Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 11 — Da
entomologia brasílica
Capítulo
XC
Que trata de alguns bichos menores que têm asas e têm
alguma semelhança de aves.
Como foi forçado dizer-se de todas as aves como fica dito, convém que junto delas se diga de outros bichos que têm asas e mais aparência de aves
que de alimárias, ainda que sejam imundícies, e pouco proveitosas ao serviço dos homens.
Comecemos logo dos gafanhotos, a que o gentio chama tacura, os quais se criam na Bahia muito grandes, e andam muitas vezes em bandos, os
quais são da cor dos que há na Espanha, e há outros pintados, outros verdes e de diferentes cores, e têm maiores asas que os da Espanha, e quando
voam abrem-nas como pássaros e não são muito daninhos.
Há outros bichos, a que os índios chamam tacuranda, e em Portugal saudes
[? louva-a-Deus], os quais são muito formosos, pintados e grandes, mas não fazem mal a nada.
Nas tocas das árvores se criam uns bichinhos como formigas, com asas brancas, que não saem do ninho senão depois que chove muito, e o primeiro dia
de sol, a que os índios chamam arará; e quando saem fora é voando; e sai tanta multidão que cobre o ar, e não torna ao lugar donde saiu, e
perde-se com o vento.
As borboletas a que chamam mariposa, chamam os índios sarará; as quais andam de noite de redor das candeias, maiormente em casas palhoças
do mato, e em noites de escuro, e são tão perluxas às vezes que não há quem se valha com elas, porque se vêm ao rosto e dão enfadamento às ceias,
porque se põem no comer, e não deixam as candeias dar seu lume, o que acontece em povoado.
Há outra casta de borboletas grandes, umas brancas e outras amarelas, e outras pintadas, muito formosas à vista, a que os índios chamam panamá,
as quais vêm às vezes de passagem no verão em tanta multidão, que cobrem o ar, e põem logo todo um dia em passar por cima da cidade do Salvador à
outra banda da Bahia, que são nove ou dez léguas de passagem. Estas borboletas fazem muito dano nos algodões quando estão em flor. |