Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 4 — Da
agricultura da Bahia
Capítulo
LI
Em que se diz que fruto é o que se chama mamões e
jaracatiás.
De Pernambuco veio à Bahia a semente de uma fruta a que chamam mamões, os quais são do tamanho e da feição e cor de grandes peros camoeses, e têm
muito bom cheiro como são de vez, que se fazem nas árvores, e em casa acabam de amadurecer; e como são maduros se fazem moles como melão; e para se
comerem cortam-se em talhadas como maçã, e tiram-lhes as pevides que têm, envoltas em tripas, como as de melão, mas são crespas e pretas como grãos
de pimenta da Índia, às quais talhadas se apara a casca, como à maçã, e o que se come é da cor e brandura do melão, o sabor é doce e muito gostoso.
Estas sementes se semearam na Bahia, e nasceram logo; e tal agasalhado lhe fez a terra que no primeiro ano se fizeram as árvores mais altas que um
homem, e ao segundo começaram de dar fruto, e se fizeram as árvores de mais de vinte palmos de alto, e pelo pé tão grossas como um homem pela cinta;
os seus ramos são as mesmas folhas arrumadas como as das palmeiras; e cria-se o fruto no tronco entre as folhas.
Entre estas árvores há machos, que não dão fruto como as tamareiras, e umas e outras em poucos anos se fazem pelo pé tão grossas como uma pipa, e
da vantagem.
Nesta terra da Bahia se cria outra fruta natural dela, que em tudo se parece com estes mamões de cima, senão que são mais pequenos, à qual os
índios chamam jaracatiá, mas têm a árvore delgada, de cuja madeira se não usa. Esta árvore dá a flor branca, o fruto é amarelo por fora, da
feição e tamanho dos figos bêberas ou longais brancos, que têm a casca dura e grossa, a que chamam em Portugal longais; desta maneira, tem esta
fruta a casca, que se lhe apara quando se come, tem bom cheiro, e o sabor toca de azedo, e tem umas sementes pretas que se lançam fora. |