Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 15 — Dos
mamíferos marinhos e dos peixes do mar, camarões etc.
Capítulo
CXXXVII
Que trata da qualidade de alguns peixinhos e dos
camarões.
Mirucaia é um peixe, assim chamado dos índios, da feição de choupinhas, que se tomam á cana nos rios do salgado; são tesos e de fraco
sabor; em cujas bocas se criam no inverno, com as cheias, uns bichos como minhocas, que lhes morrem no verão.
Piraquiras são uns peixinhos como os peixes-reis de Portugal, e como as ruivacas de água doce, os quais se tomam na água salgada em camboas,
que são umas cercas de pedra insossa
[feitas sem argamassa] onde se estes peixinhos vêm recolher fugindo do peixe grande, e ficam com a maré vazia dentro nas poças, onde se enchem balaios deles; e em certo
tempo trazem os índios destes lugares sacos cheios destes peixinhos.
Pequitins são uns peixinhos muito pequeninos que se tomam em poças de água, onde ficam com a maré vazia, e são tamanhinhos que os índios
assam mil juntos, embrulhados em umas folhas debaixo do borralho, e ficam depois de assados todos pegados, à feição de uma maçaroca.
Carapiaçaba são uns peixinhos que se tomam a cana, os quais são redondos como choupinhas, e pintados de pardo e amarelo, e são sempre
gordos e muito bons para doentes. E afora estes peixinhos há mil castas de outros de que se não faz menção, por escusar prolixidade, mas está
entendido que onde há tanta diversidade de peixes grandes, haverá muito mais dos pequenos.
Potipemas chamam os índios aos camarões, que são como os de Vila França, os quais têm as unhas curtas, as barbas compridas, e são
aborrachados na feição; têm a casca branda e são mui saborosos; criam-se estes nos esteiros de água salgada, e tomam-se em redinhas de mão, nas
redes grandes de pescar vêm de mistura com o outro peixe. |