Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 14 — De
vários himenópteros etc.
Capítulo
CXXIII
Em que se trata que coisa é o cupim, que há na Bahia, e
dos carrapatos.
Cupim são uns bichos que são tão prejudiciais como as formigas, os quais arremedam na feição às formigas, mas são mais curtos, redondos e muito
nojentos, e se lhes tocam com as mãos logo se esborracham, e ficam fedendo a percevejos e são brancacentos.
Estes bichos se criam nas árvores e na madeira das casas, onde não há quem se defenda deles; os quais vêm do mato por baixo do chão a entrar nas
casas, e trepam pelas paredes aos forros e em madeiramento delas; e fazem de barro um caminho muito para ver, que vai todo coberto com uma abóbada
de barro em volta de berço, coisa sutilíssima e tão delgada a parede dela como casca de castanha, e servem-se por dentro por onde sempre caminham,
uns para cima e outros para baixo; e fazem nas partes mais altas das casas seus aposentos, pelas juntas de madeira em redondo; uns tamanhos como
bolas, outros como botijas, e tamanhos como potes; e se se não tem muito tento nisto, destroem umas casas, e comem-lhes a madeira, e apodrentam-na
toda; e o mesmo feito fazem nas árvores, com que as fazem secar; e é necessário que se alimpem as casas dele, de quando em quando; e quando lhe
tiram fora estes aposentos, estão todos lavrados por dentro como favo de mel, mas têm as casas mais miúdas, e todas estas cheias deste cupim; o qual
lançam às galinhas com o que engordam muito.
Pelas árvores se cria outra casta de cupim preto, e do tamanho e feição do gorgulho que na Espanha se cria no trigo; este morde muito, e é mais
ligeiro que o de cima, e faz seus ninhos pelos ramos das árvores secas; e lavram-nos todos por dentro.
Há na Bahia muitos carrapatos, dos quais se cria infinidade deles no mato, nas folhas das árvores, e com o vento caem no chão; e quem anda por
baixo destas árvores leva logo seu quinhão; dos quais nasce grande comichão; mas como se untam com qualquer azeite, logo morrem. Destes carrapatos
se pegam muitos na caça grande, e nas vacas, onde se fazem muito grandes; mas há uns pássaros de que dissemos atrás, que os matam às alimárias e às
vacas, que os esperam muito bem, e mantêm-se disto.
Também se criam nas palmeiras uns caracóis do tamanho de oito reais, que são baixos e enroscada a casca em voltas como a postura de uma cobra,
quando está enroscada, os quais fazem mal aos índios, se comem muitos. Dos caracóis da Espanha se criam muitos nas árvores e nas ervas. |