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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1587 - BIBLIOTECA NM
1587 - Notícia do Brasil - [II - 176]

Clique na imagem para voltar ao índice desta obraEscrita em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza, essa obra chegou ao eminente historiador Francisco Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou em 1851, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários. Em 1974, foi editada com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, com extensas notas de importantes pesquisadores. Mais recentemente, o site Domínio Público apresentou uma versão da obra, com algumas falhas de digitalização e reconhecimento ótico de caracteres (OCR).

Por isso, Novo Milênio fez um cotejo daquela versão digital com a de 1974 e com o exemplar cedido em maio de 2010 para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá. Este exemplar corresponde à terceira edição (Companhia Editora Nacional, 1938, volume 117 da série 5ª da Brasiliana - Biblioteca Pedagógica Brasileira), com os comentários de Varnhagen. Foi feita ainda alguma atualização ortográfica:

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Tratado descritivo do Brasil em 1587

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Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa

SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIA

TÍTULO 17 — Noticia etnográfica do gentio tupinambá que povoava a Bahia

Capítulo CLXXVI

Que trata do sucessor ao principal que morreu, e das cerimônias que faz sua mulher, e as que se fazem por morte dela também.

Costumam os tupinambás, quando morre o principal da aldeia, elegerem entre si quem suceda em seu lugar, e se o defunto tem filho que lhe possa suceder, a ele aceitam por seu cabeça; e quando não é para isso, ou o não tem, aceitam um seu irmão em seu lugar; e não os tendo que tenham partes para isso, elegem um parente seu, se é capaz de tal cargo, e tem as partes atrás declaradas.

É costume entre as mulheres dos principais tupinambás, ou de outro qualquer índio, a mulher cortar os cabelos por dó, e tingir-se toda de jenipapo. As quais choram seus maridos muitos dias, e são visitadas de suas parentas e amigas; e todas as vezes que o fazem, tornam com a viúva a prantear de novo o defunto, as quais deixam crescer o cabelo até que lhes dá pelos olhos, e se não casa com outro, logo faz sua festa com vinhos, e torna-se a tosquiar para tirar o dó, tinge-se de novo do jenipapo.

Costumam os índios, quando lhes morrem as mulheres, deixarem crescer o cabelo, no que não têm tempo certo, e tingem-se do jenipapo por dó; e quando se querem tosquiar, se tornam a tingir de preto à véspera da festa dos vinhos, que fazem a seu modo, cantando toda a noite, para a qual se ajunta muita gente para estes cantares, e o viúvo tosquia-se à véspera, à tarde, e ao outro dia há grandes revoltas de cantar e bailar, e beber muito; e o que neste dia mais bebeu fez maior valentia, ainda que vomite e perca o juízo.

Nestas festas se cantam as proezas do defunto ou defunta, e do que tira o dó, e o mesmo dó tomam os irmãos, filhos, pai e mãe do defunto, e cada um por si faz sua festa, quando tira o dó apartado, ainda que o tragam por uma mesma pessoa; mas este sentimento houveram de ter os vivos dos mortos, quando estavam doentes; mas são tão desamoráveis os tupinambás que, quando algum está doente, e a doença é comprida, logo aborrece a todos os seus, e curam dele muito pouco; e como o doente chega a estar mal, é logo julgado por morto; e não trabalham os seus mais chegados por lhe dar a vida, antes o desamparam, dizendo que pois há de morrer, e não tem remédio, que para que é dar-lhe de comer, nem curar dele; e tanto é isto assim que morrem muitos ao desamparo; e levam a enterrar outros ainda vivos, porque como chega a perder a fala dão-no logo por morto; e entre os portugueses aconteceu muitas vezes fazerem trazer de junto da cova escravos seus para casa, por as mulheres os julgarem por mortos, muitos dos quais tiveram saúde e viveram depois muitos anos.