Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300a2nb128.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/28/10 15:20:53
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1587 - BIBLIOTECA NM
1587 - Notícia do Brasil - [II - 50]

Clique na imagem para voltar ao índice desta obraEscrita em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza, essa obra chegou ao eminente historiador Francisco Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou em 1851, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários. Em 1974, foi editada com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, com extensas notas de importantes pesquisadores. Mais recentemente, o site Domínio Público apresentou uma versão da obra, com algumas falhas de digitalização e reconhecimento ótico de caracteres (OCR).

Por isso, Novo Milênio fez um cotejo daquela versão digital com a de 1974 e com o exemplar cedido em maio de 2010 para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá. Este exemplar corresponde à terceira edição (Companhia Editora Nacional, 1938, volume 117 da série 5ª da Brasiliana - Biblioteca Pedagógica Brasileira), com os comentários de Varnhagen. Foi feita ainda alguma atualização ortográfica:

Leva para a página anterior

Tratado descritivo do Brasil em 1587

Leva para a página seguinte da série


Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa

SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIA

TÍTULO 4 — Da agricultura da Bahia

Capítulo L

Em que se declara a natureza das pacobas e bananas.

Pacoba é uma fruta natural desta terra, a qual se dá em uma árvore muito mole e fácil de cortar, cujas folhas são de doze e quinze palmos de comprido e de três e quatro de largo; as de junto ao olho são menores, muito verdes umas e outras, e a árvore da mesma cor mas mais escura; na Índia chamam a estas pacobeiras figueiras e ao fruto, figos.

Cada árvore destas não dá mais que um só cacho que pelo menos tem passante de duzentas pacobas, e como este cacho está de vez, cortam a árvore pelo pé e de um só golpe que lhe dão com uma foice a cortam e cerceiam, como se fora um nabo, do qual corte corre logo água em fio, e dentro em vinte e quatro horas torna a lançar do meio do corte um olho mui grosso de onde se gera outra árvore; de redor deste pé arrebentam muitos filhos que aos seis meses dão fruto, e ao mesmo faz à mesma árvore.

E como se corta esta pacobeira, tiram-lhe o cacho que tem o fruto verde e muito teso, e dependuram-no em parte onde amadureça, e se façam amarelas as pacobas; e na casa onde se fizer fogo amadurecem mais depressa com a quentura; e como esta fruta está madura, cheira muito bem.

Cada pacoba destas tem um palmo de comprido e a grossura de um pepino, às quais tiram as cascas, que são de grossura das favas; e fica-lhes o miolo inteiro almecegado, muito saboroso. Dão-se estas pacobas assadas aos doentes em lugar de maçãs, das quais se faz marmelada muito sofrível, e também as concertam como berinjelas, e são muito gostosas; e cozidas no açúcar com canela são estremadas, e passadas ao sol sabem a pêssegos passados.

Basta que de toda a maneira são muito boas, e dão em todo o ano; mas no inverno não há tantas como no verão, e a estas pacobas chama o gentio pacobuçu, que quer dizer pacoba grande.

Há outra casta que não são tamanhas, mas muito melhores no sabor, e vermelhaças por dentro quando as cortam, e se dão e criam da mesma maneira das grandes.

Há outra casta, que os índios chamam pacobamirim, que quer dizer pacoba pequena, que são do comprimento de um dedo, mas mais grossas; essas são tão doces como tâmaras, em tudo mui excelentes.

As bananeiras têm árvores, folhas e criação como as pacobeiras, e não há nas árvores de umas às outras nenhuma diferença, as quais foram ao Brasil de São Tomé, aonde ao seu fruto chamam bananas e na Índia chamam a estes figos de horta, as quais são mais curtas que as pacobas, mas mais grossas e de três quinas; têm a casca da mesma cor e grossura das das pacobas, e o miolo mais mole, e cheiram melhor como são de vez, às quais arregoa a casca como vão amadurecendo e fazendo algumas fendas ao alto, o que fazem na árvore; e não são tão sadias como as pacobas.

Os negros da Guiné são mais afeiçoados a estas bananas que às pacobas, e delas usam nas suas roças; e umas e outras se querem plantadas em vales perto da água, ou ao menos em terra que seja muito úmida para se darem bem e também se dão em terras secas e de areia; quem cortar atravessadas as pacobas ou bananas, ver-lhes-á no meio uma feição de crucifixo, sobre o que contemplativos têm muito que dizer.