Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 20 — Metais
e pedras preciosas
Capítulo
CXCIV
Em que se trata das pedras verdes e azuis que se acham no
sertão da Bahia.
Deve-se também notar que se acham também no sertão da Bahia umas pedras azuis-escuras muito duras e de grande fineza, de que os índios fazem
pedras que metem nos beiços, e fazem-nas muito roliças e de grande lustro, roçando-as com outras pedras, das quais se podem fazer peças de muita
estima e grande valor, as quais se acham muito grandes; e entre elas há algumas que têm umas veias aleonadas que lhes dão muita graça.
No mesmo sertão há muitas pedreiras de pedras verdes coalhadas, muito rijas, de que o gentio também faz pedras para trazer nos beiços, roliças e
compridas, as quais lavram como as de cima, com o que ficam muito lustrosas; do que se podem lavrar peças muito ricas e para se estimarem entre
príncipes e grandes senhores, por terem a cor muito formosa; e podem-se tirar da pedreira pedaços de sete e oito palmos, e estas pedras têm grande
virtude contra a dor de cólica.
Em muitas outras partes da Bahia, nos cavoucos
[buracos] que fazem as invernadas na terra, se acham pedaços de finíssimo cristal, e de mistura algumas pontas oitavadas como diamante, lavradas pela
natureza que têm muita formosura e resplendor.
E não há dúvida senão que entrando bem pelo sertão desta terra há serras de cristal finíssimo, que se enxerga o resplendor delas de muito longe, e
afirmaram alguns portugueses que as viram que parecem de longe as serras da Espanha quando estão cobertas de neve, os quais e muitos mamelucos e
índios que viram essas serras dizem que está tão bem criado e formoso este cristal em grandeza, que se podem tirar pedaços inteiros de dez, doze
palmos de comprido, e de grande largura e fornimento, do qual cristal pode vir à Espanha muita quantidade para poderem fazer dele obras mui
notáveis. |