Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300b.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/19/05 10:15:19
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1822 - Nos tempos dos nossos avós (1)

Retratos da vila/cidade, em textos e imagens, de viajantes e historiadores

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Como neste artigo do falecido pesquisador santista Olao Rodrigues, autor de vários livros, entre eles um que leva o nome de sua coluna Nos tempos de nossos avós, publicada semanalmente no jornal santista A Tribuna. Uma edição especial dessa coluna foi publicada no Caderno Comemorativo do Sesquicentenário da Independência do Brasil, desse jornal, em 7 de setembro de 1972:


Fachada do Arsenal de Marinha, em bico-de-pena de Ribs
Imagem publicada com a matéria

Nos tempos de nossos avós

Olao Rodrigues


[I] Santos em 1822
[II] Famílias tradicionais
[III] Profissões no ano da Independência
[IV] Não havia abastecimento de água, mas sobravam as lavadeiras profissionais
[V] Se havia criaturas de posses, também havia mendigos
[VI] Entre os sacerdotes, um irmão do Patriarca
[VII As comemorações do 1º centenário

I - Santos em 1822

Em 1822, quando a 7 de setembro o Brasil proclamou sua autonomia política e administrativa, Santos não passava de Vila e Praça, com reduzida povoação, como reduzida também era sua área útil. Segundo o Recenseamento oficial, a população santense naquele período recuado foi fixada em 4.781 habitantes, entre livres e cativos, contando-se em 22 o número de ruas, travessas e becos e em 457 o de casas, nem todas ocupadas como moradias.

Eis as vias públicas: Josefina (Constituição), Quartéis (Xavier da Silveira), Santa Catarina (Visconde do Rio Branco), Direita (15 de Novembro), Antonina (trecho da 15 de Novembro, entre Frei Gaspar e Comércio), Praia (Tuiuti), Graça (José Ricardo), Santo Antônio (Comércio), Valongo (seriam as atuais Cristiano Otoni e Alexandre de Gusmão), Rosário (João Pessoa), São Bento, Tororó (Itororó), Áurea (General Câmara), Misericórdia (Cidade de Toledo), Campo (Praça Visconde de Mauá), Beco do Inferno (Frei Gaspar), Travessa do Parto (D. Pedro II), Travessa da Alfândega Velha (trecho da Frei Gaspar) e Travessa do Carmo; Rua Itororó, entre os fundos da Igreja do Carmo e a Rua General Câmara).

Consoante o quadro de reconstituição topográfica elaborado por Benedito Calixto e reproduzido em Os Andradas, de Alberto de Sousa, havia em Santos, no ano da Independência, os seguintes edifícios públicos: Casa dos Governadores, Câmara e Cadeia, Quartéis, Casa do Trem, Hospital Militar e Casa da Alfândega, não aparecendo o Arsenal de Marinha, mas assinalados os templos, como a Igreja Matriz, Convento do Carmo, Igreja da Misericórdia, Igreja do Rosário, Convento de São Francisco (hoje Santo Antônio), Convento de São Bento, Igreja de São Francisco de Paula, Igreja de Santa Catarina, Capela do Carvalho (Jesus, Maria, José) e Capela da Graça, além do Forte de Nossa Senhora do Monte Serrate e o Pelourinho, o 2º, por sinal destruído pelo povo no dia 7 de setembro daquele remoto ano.

Era governador de Armas da Praça, nomeado por Decreto de 23 de agosto de 1822, o tenente-coronel Manuel Joaquim Aranha Barreto de Camargo, que três dias após tomou posse perante a Câmara, em substituição ao marechal-de-campo Cândido Xavier de Almeida e Sousa. O Governador de Armas contava 50 anos, era viúvo e tinha dois filhos, José Aranha, de 19 anos, e Joaquim Aranha, de 23 anos, ambos casados, e dispunha de um grupo de 10 escravos.

No dia 7 de setembro de 1822, de especial significação cívico-patriótica à Vila, sua Câmara era constituída por João Batista Vieira Barbosa, que fazia as vezes de presidente, por ser o mais idoso; Antônio José Viana e Antônio Botelho de Carvalho, sendo procurador Joaquim José da Silva e escrivão Manuel Marques de Carvalho.

Naquela época, as Câmaras eram presididas por um juiz de fora, funções essas exercidas, em Santos, por José Correia Pacheco e Silva, que deixara a Vila por haver sido nomeado ouvidor-geral em São Paulo, posto que lhe facultou participar do Governo provisório da Província, em companhia do marechal-de-campo Cândido Xavier de Almeida e Sousa e de d. Mateus de Abreu Pereira, bispo de São Paulo. Não contando, portanto, com o juiz de fora, a Câmara da Vila passou a ser presidida pelo vereador mais idoso, que era João Batista Vieira Barbosa.

A Alfândega tinha, como juiz, João de Sousa Pereira Bueno, 51 anos, casado com Maria Pereira Bueno, que morava com 1 filha e 7 escravos, na Rua de Santo Antônio, casa 26; Administrador - Bento Tomás, 52 anos, solteiro, coronel de milícia, residente na Rua da Praia, casa 18; Tesoureiro - comendador Venâncio Antônio da Rosa, 56 anos, casado com Rosa Benedita de Jesus, 23 anos, tinha 1 filho de 3 anos de idade e 57 escravos, pois, além de tesoureiro da Alfândega, era forte negociante e proprietário de 3 navios, 1 fazenda de açúcar e 1 outra de criação de gado, ambas em Cabreúva; Guarda-mor - Manuel Inácio de Oliveira, 71 anos, casado com Maria de Oliveira, de 54 anos, tinha 3 filhos e 4 escravos e morava na Rua do Campo, casa 22.

Era vigário da paróquia de Santos e, nessa qualidade, presidiu a todas festividades religiosas de 7 de Setembro, na Igreja Matriz, o padre José Antônio da Silva Barbosa, de 39 anos de idade.

Igualmente tinham domicílio na Vila e Praça de Santos, considerada militarmente bem provida, os seguintes oficiais: tenente-coronel José Vicente, Rua de Santa Catarina, casa 29; tenente-coronel Inácio Rodrigues, 78 anos, Rua de Santa Catarina, casa 32; tenente-coronel José Carneiro, 35 anos, solteiro, Rua Direita, casa 30; capitão-mor João Batista da Silva Passos, viúvo, 73 anos, 3 filhos e 65 escravos, Rua de Santo Antônio; capitão Luís Alves, 49 anos, Rua Santa Catarina; capitão Antônio Botelho, 32 anos, Rua Direita, casa 23; capitão Januário José, 59 anos, Rua Direita, casa 22; capitão Atanásio José do Couto, Rua dos Quartéis, casa 21; tenente Joaquim Roberto, 35 anos, Rua Santa Catarina, casa 17.

Também residia em Santos, naquele ano histórico, o sargento-mor do corpo de artilharia José Olinto de Carvalho e Silva, de 31 anos, casado, com 8 filhos menores e 3 escravos, na Rua Direita, casa 40; esse oficial do Exército, que alcançou o posto de marechal-de-campo, foi o primeiro comandante da Praça de Santos, em cujas funções lhe incumbiu assistir o Barão de Caxias que, a 21 de maio de 1842, chefiando uma tropa, viera do Rio de Janeiro, por via marítima, e se destinava a São Paulo, onde daria combate às forças insurretas comandadas pelo coronel Rafael Tobias de Aguiar, derrotando-as, como se sabe. Caxias, na oportunidade, almoçou na casa do coronel José Olinto, na Rua Direita, seguindo no mesmo dia para a Capital.

Governava, o Fortim de Itapema, José Antônio Vieira de Carvalho, 53 anos, forte negociante, casado com Ana Zeferina e residia com seus filhos Joaquim, de 15 anos, e Maria Zeferina, de 18 anos, além de 30 escravos, na Travessa da Alfândega, casa 4, no mesmo edifício onde atualmente está instalada a tradicional firma Hard Rand S.A. - Exportadora e Importadora - na Rua Frei Gaspar n. 6.

Era governador da Fortaleza de Bertioga o capitão Luís Antônio, 50 anos, solteiro, morador na Rua dos Quartéis, casa 25. Exercia as funções de Administrador do Contrato do Cubatão o sr. Francisco Inácio de Freitas, solteiro, 27 anos, residente na Rua da Praia, casa 4, em companhia do caixeiro Manuel Antônio e de "26 escravos do Contrato".

Ocupava o cargo de vice-cônsul da Inglaterra o sr. Guilherme Wins, 28 anos, casado com Ângela e tinha um filho de 5 anos, residindo na Rua Antonina, casa 5.

Leva para a página seguinte da série