Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 11 — Da
entomologia brasílica
Capítulo
XCII
Que trata das vespas e moscas.
Criam-se na Bahia muitas vespas, que mordem muito; em especial umas, a que chamam os índios teringoá, que se criam em ramos de árvores
poucas juntas, e cobrem-se com uma capa que parece teia de aranha, de onde fazem seu ofício em sentindo gente.
Amisagoa é outra casta de vespas, que são à maneira de moscas, que se criam em um ninho, que fazem nas paredes, e nas barreiras da terra,
tamanhos como uma castanha, com um olho no meio, por onde entram, o qual ninho é de barro, e elas mordem a quem lhes vai bulir nele.
E porque as moscas se não queixem, convém que digamos de sua pouca virtude; e comecemos nas que se chamam mutuca, que são as moscas gerais
e enfadonhas que há na Espanha; as quais adivinham a chuva, começando a morder onde chegam, de maneira que, se se sente sua picada, é que há boa
novidade.
Há outra casta de moscas, a que os índios chamam muruanha, que são mais miúdas que as de cima e azuladas; estas seguem sempre os cães e
comem-lhes as orelhas; e se tocam em chaga ou sangue, logo lançam varejas.
Merus são outras moscas grandes e azuladas que mordem muito onde chegam, tanto que por cima de rede passam o gibão a quem está lançado
nela, e logo fazem arrebentar o sangue pela mordedura; aconteceu muitas vezes porem elas varejas a homens que estavam dormindo, nas orelhas, nas
ventas e no céu da boca, e lavrarem de feição por dentro as varejas, sem se saber o que eram, que morreram alguns disso.
Também há outras como as de cavalo, mas mais pequenas e muito negras, que também mordem onde chegam. |