Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 11 — Da
entomologia brasílica
Capítulo
XCI
Em que se conta a propriedade das abelhas da Bahia.
Na Bahia há muitas castas de abelhas. Primeiramente, há umas a que o gentio chama heru, que são grandes e pardas; estas fazem o ninho no
ar, por amor das cobras, como os pássaros de que dissemos atrás; onde fazem seu favo e criam mel muito bom e alvo, que lhes os índios tiram com
fogo, do que elas fogem muito; as quais mordem valentemente.
Há outra casta de abelhas, a que os índios chamam tapiúja, que também são grandes, e criam em ninhos que fazem nas pontas dos ramos das
árvores com barro, cuja abóbada é tão sutil que não é mais grossa que papel. Estas abelheiras crestam também com fogo, a quem os índios comem as
crianças, e elas mordem muito.
Há outra casta de abelhas, maiores que as da Espanha, a que os índios chamam taturama; estas criam nas árvores altas, fazendo seu ninho de
barro ao longo do tronco delas, e dentro criam seu mel em favos, o qual é baço, e elas são pretas e mui cruéis.
Há outra casta de abelhas, a que o gentio chama cabecé, que mordem muito, que também fazem o ninho em árvores, onde criam mel muito alvo e
bom; as quais são louras, e mordem muito.
Há outra casta de abelhas, a que os índios chamam caapoã, que são pequenas, e mordem muito a quem lhes vai bulir no seu ninho, que fazem no
chão, de barro sobre um torrão; o qual é redondo do tamanho de uma panela, e tem serventia ao longo do chão, onde criam seu mel, que não é bom.
Cabatãs são outras abelhas que não são grandes, que fazem seu ninho no ar, dependurado por um fio, que desce da ponta de um raminho; e são
tão bravas que, em sentindo gente, remetem logo aos beiços, olhos e orelhas, onde mordem cruelmente; e nestes ninhos armam seus favos, onde criam
mel branco e bom.
Saracoma são outras abelhas pequenas que fazem seu gasalhado entre folhas das árvores, onde não criam mais que sete ou oito juntas; e fazem
ali seu favo, em que criam mel muito bom e alvo; estas mordem rijamente, e dobram umas folhas sobre outras, que tecem com uns fios como aranhas,
onde têm os favos.
Há outra casta de abelhas, a que o gentio chama cabaojuba, que são amarelas, e criam nas tocas das árvores, e são mais cruéis que todas; e
em sentindo gente remetem logo a ela; e convém levar aparelho de fogo prestes, com o qual lhes tiram os favos cheios de mel muito bom.
Capueruçu é outra casta de abelhas grandes; criam seus favos em ninhos, que fazem no mais alto das árvores, do tamanho de uma panela, os
quais são de barro; os índios os crestam com fogo, e lhes comem os filhos, que lhes acham; as quais também mordem onde chegam e quem lhes vai bulir. |