Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 18 —
Informações etnográficas acerca de outras nações vizinhas da Bahia, como tupinaés, aimorés, amoipiras, ubirajaras etc.
Capítulo
CLXXX
Em que se declara quem são os amoipiras e onde vivem.
Convém arrumarmos aqui os amoipiras, porque descendem dos tupinambás, e por estarem na fronteira dos tupinaés, além do Rio de S. Francisco; e
passamos pelos tapuias, que ficam em meio para uma das bandas, por estarem espalhados por toda a terra, de quem temos muito que dizer ao diante, no
cabo desta história da vida e costumes do gentio.
Quando os tupinaés viviam ao longo do mar, residiam os tupinambás no sertão, onde certas aldeias deles foram fazendo guerra aos tapuias, que
tinham por vizinhos, a quem foram perseguindo por espaço de anos tão rijamente que entraram tanto pela terra adentro que foram vizinhar com o Rio de
S. Francisco.
E neste tempo outros tupinambás fizeram despejar aos tupinaés de junto do mar da Bahia, como já fica dito, os quais os meteram tanto pela terra
adentro, afastando-se dos tupinambás, que tomaram os caminhos àqueles que iam seguindo os tapuias, pelo que não puderam tornar para o mar por terem
diante os tupinaés, que como se sentiram desapressados dos tupinambás, que os lançaram fora da ribeira do mar, e souberam dest'outros tupinambás que
seguiram os tapuias, deram-lhes nas costas e apertaram com eles rijamente, o que também fizeram da sua parte os tapuias, fazendo-lhes crua guerra,
ao que os tupinambás não podiam resistir; e vendo-se tão apertados de seus contrários, assentaram de se passarem à outra banda do Rio de S.
Francisco, onde se contentaram da terra, e assentaram ali sua vivenda, chamando-se amoipiras, por o seu principal se chamar Amoipira; onde esta
gente multiplicou de maneira que tem senhoreado ao longo deste Rio de S. Francisco, a que o gentio chama o Pará, mais de cem léguas, onde agora
vivem; e ficam-lhe em frontaria, dest'outra parte do rio, de um lado os tapuias, e de outro os tupinaés, que se fazem cruel guerra uns aos outros,
passando com embarcações ao seu modo à outra banda, dando grandes assaltos, nos contrários, os amoipiras aos tapuias, que atravessam o rio em
almadias
[pirogas], que fazem da casca de árvores grandes, cujo feitio fica atrás declarado. |