Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 12 — Dos
mamíferos terrestres e anfíbios
Capítulo
CVI
Que trata dos cágados da Bahia.
Em qualquer parte dos matos da Bahia se acham muitos cágados, que se criam pelos pés das árvores, sem irem à água, a que os índios chamam
jabuti; há uns que são muito maiores que os da Espanha, mais altos e de mais carne, e têm as conchas lavradas em compartimentos oitavados de
muito notável feitio; os lavores dos compartimentos são pretos, e o meio de cada um é branco e almecegado.
Estes cágados têm as mãos, pés, pernas, pescoço e cabeça, cheios de verrugas tamanhas, como chícharros
[espécie de ervilha], muito vermelhas, e agudas nas pontas; estes põem infinidade de ovos, de que nascem em terra úmida, onde criam debaixo do arvoredo; mantêm-se de
frutas, que caem pelo chão; e metidos em casa comem tudo quanto acham pelo chão; cuja carne é muito gorda, saborosa e sadia para doentes.
Há outros cágados, que também se criam no mato, sem irem à água, a que os índios chamam jabutiapeba; os quais têm os mesmos lavores nas
conchas, mas são muito amassados, e têm as costas muito chãs, e não têm verrugas; têm pouca carne e mui saborosa; criam e mantêm-se pela ordem dos
de cima.
Há outras castas de cágados da feição dos da Espanha, a que os índios chamam jabuti-mirim, que se criam e andam sempre na água, que também
são mui saborosos e medicinais; e dos que se criam na água há muitas castas de diversas feições, que têm as mesmas manhas, e natureza, mas mui
diferentes na grandura. E pareceu-me decente arrumar neste capítulo os cágados por serem animais que se criam na terra, e se mantêm de frutas dela. |