Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XXIX
Em que se explica o tamanho e formosura do Rio Irajuí e
seus recôncavos.
Correndo por esta ponta de entre ambos os rios acima com a mão direita ao longo da terra, da ponta duas léguas pelo rio acima, é a terra fraca,
que não serve senão para lenha dos engenhos; daqui para cima, uma légua da cachoeira deste rio, é tudo povoado de canaviais e fazendas de moradores,
até onde a água salgada se mete por dois esteiros acima, onde se ajuntam com ele duas ribeiras de água, nas quais estão dois engenhos, os quais
deixemos estar para dizermos primeiro do Rio de Irajuí, que vai por este meio um quarto de légua para cima, povoado de canaviais e fazendas em que
entra uma casa de meles de muita fábrica de Gaspar de Freitas, além da qual, junto à cachoeira, está situado o engenho de Diogo Correia de Sande,
que é uma das melhores peças da Bahia, porque está mui bem acabado, com grandes aposentos e outras oficinas, e uma fresca igreja de Vera Cruz.
E tornando abaixo ao esteiro da mão direita, que se chama Caípe, indo por ele acima, está um soberbo engenho com casas de purgar e de vivenda, e
muitas outras oficinas, com grande e formosa igreja de S. Lourenço, onde vivem muitos vizinhos numa povoação que se diz a Graciosa. Esta é muito
fértil e abastada de todos os mantimentos e de muitos canaviais de açúcar, a qual é de Gabriel Soares de Sousa; e deste engenho ao de Diogo Correia
não há mais distância que quatrocentas braças de caminho de carro, e para vizinharem se servem os carros de um engenho ao outro por cima de duas
pontes, e atravessam estes rios e ficam os engenhos à vista um do outro.
E tornando ao outro esteiro que fica da outra banda do Rio Irajuí, onde se mete a ribeira que se diz de Jaceru, com a qual mói outro engenho que
agora novamente fez o mesmo Diogo Correia, o qual está mui bem acabado e aperfeiçoado com as oficinas necessárias; todo este esteiro está povoado de
fazendas de moradores com formosos canaviais; e descendo por este rio abaixo ao longo da terra da mão direita, andando mais de uma légua, vai a
terra povoada da mesma maneira, onde este rio é como o Tejo de Vila Franca para cima.
E daqui até em direito da ponta que divide este Rio de Jaguaripe é a terra fraca, onde há três esteiros que entram por ela dentro duas léguas, nos
quais se metem ribeiras com que se podem moer engenhos; mas a terra não é capaz para dar muitos anos canas. E abaixo deste esteiro está uma ilheta
que chamam do Sal, porque o gentio, quando vivia mais perto do mar, costumava-o fazer ali, defronte da qual está outra ilheta no cabo da ponta de
ambos os rios.
Desta ilha até a ponta da barra haverá uma légua, tudo terra de pouca substância. Desta terra à ilha de Fernão Vaz é perto de uma légua, e entre
esta ilha e a de Taparica e a terra firme fica quase em quadra uma baía de uma légua, onde se mete a barra que se chama de Jaguaripe, de que se faz
já menção. |