Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XV
Em que se declaram as grandes qualidades que tem a Bahia
de Todos os Santos.
El-rei d. João III de Portugal, que está em glória, estava tão afeiçoado ao Estado do Brasil, especialmente à Bahia de Todos os Santos, que, se
vivera mais alguns anos, edificaria nele um dos mais notáveis reinos do mundo, e engrandecera a cidade do Salvador de feição que se pudera contar
entre as mais notáveis de seus reinos, para o que ela estava mui capaz, e agora o está ainda mais em poder e aparelho para isso, porque é senhora
desta baía, que é a maior e mais formosa que se sabe pelo mundo, assim em grandeza como em fertilidade e riqueza.
Porque esta baía é grande e de bons ares, mui delgados e sadios, de muito frescas e delgadas águas, e mui abastada de mantimentos naturais da
terra, de muita caça, e muitos e mui saborosos pescados e frutas, a qual está arrumada pela maneira seguinte.
A baía se estende da ponta do Padrão ao Morro do Tinharé, que demora um do outro nove ou dez léguas, ainda que o capitão da capitania dos Ilhéus
não quer consentir que se estenda senão da ponta da Ilha de Itaparica à do Padrão; mas está já averiguada por sentença, que se estende a baía da
Ponta do Padrão até Tinharé, como já dito; a qual sentença se deu por haver dúvida entre os rendeiros da capitania dos Ilhéus e da Bahia, sobre a
quem pertenciam os dízimos do pescado, que se pescava junto a este Morro de Tinharé, o qual dízimo se sentenciou ao rendeiro da Bahia, por se
averiguar estender-se a baía do morro para dentro, como na verdade se deve de entender. |