Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 20 — Metais
e pedras preciosas
Capítulo
CXCV
Em que se declara o nascimento das esmeraldas e safiras.
Em algumas partes do sertão da Bahia se acham esmeraldas mui limpas e de honesto tamanho, as quais nascem dentro em cristal, e como elas crescem
muito, arrebenta o cristal; e os índios quando as acham dentro nele, põem-lhe o fogo para o fazerem arrebentar, de maneira que lhe possam tirar as
esmeraldas de dentro, com o que elas perdem a cor e muita parte do seu lustro, das quais esmeraldas se servem os índios nos beiços, mas não as podem
lavrar como as pedras ordinárias que trazem nos beiços, de que já falamos.
E entende-se que assim como estas esmeraldas se acham sobre a terra são finas, que o serão muito mais as que se buscarem debaixo dela, e de muito
preço, porque a que a terra despede de si deve ser a escória das boas que ficam debaixo, as quais se não buscaram até agora por quem lhe fizesse
todas as diligências, nem chegaram a elas mais que mamelucos e índios, que se contentavam de trazerem as que acharam sobre a terra, e em uma das
partes onde se acham estas esmeraldas, que é ao pé de uma serra, onde é de notar muito o seu nascimento; porque ao pé desta serra, da banda do
nascente, se acham muitas esmeraldas dentro no cristal solto onde elas nascem; de onde trouxeram uns índios amostras, coisa muito para ver; porque,
como o cristal é mui transparente, trespassam as esmeraldas com seu resplendor da outra banda, às quais lhes firam as pontas da banda de fora, que
parece que as meteram a mão pelo cristal.
E ao pé da mesma serra, da banda do poente, se acham outras pedras muito escuras que também nascem no cristal, as quais mostram um roxo cor de
púrpura muito fino, e tem-se grande presunção de estas pedras poderem ser muito finas e de muita estima. E perto desta serra está outra de quem o
gentio conta que cria umas pedras muito vermelhas, pequenas e de grande resplendor.
Afirmam os índios tupinambás, os tupinaés, tamoios e tapuias e os índios que com eles tratam neste sertão da Bahia e no da capitania de São
Vicente, que debaixo da terra se cria uma pedra do tamanho e redondeza de uma bola, a qual arrebenta debaixo da terra; e que dá tamanho estouro como
uma espingarda, ao que acodem os índios e cavam a terra, onde toou este estouro, onde acham aquela bola arrebentada, em quartos como romã, e que lhe
saem de dentro muitas pontas cristalinas do tamanho de cerejas, as quais são de uma banda oitavadas e lavradas mui sutilmente em ponta como
diamante, e da outra banda onde pegavam da bola tinham uma cabeça tosca, das quais trouxeram do sertão amostras delas ao governador Luís de Brito,
que quando as viu teve pensamento que seriam diamantes; mas um diamante de um anel entrava por elas, e a casca da bola era de pedra não muito alva,
e ruivaça, por fora. |