Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XXIV
Em que se declara o sítio da terra da boca do esteiro de
Mataripe até a Oonta de Marapé e dos engenhos que em si tem.
Deste esteiro de Mataripe ao de Caípe será meia légua, ou menos, a qual está toda lavrada e aproveitada de muitos canaviais que os moradores, que
por esta terra vivem, têm feito. Neste esteiro de Caípe está um engenho de bois de duas moendas, peça de muita estima, o qual é de Martim Carvalho,
onde tem uma ermida da Santíssima Trindade mui concertada com as mais oficinas necessárias.
Defronte deste esteiro de Caípe está um ilhéu de pedra meia légua no mar, que se diz Itapitanga, do qual esteiro corre a terra quase direita obra
de uma légua ou mais, no cabo da qual está outro engenho de bois, fazenda muito grossa de escravos e canaviais, com nobres edifícios de casas, com
uma fresca igreja de Nossa Senhora das Neves, muito bem acabada, o qual engenho é de André Fernandes Margalho, que o herdou de seu pai com muita
fazenda. Ao longo desta terra, um tiro de berço, está estendida a Ilha de Cururupeba, que é de meia légua de comprido, a qual é dos padres da
Companhia, que a têm arrendada a sete ou oito moradores, que nela vivem.
Entre esta ilha e a dos Frades estão duas ilhetas, em cada uma das quais está um morador, que a lavra, e são de Antônio da Costa. Deste engenho de
André Fernandes para cima vai fazendo a terra uma enseada de uma légua, no cabo da qual está o esteiro de Parnamirim; e defronte desta enseada, bem
chegadas à terra firme, estão três ilhas; a primeira defronte do engenho, que é do mesmo André Fernandes, que tem perto de meia légua, onde tem
alguns moradores, que lavram canas e mantimentos; e junto desta ilha está outra mais pequena, que é do mesmo, de onde tira lenha para o engenho; e
mais avante de Parnamirim está outra ilha, que se diz a das Fontes, que é de João Nogueira, a qual é de meia légua, onde também vivem sete ou oito
moradores. A terra de todas estas três ilhas é alta e muito boa.
Na boca do esteiro de Parnamirim está um engenho de bois de Belchior Dias Porcalho, que tem uma ermida de Santa Catarina. Por este esteiro de
Parnamirim entra a maré uma légua, no cabo da qual está outro engenho de bois de Antônio da Costa, que está muito bem acabado. Este esteiro de uma
parte e da outra está todo lavrado de canaviais e povoado de formosas fazendas, no meio do qual está uma ilha de Vicente Monteiro, toda lavrada com
uma formosa fazenda.
E tornado à boca deste esteiro, andando sobre a mão direita daí a uma légua, está tudo povoado de moradores, onde tem muito boas fazendas de
canaviais e algodões, a qual terra se chama Tamarari, no meio da qual está uma igreja de Nossa Senhora, que é freguesia deste limite. Esta terra faz
no cabo uma ponta; e virando dela sobre a mão direita vai fugindo a terra para trás, até dar em outro esteiro que chamam Marapé, onde se começam as
terras de Mem de Sá, que agora são de seu genro, o conde de Linhares. |