Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 4 — Da
agricultura da Bahia
Capítulo
L
Em que se declara a natureza das pacobas e bananas.
Pacoba é uma fruta natural desta terra, a qual se dá em uma árvore muito mole e fácil de cortar, cujas folhas são de doze e quinze palmos de
comprido e de três e quatro de largo; as de junto ao olho são menores, muito verdes umas e outras, e a árvore da mesma cor mas mais escura; na Índia
chamam a estas pacobeiras figueiras e ao fruto, figos.
Cada árvore destas não dá mais que um só cacho que pelo menos tem passante de duzentas pacobas, e como este cacho está de vez, cortam a árvore
pelo pé e de um só golpe que lhe dão com uma foice a cortam e cerceiam, como se fora um nabo, do qual corte corre logo água em fio, e dentro em
vinte e quatro horas torna a lançar do meio do corte um olho mui grosso de onde se gera outra árvore; de redor deste pé arrebentam muitos filhos que
aos seis meses dão fruto, e ao mesmo faz à mesma árvore.
E como se corta esta pacobeira, tiram-lhe o cacho que tem o fruto verde e muito teso, e dependuram-no em parte onde amadureça, e se façam amarelas
as pacobas; e na casa onde se fizer fogo amadurecem mais depressa com a quentura; e como esta fruta está madura, cheira muito bem.
Cada pacoba destas tem um palmo de comprido e a grossura de um pepino, às quais tiram as cascas, que são de grossura das favas; e fica-lhes o
miolo inteiro almecegado, muito saboroso. Dão-se estas pacobas assadas aos doentes em lugar de maçãs, das quais se faz marmelada muito sofrível, e
também as concertam como berinjelas, e são muito gostosas; e cozidas no açúcar com canela são estremadas, e passadas ao sol sabem a pêssegos
passados.
Basta que de toda a maneira são muito boas, e dão em todo o ano; mas no inverno não há tantas como no verão, e a estas pacobas chama o gentio
pacobuçu, que quer dizer pacoba grande.
Há outra casta que não são tamanhas, mas muito melhores no sabor, e vermelhaças por dentro quando as cortam, e se dão e criam da mesma maneira das
grandes.
Há outra casta, que os índios chamam pacobamirim, que quer dizer pacoba pequena, que são do comprimento de um dedo, mas mais grossas; essas
são tão doces como tâmaras, em tudo mui excelentes.
As bananeiras têm árvores, folhas e criação como as pacobeiras, e não há nas árvores de umas às outras nenhuma diferença, as quais foram ao Brasil
de São Tomé, aonde ao seu fruto chamam bananas e na Índia chamam a estes figos de horta, as quais são mais curtas que as pacobas, mas mais grossas e
de três quinas; têm a casca da mesma cor e grossura das das pacobas, e o miolo mais mole, e cheiram melhor como são de vez, às quais arregoa a casca
como vão amadurecendo e fazendo algumas fendas ao alto, o que fazem na árvore; e não são tão sadias como as pacobas.
Os negros da Guiné são mais afeiçoados a estas bananas que às pacobas, e delas usam nas suas roças; e umas e outras se querem plantadas em vales
perto da água, ou ao menos em terra que seja muito úmida para se darem bem e também se dão em terras secas e de areia; quem cortar atravessadas as
pacobas ou bananas, ver-lhes-á no meio uma feição de crucifixo, sobre o que contemplativos têm muito que dizer. |