Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo LII
Em que se explica a terra da Baía do Rio de Janeiro da
ponta da cidade para dentro até tornar à barra.
Na ponta desta cidade e ancoradouro dos navios, que está detrás da cidade, está uma ilheta que se diz a da Madeira, por se tirar dela muita, a
qual serve aos navios que aqui se recolhem de consertar as velas. E desta ponta a uma légua está outra ponta, fazendo a terra em meio uma enseada,
onde está o porto, que se diz de Martim Afonso, onde entra nesta baía um riacho, que se diz Iabubiracica; defronte deste porto de Martim Afonso
estão espalhados seis ilhéus de arvoredo. E desta ponta por diante se torna a terra a recolher, à maneira de enseada, e dali a meia légua faz outra
ponta, e antes dela entra outro riacho no salgado, que se chama Unhaúma; e à ponta se chama Braço Pequeno.
Dessa ponta que se diz Braço Pequeno por diante, foge a terra para trás muito, onde se faz um esteiro, por onde entra a maré três léguas; e fica a
terra na boca deste esteiro de ponta a ponta, um tiro de berço, donde começa a terra a fazer enseada, que de ponta a ponta são duas léguas, a qual
terra é alta até a ponta. Defronte desta enseada está a ilha de Salvador Correia, que se chama Parnapicu, que tem três léguas de comprido, e uma de
largo, na qual está um engenho de açúcar, que lavra com bois, que ele fez.
Atravessando esta ilha por mar à cidade são duas léguas, a qual ilha tem em redor de si oito ou nove ilhas, que dão pau-brasil. Do cabo desta
enseada grande e da ponta da terra alta, se faz outra enseada apertada na boca, na qual se mete um rio, que nasce ao pé da Serra dos Órgãos, que
está cinco léguas pela terra adentro, o qual se chama Magipe, e mais adiante légua e meia entra outro riacho nesta baía, que se chama Sururuí. Deste
Rio Sururuí a duas léguas, entra outro nesta baía, que se chama Macucu, que se navega pela terra adentro quatro léguas, no qual se mete outro rio,
que se chama dos Goitacases, que vem de muito longe.
Defronte do Rio Macucu está uma ilha, que se chama Caiaíba, e desta ilha a uma légua está outra, que se chama Pacatá; e desta à Salvador Correia é
légua e meia; e estão estas ilhas todas três em direito Leste-Oeste umas das outras. E dessa Ilha Pacatá direito ao Sul estão seis ilhéus, e para o
Sudeste estão cinco, em duas carreiras.
Da ponta do Rio Macucu para a banda de Leste se recolhe a terra e faz uma enseada até outra ponta da terra saída ao mar, em que entra um riacho,
que se chama Baxindiba, e da ponta deste riacho à de Macucu é légua e meia. Defronte de Baxindiba, está outra ilha, cheia de arvoredo; de Baxindiba
se torna a afastar a terra para dentro, fazendo outra enseada, com muitos mangues no meio, na qual se mete outro rio, que se diz Suaçuna, e haverá
de ponta a ponta duas léguas.
E no meio, bem em direito das pontas, está outra ilha cheia de arvoredo, e a outra ponta desta enseada se diz Mutungabo. Da Ponta de Mutungabo se
esconde a terra para dentro bem dois terços de légua, onde se mete um rio, que se chama Pau Doce, e faz uma volta, tornando a terra a sair para fora
bem meia légua, onde faz outra ponta, que se chama Urumaré. Dessa ponta à de Mutungabo é uma légua, e, bem em direito destas pontas, em meio desta
enseada está outra ilha de arvoredo.
Desta Ponta de Mutungabo à de Macucu são quatro léguas; da ponta de Urumaré a dois terços de légua está outra ponta, onde se começam as barreiras
vermelhas, que ficam defronte da cidade, onde bate o mar da baía; e defronte dessa ponta, para o Norte está uma ilha, que se diz de João Fernandes,
diante da qual está outra mais pequena.
Das barreiras vermelhas se vai afeiçoando a terra ao longo da água, como cabeça de cajado, onde se faz uma enseada que se chama de Piratininga, e
a ponta e língua da terra dele vêm quase em direito de Viragalham, a qual ponta se chama de Lery, e o cotovelo desta língua de terra faz uma ponta
defronte da de Cara de Cão, que fica em padrasto sobre a lájea da barra, na qual ponta está outra lájea, que o salgado aparta de terra qualquer
coisa, a qual fica ao pé do pico do padrasto, que está sobre a barra.
Entram por esta barra do Rio de Janeiro naus de todo o porte, as quais podem estar neste rio seguras, como fica dito, de maneira que terá esta
baía do Rio de Janeiro, em redondo, da ponta de Cara de Cão, andando por dentro até o mar, à outra ponta da lájea, vinte léguas pouco mais ou menos,
que se navega em barcos, e pelo mais largo haverá de terra a terra seis léguas. |