Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 20 — Metais
e pedras preciosas
Capítulo
CXCIII
Em que se declara o ferro, aço e cobre que tem a Bahia.
Bem por culpa de quem a tem não há na Bahia muitos engenhos de ferro, pois o ela está mostrando com o dedo em tantas partes, para o que Luís de
Brito levou aparelhos para fazer um engenho de ferro por conta de S. A. e oficiais deste mister; e o porque se não fez, não serve de nada dizer-se;
mas não se deixou de fazer por falta de ribeiras de água, pois a terra tem tantas e tão capazes para tudo; nem por falta de lenha e carvão, pois em
qualquer parte onde os engenhos de ferro assentarem há disto muita abundância.
Também na Bahia, trinta léguas pela terra adentro, há algumas minas descobertas sobre a terra de mais fino aço que o de Milão; o qual está em
pedra sem outra nenhuma mistura de terra nem pedra; e não tem que fazer mais que lavrar-se em vergas para se poder fazer obra com ele, do que há
muita quantidade que está perdido sem haver quem ordene de o aproveitar; e desta pedra de aço se servem os índios para amolarem as suas ferramentas
com ela a mão.
E cinqüenta ou sessenta léguas pela terra adentro tem a Bahia uma serra muito grande escalvada, que não tem outra coisa senão cobre, que está
descoberto sobre a terra em pedaços, feitos em concavidades, crespo, que não parece senão que foi já fundido, ou, ao menos, que andou fogo por esta
serra, com que se fez este lavor no cobre, do que há tanta quantidade que se não acabará nunca.
E nesta serra estiveram por vezes alguns índios tupinambás e muitos mamelucos, e outros homens que vinham do resgate, os quais trouxeram mostras
deste cobre em pedaços, que se não foram tantas as pessoas que viram esta serra se não podia crer senão que o derreteram no caminho de algum pedaço
de caldeira que levavam; mas todos afirmaram estar este cobre daquela maneira descoberto na serra. |