Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XVI
Em que se declaram as barras que tem a Bahia de Todos os
Santos, e como está arrumada a ilha de Itaparica, entre uma barra e a outra.
Acima fica dito como dista a Ponta de Tinharé da do Padrão nove ou dez léguas, entre as quais pontas da banda de dentro delas está lançada uma
ilha de sete léguas de comprido que se chama Itaparica, a qual Tomé de Sousa, sendo governador-geral do Brasil, deu de sesmaria a d. Antônio de
Ataíde, primeiro conde de Castanheira, o que lhe Sua Alteza depois confirmou, e lhe fez nova doação dela, com título de capitão e governador; ao que
veio com embargos a Câmara da cidade do Salvador, sobre o que contendem há mais de trinta anos, e lhe impediu sempre a jurisdição, sem até agora se
averiguar esta causa.
Deixa esta ilha entre si e o Morro de Tinharé outra baía mui grande, com fundo e porto, em que podem entrar naus de todo o porte, e tem grande
ancoradouro e abrigada à sombra do morro, de que se aproveitam muitas vezes as naus que vêm do reino, quando lhes escasseia o vento, e não podem
entrar na baía da ilha para dentro.
Da ponta desta ilha de Itaparica à ponta do Padrão está a barra do Leste, e entre a outra ponta da ilha e a Ponta de Jaguaripe está a barra de
Oeste, por cada uma destas barras se entra na baía com a proa ao Norte. A barra de Oeste se chama de Jaguaripe por se meter nela um rio do mesmo
nome.
Haverá, da terra firme a essa ponta da ilha, perto de uma légua de terra a terra, a qual barra é aparcelada por ser cheia de baixios de areia, mas
tem um canal estreito por onde navegam, pelo qual entram caravelões da costa e barcas dos engenhos; mas há de ser com tempos bonançosos, porque com
marulho não se enxerga o canal. E corre grande perigo quem se aventura a cometer esta barra de Jaguaripe com tempo fresco e tormentoso. |