Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 16 — Dos
crustáceos, moluscos, zoófitos, eqüinodermos etc. e dos peixes de água doce
Capítulo
CXXXIX
Que trata de diversas castas de caranguejos.
Há outros caranguejos, a que os índios chamam siris, que têm outra feição mais natural com os caranguejos de Portugal, mas são muito
maiores, e têm as duas bocas muito compridas e grandes, e os braços delas quadrados, no que têm muito que comer.
Estes desovam em cada lua nova, na qual as fêmeas têm grandes corais vermelhos
[ovas dessa mesma cor], e os machos os têm brancos, e estão muito gordos; os quais uns e outros têm muito que comer, e em todo o tempo são muito gostosos e sadios;
criam-se na praia de areia dentro na água, onde os tomam às mãos quando a maré enche, e não têm fel como os uçás.
Criam-se outros caranguejos na água salgada, a que os índios chamam guaiás; estes são compridos, e têm as pernas curtas e pequenas bocas;
são muito poucos, mas muito bons.
Aratus são outros caranguejos pequenos, como os de Portugal, que se tomam no Rio de Sacavém, em Lisboa; criam-se entre os mangues, de cuja
folha e casca se mantêm e sempre lhes estão roendo nos pés; dos quais há infinidade, mas têm a casca mole; e em seu tempo, uma vez no ano, têm as
fêmeas corais, e os machos estão muito gordos; e uns e outros são sadios e gostosos.
Há outros caranguejos, a que os índios chamam guaiararas, que se criam nos rios, onde a água doce se mistura com a salgada, os quais são
mui lisos e de cor apavonada, e têm o casco redondo, as pernas curtas, e são poucos e gostosos.
Guaiauçás são outros caranguejos que se criam dentro da areia que se descobre na vazante da maré, os quais são pequenos e brancos, e têm as
covas mui fundas; e andam sempre pelas praias, enquanto não vem gente, e como a sentem se metem logo nas covas; e aconteceu já fazer um índio
tamanha cova, para tirar um destes caranguejos, que lhe caiu areia em cima de maneira que não pôde tirar a cabeça e afogou-se; no que os índios
tomam tanto trabalho, porque lhes serve este guaiauçá de isca, que o peixe come bem; os quais têm a casca muito mole ordinariamente, e não se
comem por pequenos. |