militares que tentaram sublevar aquela escola. Pouco tempo depois desses acontecimentos, era nomeado
comandante do 4º Distrito Militar, com sede na capital federal.
A atividade em que pôs todos os corpos do Exército sob seu comando, sempre em proveitosos
exercícios e reavivando a prática há tempos abandonada das grandes manobras militares, granjeou-lhe uma confiança absoluta por parte de soldados e
oficiais do Exército e vasta popularidade em todo o país. Depois, subindo à Presidência da República o sr. dr.
Affonso Penna, foi-lhe confiada a pasta da Guerra. Aí empreendeu o marechal Hermes da Fonseca a grande obra da reorganização do Exército, que
ainda se conservava nos velhos moldes do tempo do Império.
A iniciativa particular, acompanhando o novo estado de coisas, criou por essa época as Sociedades
de Tiro que, incorporadas depois em Federação, instruem dezenas de milhares de cidadãos em exercícios militares e manejo das armas de guerra.
Quando ministro da Guerra, tendo o Brasil recebido do imperador da Alemanha um convite para se
fazer representar nas manobras militares do outono de 1908, foi o sr. marechal Hermes, a pedido do então presidente da República, à Alemanha, onde
recebeu honras excepcionais.
Em meio do período governamental, deixou o ministério porque uma grande parte do país levantara a
sua candidatura à presidência da República, como meio de resolver uma crise política. Pouco depois de deixar a pasta da Guerra, empreendeu uma longa
viagem pela Europa, conservando-se assim afastado da agitação que reinou no país durante o debate das candidaturas à presidência da República e só
voltando à pátria depois de eleito e de reconhecida essa eleição pelo Congresso Nacional.
A vida militar do sr. marechal Hermes da Fonseca tem sido assinalada principalmente pelas suas
qualidades de administrador e organizador, pois já vai bem longe o período de paz que o Brasil atravessa, a bem do seu progresso e desenvolvimento.
A última guerra exterior foi a do Paraguai, e de então para cá só convulsões internas, cada vez mais espaçadas, têm perturbado a ordem no país. Foi
numa dessas convulsões, na guerra civil provocada pela revolta da Armada, logo nos primeiros anos da República, na presidência do marechal Floriano
Peixoto, que o marechal Hermes da Fonseca, então coronel, teve de combater em Niterói, durante muitos dias, contra os revoltosos. Nessa ocasião,
revelou as mesmas qualidades de bravura e sangue frio que, na guerra com o Paraguai, celebrizaram os generais seu pai e tios.
O Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro
Foto publicada com o texto, página 176.
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Dr. Wencesláo Braz - O dr. Wencesláo Braz Pereira Gomes,
atual vice-presidente da República, é filho do coronel Francisco Braz Pereira Gomes, político no estado de Minas que foi, no passado regime,
deputado, em mais de uma legislatura, à Assembléia Provincial de Minas.
O dr. Wencesláo Braz nasceu em 1868, em Itajubá, região Sul do estado de Minas.
Em 1890, diplomava-se em Direito na Faculdade de São Paulo. Regressando ao seu estado natal, foi, pouco depois, nomeado promotor público em Monte
Santo, cargo que, algum tempo depois, deixou, para exercer a profissão de advogado na mesma comarca.
A popularidade aí adquirida levou-o a representar aquele distrito eleitoral na
Câmara dos Deputados estadual. No desempenho deste mandato, estudando as questões de maior interesse para o estado, tomaram os seus méritos tal
relevo que o dr. Silviano Brandão, ao assumir o governo do estado, em 1898, lhe confiou a pasta de secretário dos negócios do Interior.
Terminado o período governamental, voltou o dr. Wencesláo Braz a Monte Santo,
onde de novo abriu banca de advogado. Pouco depois, foi eleito deputado à Câmara Federal, onde, em breve, ocupava o posto de líder da bancada
mineira; e, no período governamental do dr. Rodrigues Alves, era escolhido pelos seus pares para líder da
maioria da Câmara, cargo em que revelou grande competência e qualidades de bom parlamentar, pois a agitação política nessa época, provocando graves
acontecimentos, como a rebelião contra certas medidas sanitárias e mesmo uma revolta armada contra o Governo da União, teve intensa repercussão no
Congresso Nacional.
Nessa situação, de ásperas dificuldades para os defensores do governo, o dr.
Wencesláo Braz, como líder da maioria que apoiava esse governo, não só venceu tais dificuldades, como também, pela sua calma verdadeiramente
excepcional, conseguia que a agitação política não se agravasse no seio da Câmara, prejudicando os trabalhos parlamentares. Da saliente posição que
tomou nesses momentos difíceis, veio-lhe grande popularidade.
O eleitorado mandou-o de novo à Câmara Federal, mas, desta vez, não chegou o dr.
Wencesláo Braz a concluir o triênio do seu mandato, por ter sido escolhido pela convenção do seu partido para terminar o período governamental do
dr. João Pinheiro, que a morte viera surpreender na presidência do estado de Minas. Estava nesse posto, quando a convenção política, reunida
em maio, para resolver a questão da sucessão presidencial no governo da União, escolheu o seu nome como candidato ao cargo de vice-presidente da
República, candidatura que em março de 1910 saiu vitoriosa das urnas.
Dr. Lauro Müller - O dr. Lauro Severiano Müller, atual ministro das Relações Exteriores, nasceu na então província de Santa Catarina, em 8 de novembro de 1863.
Dedicando-se, muito moço, à carreira militar, assentou praça, no Exército, em 28 de fevereiro de 1882, e matriculou-se, pouco depois, na Escola
Militar. A 24 de março de 1885, foi promovido a alferes-aluno e a 23 de janeiro de 1889 a segundo-tenente, recebendo o grau de bacharel em
Matemáticas e Ciências Físicas.
Nessa época, era o jovem tenente uma das figuras mais salientes da nova geração
que procurava com entusiasmo a carreira das armas. Espírito culto, corajoso, altivo, em breve se distinguiu brilhantemente na propaganda das idéias
democráticas. Fora um dos mais amados discípulos de Benjamin Constant, o espírito filosófico que preparou o advento da República. O segundo-tenente
Lauro Müller foi um dos que tudo jogaram na revolução de 15 de novembro. Logo depois de proclamada a República, foi promovido, em janeiro de
1890, a primeiro-tenente, no Corpo de Engenheiros. A 18 de maio do mesmo ano, era promovido a capitão, pelos serviços relevantes que prestara à
causa republicana.
Nessa época, representou o seu estado natal na Assembléia Constituinte. E
salientou-se nas discussões provocadas pelo projeto da atual Constituição, tendendo sempre para que nela ficassem consignados os preceitos mais
amplos e liberais. Combateu, sustentando o governo do marechal Floriano Peixoto, quando se revoltou a Armada Nacional, sob a chefia do almirante
Custodio de Mello, em 1893.
Foi depois deputado federal e governador do estado de Santa Catarina. Em 1900,
foi promovido a major, por merecimento. Terminando o seu mandato governamental, representou o seu estado no Senado Federal, durante alguns anos
apenas, porque voltou ao cargo de governador. Quando tomou posse da presidência da República, em 1902, o dr. Rodrigues Alves convidou o dr. Lauro
Müller para o cargo de alta confiança de ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas.
Data daí a grande popularidade de que hoje goza em todo o país o dr. Lauro
Müller. Essa popularidade foi conquistada pelas obras importantes que então iniciou, como por exemplo a construção da Avenida Central, hoje Rio
Branco, na capital federal, e a construção e melhoramento de vários portos da República, inclusive o do Rio de Janeiro.
Terminado o governo Rodrigues Alves, fez o dr. Lauro Müller uma larga viagem
pelos principais países da Europa. Voltou ao Senado Federal, onde de então para cá desempenhou papel proeminente como homem político. Havia sido
reeleito, recentemente, na renovação de terço do Senado; renunciou, porém, ao mandato, para aceitar a pasta das Relações Exteriores, que lhe foi
oferecida após a morte do barão do Rio Branco.
Os aplausos com que foi recebida por todo o país esta nomeação demonstram bem
que as qualidades características do dr. Lauro Müller, a sua alta inteligência, o seu espírito prudente e calmo, são justamente apreciadas pela
nação. Em setembro de 1912, a Academia Brasileira de Letras o elegeu para a vaga do barão de Rio Branco naquela corporação, consagrando assim o
valor literário do seu passado jornalístico e dos seus substanciosos discursos de doutrina republicana.
Dr. Francisco Salles - O dr. Francisco Antonio de Salles, atual ministro da Fazenda, nasceu em Lavras, estado de Minas, a 27 de janeiro de 1863. Em 1880,
matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, salientando-se durante o seu período acadêmico, que foi brilhante, por ter fundado, com outros
patrícios, o Club Republicano Mineiro, do qual foi presidente.
Concluído o seu curso, em 1885, regressou o dr. Francisco Salles ao seu estado,
e no ano seguinte foi nomeado juiz municipal e de órfãos do termo de Lima Duarte.
Proclamada a República, foi eleito deputado à Assembléia Constituinte Mineira,
colaborando com muito proveito na solução das mais importantes questões que se agitaram naquela assembléia. Votada a Constituição e separadas as
duas casas do Congresso Mineiro, foi o dr. Francisco Salles, pelos seus pares, eleito presidente da Câmara. A maneira como se salientou nos
trabalhos legislativos, que entendiam com os interesses econômicos e fiscais, levou o dr. Bias Fortes, presidente do estado no período de 1894-1898,
a confiar-lhe o cargo de secretário das Finanças.
Depois desse período, foi prefeito municipal de Belo Horizonte, capital do
estado, recentemente construída. Terminada esta comissão, foi eleito senador ao Congresso Mineiro e, logo depois, deputado ao Congresso Nacional,
onde foi, durante algum tempo, líder da bancada mineira.
Indicado pela Convenção do Partido Republicano de Minas, foi eleito presidente
do estado, para o período de 1898-1902. Durante o seu governo, regularizou todo o serviço financeiro do estado, cuja renda aumentou sem novos
impostos e obtendo atenuações consideráveis no ônus do transporte dos produtos do estado para os centros consumidores.
Iniciou a chamada política econômica no estado, promovendo a reunião, em Minas,
de um congresso industrial que foi presidido pelo dr. João Pinheiro, mais tarde governador do estado. Sempre os assuntos financeiros mereceram a
mais particular atenção do dr. Francisco Salles que, terminando o seu período governamental, deixou o estado de Minas próspero, em dia com os seus
compromissos internos e externos e com abundantes fontes de renda.
Eminentemente conservador, muito severo na gestão econômica, sem excluir as
intervenções oportunas todas as vezes que se faziam necessárias para despertar a atividade produtora do estado, o dr. Francisco Salles deixou
profundos traços da sua passagem pelo governo de Minas Gerais. Deixando o governo do estado, foi eleito senador federal.
Como membro conspícuo do Partido Republicano, teve decisiva influência para a
escolha da candidatura do dr. Affonso Penna, como sucessor do dr. Rodrigues Alves na presidência da República, e presidiu a convenção nacional que
elegeu candidato o atual presidente,sr. marechal Hermes da Fonseca.
Dr. Rivadavia Corrêa – O dr. Rivadavia Corrêa, atual ministro da Justiça e Negócios Interiores, nasceu a 9 de julho de 1866, em Santana do Livramento, estado do Rio
Grande do Sul, e é descendente de ilustre família daquele estado. Muito novo ainda, foi para São Paulo, onde terminou o curso de preparatórios e se
formou em Direito, na faculdade da capital paulista. O seu curso neste estabelecimento de ensino superior foi feito com brilhantismo. A sua
aplicação aos estudos e suas idéias adiantadas e liberais fizeram dele um estudante muito apreciado por mestres e colegas.
Pelas suas tendências republicanas, adquiriu bastante celebridade na época, pois
fez intensa propaganda para a mudança de regime na imprensa e na tribuna. Orador influente e imaginoso, entusiasmado pela convicção da conveniência
do seu republicanismo sincero, obteve o dr. Rivadavia Corrêa grandes triunfos na tribuna popular e colheu muitos aplausos de todos os que o ouviam;
principalmente no Club Republicano 20 de Setembro, do qual era um dos membros principais.
Não só por essa forma o dr. Rivadavia pugnou pela vinda do novo regime. Também
na imprensa, como fundador do jornal de propaganda Ganganelli, o seu nome se tornou muito saliente.
Terminado o seu curso em 1887, montou o dr. Rivadavia Corrêa a sua banca de
advogado na capital paulista e, filiado à política republicana, prestou grandes serviços à campanha, cada vez mais intensa, para a mudança de
regime.
Proclamada a República, foi o dr. Rivadavia Corrêa eleito deputado à Assembléia
Constituinte de São Paulo, continuando aí o trabalho devotado pelo regime que começava. Nessa Assembléia, pronunciou discursos importantes e
apresentou projetos de grande valor, alguns dos quais foram causa de grandes debates. Feita a primeira eleição republicana, o seu nome saiu
vitorioso das urnas e o dr. Rivadavia Corrêa voltou à Câmara dos Deputados paulista, renunciando porém ao mandato, com alguns colegas, por ocasião
do golpe de estado de 1892. Voltou então à sua banca de advogado,não deixando porém a política.
Na legislatura seguinte, foi novamente eleito deputado, mandato a que também
renunciou, mas, desta vez, para tomar assento na Câmara Federal, eleito pelo seu estado natal, o Rio Grande do Sul. Desde essa época, fixou
residência na capital federal.
Espírito independente, pondo acima dos interesses pessoais os interesses gerais,
julgou necessária e de urgente necessidade a criação de uma alfândega em Santana do Livramento. A energia com que defendeu este projeto, contra a
vontade dos chefes políticos dominantes no seu estado, valeu-lhe não ser reeleito na legislatura seguinte. Em 1904, porém, voltou à Câmara Federal e
tem sido sempre o seu mandato renovado até agora. Como deputado, fez sempre parte de comissões permanentes e colaborou na comissão especial de
elaboração do Código Civil. Era presidente da comissão de Diplomacia e Tratados, quando foi convidado para colaborar no governo do marechal Hermes
da Fonseca.
Dr. Pedro de Toledo – O dr. Pedro de Toledo, atual ministro da Agricultura, Comércio e Indústria, é natural do estado de São Paulo e descendente de uma família
importante. Seu avô, conselheiro Joaquim Floriano de Toledo, foi secretário particular do imperador d. Pedro I; mais tarde, deputado geral pela
província de São Paulo; finalmente, várias vezes presidente da sua província natal.
O dr. Pedro de Toledo é formado em Direito pela Faculdade de São Paulo. Depois
que se diplomou, em 1884, foi abrir banca de advogado em S. João de Além-Paraíba, província de Minas.
Começou nessa época a fazer-se notar pela intensa propaganda republicana a que
se dedicara, chegando mesmo, com outros cavalheiros que mais tarde se celebrizaram, a fundar o Partido Republicano, naquela localidade. Esse partido
chegou a ter força para fazer um deputado geral, que foi o sr. Bernardo Manso, constituindo tal fato, na época, uma grande vitória para aquele
partido. Este deputado, que o Partido Republicano mandou à Câmara Geral, conseguiu, depois de forte luta parlamentar, fazer abolir o juramento de
fidelidade à Coroa.
Voltando para S. Paulo, depois da proclamação da República, sempre o dr. Pedro
de Toledo exerceu a advocacia e desempenhou cargos de confiança do Poder Executivo. Durante a revolta da Armada, no governo do marechal Floriano
Peixoto, foi o dr. Pedro Toledo o comandante superior da Guarda Nacional em São Paulo, cargo esse que deixou para ir para Faxina, transformada em
praça de guerra, em comissão de alta confiança do governo do seu estado.
Em 1895, foi o dr. Pedro Toledo eleito deputado estadual; mas, como no último
ano de sua legislatura tivesse havido cisão no Partido Republicano, e o dr. Pedro Toledo ficasse com a minoria, afastou-se da política, para se
dedicar exclusivamente à sua banca de advogado, conservando-se porém fiel às suas idéias.
Só doze anos depois, quando os elementos políticos do Estado se harmonizaram,
voltou à atividade política, sendo, em 1907, eleito novamente deputado ao Congresso Legislativo do estado. Na convenção do partido para escolha do
candidato à presidência do estado para o período seguinte ao do governo do dr. Jorge Tibiriçá, esteve o dr. Pedro de Toledo ao lado dos que apoiavam
a candidatura do dr. Campos Salles, que já havia sido presidente da República, contra a candidatura do dr. Albuquerque Lins.
Vencido com os seus companheiros na convenção, estes se submeteram; ele, porém,
revoltou-se e conservou-se isolado, fora do partido, para não transigir com os seus princípios. Esta atitude granjeou-lhe grandes simpatias
populares e a Maçonaria elegeu-o grão-mestre do Oriente do estado.
Quando começou a agitação no país, por causa da candidatura do sr. Marechal
Hermes, organizou o dr. Pedro de Toledo em São Paulo um partido político que sob a sua chefia se bateu por essa candidatura. Com grande votação, foi
eleito de novo deputado estadual, deixando essa cadeira para colaborar no governo do marechal Hermes, na pasta da Agricultura, Comércio e Indústria.
Dr. José Barbosa Gonçalves – O dr. José Barbosa Gonçalves, atual ministro da Viação e Obras Públicas, nasceu na cidade de Jaguarão em 1860 e pertence à ilustre família
Gonçalves da Silva, sendo neto do grande general revolucionário Bento Gonçalves da Silva. Fez os seus primeiros exames em Porto Alegre, concluindo
os preparatórios no Rio de Janeiro em 1880.
Cursou depois a Escola Politécnica até 1887, tendo sido, durante os estudos,
empreiteiro da Estrada de Ferro de Porto Alegre a Uruguaiana. Depois de formado em Engenharia Civil, fundou em Pelotas, com o dr. Alvaro José
Gonçalves Chaves, o Club Republicano 20 de Setembro, que publicava uma revista. As suas idéias republicanas vinham do tempo da propaganda, tendo o
dr. Barbosa Gonçalves recusado até empregos oferecidos pelo Governo Imperial. Depois de trabalhar como empreiteiro nas estradas de ferro de Minas
Gerais e Rio de Janeiro, regressou ao Rio Grande do Sul.
Em Pelotas, foi encarregado pela sociedade anônima com sede no Rio de Janeiro –
Companhia Ferro Brazil de Pelotas – de estudar o projeto de organização da mesma, que atravessava um período difícil. Nessa época, foi nomeado lente
de Matemática da Escola Agronômica e Veterinária. Fez parte, como chefe de escritório, da comissão de estudos da Estrada de Ferro de pelotas a S.
Lourenço. Em S. Paulo, foi engenheiro da Estrada de Ferro Sorocabana. No Rio Grande do Sul dirigiu como chefe de seção a linha férrea do Rio Grande
a S. Paulo, atravessando durante 2 anos os sertões bravios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Terminado esse afanoso trabalho em 1889, época da Proclamação da República, foi
aproveitado para a Diretoria de Obras Públicas pelo presidente dr. Julio de Castilhos, exercendo o cargo de diretor da Viação do estado.
Depois, foi nomeado chefe do tráfego e mais tarde chefe de locomoção da Estrada
de Ferro de Porto Alegre a Uruguaiana. Após o arrendamento dessa estrada, dela se afastou, passando a ocupar o cargo de diretor de Viação do Rio
Grande do Sul e, depois, o de chefe da Comissão de Colonização.
Em 1892, foi eleito intendente de Pelotas, onde exerceu fecunda e brilhante
administração. No governo do dr. Borges de Medeiros foi convidado para dirigir a Secretaria da Fazenda do Estado, cargo que desempenhou com elogios
gerais. E foi durante o mesmo governo secretário do Interior e Obras Públicas, tratando sempre com o maior interesse e dedicação dos serviços
públicos a seu cargo.
Com a eleição de seu irmão, o dr. Carlos Barbosa Gonçalves, para o cargo de
presidente do estado, absteve-se de qualquer lugar no governo, julgando-se moralmente incompatibilizado. Em 1908, foi eleito por extraordinária
votação popular intendente de Pelotas, onde recebeu o convite do marechal Hermes da Fonseca para tomar a pasta da Viação. O dr. Barbosa Gonçalves é
um homem de elevado critério e altas qualidades morais.
General Vespasiano de Albuquerque – O general Vespasiano Gonçalves de Albuquerque e Silva nasceu a 3 de março de 1852 e assentou praça no Exército Brasileiro a 9 de
setembro de 1870. Estudou na Escola Militar e tirou o galão de alferes-aluno no dia 8 de junho de 1875, sendo engenheiro militar pelo regulamento de
1874. Foi promovido a 2º tenente em 31 de janeiro de 1877, a 1º tenente em 25 de maio de 1878; a capitão em 25 de julho de 1880, por merecimento; a
major em 29 e novembro de 1889, a tenente-coronel em 17 de março de 1890, a coronel em 31 de janeiro de 1894, sempre por merecimento; e a general de
brigada em 24 de julho de 1908.
Como se está vendo, a maioria de suas promoções foi feita por merecimento, e até
a sua promoção a general de brigada pertenceu à arma de Cavalaria. O general Vespasiano de Albuquerque tem mais de 40 anos de bons e lealíssimos
serviços prestados à Pátria, sendo merecedor, pela sua retidão e valor, de todas as honras que lhe têm sido feitas.
Em circunstâncias bem difíceis para o país, sua excelência tem prestado
esforçadamente os seus serviços ao governo brasileiro. Durante o período da primeira revolta da esquadra, no governo do marechal Floriano Peixoto,
quando a situação da capital da República era a mais crítica possível, foi o general Vespasiano nomeado diretor da Estrada de Ferro Central do
Brasil. Exerceu esse cargo de relevante importância a contento do governo, muito se devendo à sua energia inquebrantável e à sua força de vontade.
Há bem pouco tempo ainda, quando se acabavam de desenrolar na Bahia fatos
políticos da maior gravidade, foi S. Ex. o general escolhido pelo governo do marechal Hermes da Fonseca para, em comissão especial e com a maior
soma de poderes possível, dentro dos limites constitucionais, restabelecer no estado conflagrado a paz ameaçada e o prestígio da autoridade.
Durante algum tempo, quando era ministro o general Antonio Adolpho da Fontoura
Menna Barreto, o general Vespasiano de Albuquerque comandou a 2ª Brigada Estratégica, exercendo depois o cargo de chefe do Departamento da Guerra. E
logo que, por uma desavença ministerial, o general Menna Barreto foi obrigado a deixar a pasta da Guerra, para ela foi chamado o general Vespasiano
de Albuquerque, naturalmente indicado pelos seus bons serviços ao governo do marechal Hermes da Fonseca. S. Ex. foi nomeado a 3 de março de 1912 e
tomou posse no dia 31 do mesmo mês.
Contra-almirante Belfort Vieira – O contra-almirante Manoel Ignacio Belfort Vieira nasceu no estado do Maranhão no dia 30 de abril de 1854. Depois dos necessários estudos na
Escola Naval da Ilha das enxadas, saiu aspirante a guarda marinha no dia 25 de fevereiro de 1871. A 27 de novembro de 1873 foi promovido a
guarda-marinha, passando a 2º tenente por decreto datado do dia 24 de dezembro de 1875. A 1º tenente foi promovido em 9 de dezembro de 1879; a
capitão-tenente em 8 de janeiro de 1890; e a capitão-de-fragata em 2 de janeiro de 1901. Em 28 de dezembro de 1904 foi feito capitão-de-mar-e-guerra,
e a 25 de abril de 1906 teve a efetividade desse posto, vindo obter os bordados de contra-almirante em 1911.
O atual ministro da Marinha sempre se distinguiu pelo seu grande merecimento
pessoal. S. Ex. esteve também imiscuído na política nacional durante largo tempo, representando com brilho o seu estado natal no Senado da
República. Durante mais de dez anos em que fez parte do Congresso Nacional, jamais desmentiu a sua grande tradição de profunda lealdade partidária.
Em 1892, tendo sido eleito pela quase totalidade da população de seu estado
natal, assumiu o governo do Maranhão, reorganizando-lhe as finanças e os serviços públicos que jaziam ao abandono. Pode-se dizer que completamente
reorganizou a administração estadual. Convidado para a pasta da Marinha, que o almirante marques de Leão acabava de deixar, assumiu a sua direção no
dia 11 de janeiro de 1912. S. Ex. tem dedicado à Marinha todos os seus esforços para levantá-la do pé em que a deixou a rebeldia da marinhagem em
novembro de 1910.
O contra-almirante Belfort Vieira tem trabalhado consideravelmente para o
preenchimento de quadros das tripulações desfalcadas, merecendo de S. Ex. especiais cuidados a remodelação do regulamento das Escolas de Aprendizes
Marinheiros e a criação da Escola de Grumetes. O contra-almirante Belfort Vieira é um espírito culto e um trabalhador infatigável e conta para mais
de 40 anos de bons serviços à Armada Nacional.
O falecido barão de Rio Branco, um grande estadista moderno
Foto publicada com o texto, página 179
Barão do Rio Branco
– José Maria da Silva Paranhos, o pranteado barão do Rio Branco, que a morte veio arrancar à pasta das Relações Exteriores do Brasil, por ele tanto
abrilhantada, nasceu no Rio de Janeiro, a 20 de abril de 1845. Era bacharel formado pela Faculdade de Direito do Recife, onde concluiu o curso
começado na Faculdade de São Paulo.
Depois de formado, fez uma viagem de instrução pela Europa e,
de regresso ao seu país, foi, durante uma curta interinidade, lente de Corografia e História do Brasil no colégio Pedro II, onde estudara
preparatórios, para depois servir como promotor público em Nova Friburgo. Na qualidade de secretário, acompanhou seu venerando pai, o eminente
estadista do Império, visconde de Rio Branco, que, como chefe de uma missão especial, foi reorganizar o Paraguai, profundamente abalado depois de
longa e desastrosa guerra.
Foi deputado geral pela província de Mato Grosso e nessa
época, de 1871 a 1875, adquiriu bastante popularidade como redator da Nação, discutindo questões políticas. Foi depois, em 1876, nomeado cônsul
geral do Brasil em Liverpool. Nesse posto, pôde, durante muitos anos, aprofundar-se nos seus estudos prediletos de História e Geografia do Brasil,
colhendo nos arquivos europeus preciosos documentos.
Publicou, por esse tempo, uma tradução anotada da Historia
da Triplice Alliança, de Schneider, a Esquisse de l'Histoire du Brésil, uma biografia do imperador d. Pedro II e muitos artigos em
revistas e enciclopédias científicas. Há longos anos preparava uma Historia Militar do Brazil.
Em 1884, foi comissário do Governo Imperial em S. Petersburgo,
por ocasião da Exposição Internacional que se realizou naquela capital. Logo depois de proclamada a República no Brasil, foi o barão do Rio Branco
nomeado superintendente, em Paris, dos serviços de emigração para o Brasil, na Europa.
Falecido o barão de Aguiar de Andrade, em Washington, foi
barão do Rio Branco nomeado para o substituir na chefia da missão especial encarregada de defender os direitos do Brasil na questão de limites com a
República Argentina, submetida pelos dois países à arbitragem do presidente Cleveland, dos Estados Unidos.
Levou oito meses de grande trabalho e dedicados esforços em
New York e depois em Washington, e concluiu a notável Memoria Brazileira, acompanhada de valiosa documentação justificativa, de cartas
geográficas e irrefutáveis demonstrações e argumentos, que levaram ao espírito do árbitro a convicção de que era brasileiro o território disputado
pelos dois países sul-americanos. E assim, em 5 de novembro de 1895, por sentença do árbitro, 30.622 quilômetros quadrados do território litigioso
eram definitivamente incorporados no território do Brasil.
Esta vitória, para a qual concorreu grandemente o cabedal de
conhecimentos especiais sul-americanos, desde os tempos coloniais, que o barão do Rio Branco possuía, acumulado durante o tempo que serviu em
Liverpool como cônsul, deu-lhe uma grande popularidade em todo o país.
Logo depois, um conflito havido no Oiapoque, na fronteira com
a Guina Francesa, em que foram mortos o comandante e vários soldados de um destacamento francês, veio tornar urgente a solução do secular conflito
entre o Brasil e a Guiana, a propósito do território contestado do Amapá. O barão do Rio Branco foi nomeado comissário para reunir documentos
destinados à arbitragem projetada.
Como demorassem as negociações para essa arbitragem, de 1895 a
1897 escreveu o barão do Rio Branco uma memória histórica e geográfica, para auxiliar as negociações para solução da questão de limites com a Guiana
Inglesa. Concluído o tratado de arbitragem com a França, escolhido árbitro o presidente da Suíça, o barão do Rio Branco, dois anos depois, obtinha,
com a sua erudita exposição de fatos, uma sentença que dava ao Brasil a posse definitiva de 260.000 quilômetros quadrados de um território que
estivera em litígio quase dois séculos.
Esta vitória fez explodir em todo o Brasil um grande
entusiasmo pelo barão do Rio Branco. O Congresso Nacional declarou-o benemérito e votou uma pensão anual para ele e seus filhos e mais uma
recompensa em dinheiro. Foi depois ministro do Brasil em Berlim e estava neste posto quando o presidente da República, em 1902, dr. Rodrigues Alves,
o convidou para a pasta das Relações Exteriores.
Logo depois de assumir a gerência desta pasta, liquidou a
questão do Acre, onde brasileiros revoltados contra bolivianos proclamaram a independência desse território. A 21 de novembro de 1903, a Bolívia,
mediante certas compensações territoriais e dois milhões esterlinos em dinheiro, cedia definitivamente ao Brasil aquele território, ficando assim
aumentada a superfície do Brasil em cerca de 200.000 quilômetros quadrados. A presença do barão de Rio Branco na pasta das Relações Exteriores foi
assinalada pela terminação das questões de limites e por tratados de arbitramento firmados com quase todas as nações da América e da Europa. As
questões de limites com o Peru e Uruguai foram também liquidadas.
A sua popularidade passou as fronteiras do Brasil e se
derramou por todo o território da república vizinha, pois, espontaneamente, sem recorrer ao arbitramento, por sua iniciativa, o Brasil reconheceu, à
República Oriental do Uruguai, o direito ao condomínio das águas da Lagoa Mirim e Rio Jaguarão.
Terminado o período governamental do dr. Rodrigues Alves, os
presidentes subseqüentes, dr. Affonso Penna, dr.
Nilo Peçanha e marechal Hermes da Fonseca, conservaram o barão do Rio Branco na gerência das Relações Exteriores, onde a sua
presença passou a ser considerada como que uma necessidade nacional.
A sua morte, no começo de 1912, foi pranteada por todo o país
como um cataclismo nacional. Os seus funerais revestiram-se duma pompa não conhecida antes, tendo sido seu féretro acompanhado ao cemitério por
quase toda a população do Rio de Janeiro e representantes dos governos, municipalidades e associações de todos os estados.
Foram-lhe prestadas, por essa ocasião, as honras de chefe de
estado, uma distinção sem precedentes. As subscrições abertas no Rio de Janeiro, como por todo o Brasil, para se lhe erigirem monumentos,
encontraram o maior favor popular. Seu nome foi dado à principal avenida da capital da República e a sua memória será perpetuada por várias outras
manifestações de gratidão nacional.
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