Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo XLI
Em que se declara a costa do Rio
Doce até a do Espírito Santo.
Do Rio Doce ao dos Reis Magos são oito léguas; e faz a terra de um rio ao outro uma enseada grande, o qual rio está em dezenove graus e meio, e
corre-se a costa de um a outro Nordeste-Sudoeste. Na boca deste Rio dos Reis Magos estão três ilhas redondas, por onde é bom de conhecer, no qual
entram navios da costa, cuja terra é muito fértil, e boa para se poder povoar, onde se podem fazer alguns engenhos de açúcar, por ter ribeiras que
nele se metem, mui acomodadas para isso. Navega-se neste rio da barra para dentro quatro ou cinco léguas, no qual há grandes pescarias e muito
marisco; e no tempo que estava povoado de gentio, havia nele muitos mantimentos, que aqui iam resgatar os moradores do Espírito Santo, o que causava
grande fertilidade.
Da terra dos Reis Magos ao Rio das Barreiras são oito léguas, do qual se faz pouca conta: do Rio das Barreiras à Ponta do Tubarão são quatro
léguas, sobre o qual está a Serra do Mestre Álvaro; da Ponta do Tubarão à ponta do Morro de João Moreno são duas léguas, onde está a vila de Nossa
Senhora da Vitória; entre uma ponta e outra está o Rio do Espírito Santo, o qual tem defronte da barra meia légua ao mar uma lagoa, de que se hão de
guardar.
Em direito desta ponta da banda do Norte, duas léguas pela terra adentro, está a Serra do Mestre Álvaro, que é grande e redonda, a qual está
afastada das outras serras; essa serra aparece, a quem vem do mar em fora muito longe, que é por onde se conhece a barra; essa barra faz uma enseada
grande, a qual tem umas ilhas dentro, e entra-se Nordeste-Sudoeste. A primeira ilha, que está nesta barra, se chama de d. Jorge, e mais para dentro
está outra, que se diz de Valentim Nunes.
Desta ilha para a Vila Velha estão quatro penedos grandes descobertos; e mais para cima está a Ilha de Ana Vaz; mais avante está o ilhéu da Viúva;
e no cabo desta baía fica a Ilha de Duarte de Lemos, onde está assentada a vila do Espírito Santo, a qual se edificou no tempo da guerra pelos
goitacases, que apertaram muito com os povoadores da Vila Velha.
Defronte da vila do Espírito Santo, da banda da Vila Velha, está um penedo mui alto a pique sobre o rio, ao pé do qual se não acha fundo; é capaz
este penedo para se edificar sobre ele uma fortaleza, o que se pode fazer com pouca despesa, da qual se pode defender este rio ao poder do mundo
todo. Este Rio do Espírito Santo está em altura de vinte graus e um terço. |