Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XXIII
Em que se declara a feição da terra da boca de Matoim até
o esteiro de Mataripe e os engenhos que tem em si.
Saindo pela boca de Matoim fora, virando sobre a mão direita, vai a terra fabricada com fazendas e canaviais dali a meia légua, onde está outro
engenho de Sebastião de Faria, de duas moendas que lavram com bois, o qual tem grandes edifícios, assim do engenho como de casas de purgar, de
vivenda e de outras oficinas, e tem uma formosa igreja de Nossa Senhora da Piedade, que é freguesia deste limite, a qual fazenda mostra tanto
aparato da vista do mar que parece uma vila.
E indo correndo a ribeira do Salgado deste engenho a meia légua, está tudo povoado de fazendas, e no cabo está uma que foi do deão da Sé, com uma
ermida de Nossa Senhora muito concertada, a qual está numa ponta da terra. Defronte dessa ponta, bem chegada à terra firme, está uma ilha, que se
diz de Pedro Fernandes, onde ele vivia com sua família e tem sua granjearia de canaviais e roças com água dentro.
Da fazenda do deão se começa de ir armando a enseada que dizem de Jacarecanga, no meio da qual está um formoso engenho de bois de Cristóvão de
Barros até onde está tudo povoado de fazendas e lavrado de canaviais; este engenho tem mui grandes edifícios e uma igreja de Santo Antônio.
Esta enseada está em feição de meia lua e terá, segundo a feição da terra, duas léguas, na qual está uma ribeira de água em que se pode fazer um
engenho, o qual se deixa de fundar por se não averiguar o litígio que sobre ela há; e toda esta enseada à roda, sobre a vista da água, está povoada
de fazendas e formosos canaviais.
E saindo dessa enseada, virando sobre a ponta da mão direita, vai correndo a terra fazendo um canto em espaço de meia légua, na qual estão dois
engenhos de bois, um de Tristão Rodrigo junto da ponta da enseada, defronte da qual à Ilha de Maré está um ilhéu que se chama de Pacé, de onde tomou
o nome a terra firme deste limite. Este engenho de Tristão Rodrigo tem uma fresca ermida de Santa Ana. O outro engenho está no cabo desta terra que
é de Luís Gonçalves Varejão, no qual tem outra igreja de Nossa Senhora do Rosário, que é freguesia desse limite.
Deste engenho se torna a afeiçoar a terra fazendo ponta para o mar, que terá comprimento de meia légua, e no cabo dela se chama a Ponta de Tomás
Alegre, até onde está tudo povoado de fazendas e canaviais, em que entra uma casa de meles de Marcos da Costa.
Defronte desta ponta está o fim da Ilha de Maré, daqui torna a fugir a terra para dentro, fazendo um modo de enseada em espaço de uma légua, que
toda está povoada de nobres fazendas e grandes canaviais, no cabo da qual está um formoso engenho de água de Tomás Alegre, que tem uma ermida de
Santo Antônio mui bem concertada.
Deste engenho a uma légua é o cabo de um esteiro, que se diz a Petinga, até onde está tudo povoado e plantado de canaviais mui formosos. Esta
Petinga é uma ribeira assim chamada, onde se pode fazer um formoso engenho de água, o que se não faz por haver contenda sobre a dita ribeira.
Por aqui se serve o engenho de Miguel Batista, que está pela terra dentro meia légua, o qual tem mui ornados edifícios e uma ermida de Nossa
Senhora mui concertada.
E tornando atrás ao esteiro e porto de Petinga, torna a terra a correr para o mar obra de meia légua, onde faz uma ponta em redondo, onde está uma
formosa fazenda de André Monteiro, da qual torna a terra a recuar para trás meia légua por um esteiro acima, que se diz de Mataripe, onde está uma
casa de meles de João Adrião, mercador; por este esteiro se serve a igreja, e julgado do lugar de Tayaçupina (?), que está meia légua pela terra
dentro em um alto à vista do mar, povoação em que vivem muitos moradores que lavram neste sertão algodões e mantimentos e a igreja é da invocação de
Nossa Senhora do Ó. |