Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 12 — Dos
mamíferos terrestres e anfíbios
Capítulo
CV
Que trata da diversidade dos ratos que se comem, e
coelhos e outros ratos de casa.
Pelo sertão há uns bichos a que os índios chamam saviá e são tamanhos como láparos; têm o rabo comprido, o cabelo como lebre; criam em
covas no chão; mantêm-se das frutas silvestres; tomam-nos em armadilhas cuja carne é muito estimada de toda a pessoa, por ser muito saborosa, e
parece-se com a dos coelhos.
Aperiás [preás] são outros bichos tamanhos como láparos, que não têm rabo; e têm o rosto da feição do leitão, as orelhas como coelho, e o cabelo como lebre;
criam em covas, comem frutas e canas-de-açúcar, a que fazem muito dano, cuja carne é muito saborosa. Mais pela terra adentro há outros bichos da
feição de ratos, mas tamanhos como coelhos, com o cabelo branco, a que os índios chamam saviá-tinga, os quais criam em covas, e comem frutas;
cuja carne é muito boa, sadia e saborosa.
No mesmo sertão há outros bichos, da feição de ratos, tamanhos como coelhos, a que os índios chamam saviá-coca, que têm o cabelo vermelho,
criam em covas, e mantêm-se da fruta do mato; cuja carne é como de coelhos.
Em toda a parte dos matos da Bahia se criam coelhos como os da Espanha, mas não são tamanhos, a que os índios chamam tapotim; e todas as
feições têm de coelhos, senão o rabo, porque o não têm; os quais criam em covas, e as fêmeas parem muito; cuja carne é como a dos coelhos, e muito
saborosa.
Em algumas partes dos matos da Bahia se criam uns bichos, sobre o grande, com todas as feições e parecer de ratos, a que os gentios chamam
jupati [quica ou chichica - marsupial adaptado
à vida anfíbia, "nadando muito bm e alimentando-se de peixinhos, insetos aquáticos e caranguejos" - apud R. von Ihering, Dicionário dos
Animais do Brasil, S. Paulo - 1968, págs. 589-590], que não se comem, os quais criam em troncos das árvores velhas; e as fêmeas têm um bolso na barriga, em que trazem sete e oito filhos, até que
são criados, que tanto parem.
Aos ratos das casas chamam os índios saviá, onde se criam infinidade deles, os quais são muito daninhos, e de dia andam pelo mato, e de
noite vêm-se meter nas casas. |