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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - A MAIS ESPORTIVA
As ligas controladoras dos esportes

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Estes artigos foram publicados na edição especial comemorativa do cinqüentenário do jornal santista A Tribuna (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), em 26 de março de 1944 (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Revive o futebol amador a sua era de fastígio

As causas que o infelicitaram no passado deram origem ao advento do profissionalismo - Em franca progressão neste novo período

A Liga de Futebol Amador de Santos, um modelo de organização - Em 1943, essa entidade realizou, com a participação de 65 clubes, 6 campeonatos regulares e 8 torneios eliminatórios, num total de 670 jogos! - Este ano, fazem parte do calendário da L. F. A. os campeonatos de 8 divisões diferentes e 3 torneios eliminatórios - Um pouco da vida do futebol amador em sua nova fase

O futebol amador teve a sua época de pleno fastígio durante a existência da Liga Santista e mais tarde sob a orientação da Associação Santista de Esportes Atléticos, dominando soberanamente o ambiente esportivo, absorvendo a atenção geral dos esportistas da cidade, numa expressão eloqüente de vitalidade e prestígio.

Mas, bem cedo, o futebol amador deixou-se ofuscar pelo brilho de sua luminosidade e converteu-se em vítima dos seus próprios erros, sucumbindo ao peso dos vícios e da perversão do regime, cujos postulados e nobres finalidades não soube manter e não defendeu para pôr a salvo da ambição e do interesse dos menos apegados à tradição essencialmente amadorista do nosso futebol, permitindo que gradativamente se fosse infiltrando a mercantilização da prática futebolística.

A princípio, foi adotado aqui e ali, discretamente, para não ferir suscetibilidades, o sistema de gratificações. Aos poucos, porém, foi desaparecendo o acanhamento e esse pernicioso sistema foi generalizando-se, a ponto de não mais se fazer reserva sobre a sua aplicação.

Demasiadamente confiantes, então, os que assim procediam, com uma ingenuidade imperdoável, não queriam crer que estavam infelicitando o futebol amador, cavando a ruína do regime, que, embora assentado em base sólida, de respeito à tradição pela prática esportiva para a sua perfeição técnica e não convertê-la em transações comerciais ou meio de vida, não podia resistir ao fascínio desse vício, que sub-repticiamente se alastrava, exercendo o seu domínio em quase todos os cantos.

O tempo, esse nosso bom conselheiro, evidenciou a imprudência que se havia cometido. Tarde demais os clubes amadoristas perceberam o perigo a que se haviam exposto e, desesperados diante da situação de mistificação em que viviam, desanimados diante da inutilidade dos seus esforços para combater o mal e aflitos pelos desregramentos do profissionalismo mascarado, que a pouco e pouco ameaçava a sua estabilidade econômica, resolveram legalizar e dar forma concreta, corrigindo-lhe os defeitos, esse estado de incerteza.

Assim, surgiu o regime profissional, imprimiram-lhe regras e métodos, que, aliás, demonstraram mais tarde, na prática, a sua improdutividade, pela situação deficitária dos clubes que o adotaram; provando que os males que hoje afligem o profissionalismo não são conseqüência de desmazelos administrativos e sim dos erros de sua própria origem.


A diretoria da Liga de Futebol Amador de Santos e comissões auxiliares
Foto e legenda publicadas com a matéria

O ocaso do futebol amador -  Com o advento do profissionalismo, o futebol amador sofreu profundamente. Alguns clubes santistas, como o A.A. Americana, Brasil F.C., Clube Atlético Santista, Esporte Clube Bandeirante e outros, fiéis aos seus princípios e à sua finalidade, se conservaram à margem do novo regime e aos poucos passaram a ter existência meramente recreativa, desaparecendo a tradicional A.S.E.A.

Com o afastamento voluntário daqueles clubes, o futebol amador passou a ser cultuado somente na várzea, onde os clubes, vivendo uma existência à parte, unicamente devotada ao seu ambiente, não sentiram a transição por que passara o futebol de cima, ficando, portanto, indiferentes ao drama que se desenrolara entre os clubes maiores da cidade.

A várzea continuou a seguir o seu destino, em meio à sua modéstia, longe da febre do profissionalismo, mas sendo-lhe útil, não deixando de fornecer elementos para os clubes do futebol remunerado.

Ressurgimento auspicioso - Em 1939, pelo decreto 10.409, de 4 de agosto, foi criada a Diretoria de Esportes do Estado de S. Paulo, cujo aparecimento viria fazer ressurgir das névoas do passado, e reanimar-lhe, o futebol amador.

Naquele mesmo ano foi criada a Comissão Central de Esportes da 21ª Região e designado para presidi-la o sr. Álvaro de Sousa Dantas, que, juntamente com os seus companheiros de mandato, teve como primeiro cuidado procurar incentivar, dentre outros esportes, o futebol.

O campeonato de 40, promovido pela C.C.E. - Dessa forma, foi realizado em 1940 o primeiro campeonato da nova fase do futebol amador, sob a orientação direta da Comissão Central de Esportes.

Foi uma satisfação ao ver novamente em atividade a Americana, o Atlético e o Brasil, fazendo relembrar os saudosos tempos da Asea, todos eles cumprindo o seu programa, fiéis ao seu passado e à sua finalidade, que é a própria razão de ser da sua existência.

O campeonato foi efetuado com grande entusiasmo, chegando à final, ambos com possibilidades de triunfar, o Santos e a Americana.

A partida decisiva foi resolvida a favor da Americana, que teve a satisfação de ser o primeiro clube campeão da nova fase, sagrando-se campeão do certame da C.C.E. o Santos F. Clube.

Na divisão juvenil, o Santos F. C. foi campeão.


O quadro principal de amadores da A.A. Americana com brilhante trajetória na LFAS
Foto e legenda publicadas com a matéria

A fundação da Liga de Futebol Amador - No ano seguinte, isto é, em 1941, foi fundada a Liga de Futebol Amador de Santos. A diretoria eleita, com Aquiles Massa Neto à frente, tinha como vice-presidente Sebastião Menezes Pires. Os secretários, geral, 1º e 2º, respectivamente, eram Eduardo Mariano Teixeira, Pérsio Massa e Araken Campos Pereira. Os cargos de 1º e 2º tesoureiros foram confiados a Otávio Spagnuolo e Euclides Sampaio, desempenhando Eugênio Acácio as funções de diretor técnico.

Coube a esse grupo de esportistas a tarefa de organizar a entidade e encaminhar os primeiros passos do futebol amador neste novo período de atividade.

Preparação dos campeonatos iniciais - A novel entidade teve um início trabalhoso, como todo o princípio de qualquer empreendimento. A preparação, e logo a seguir a realização dos seus primeiros campeonatos, exigiu daqueles diretores muito de esforço, dedicação e desinteresse.

Foram instituídas quatro séries: principal, varzeana, juvenil e infantil. Dessas, entretanto, a última não pôde ser realizada, mas foi compensado esse imprevisto com o sucesso que produziram as demais.

American Coffee, o 1º campeão da L.A.F. - Os três campeonatos foram efetuados com regularidade e o interesse com que o público acompanhou o desenvolvimento desses certames conduziu à evidência a simpatia popular pelo futebol amador.

Foi campeão da divisão principal o C.A. American Coffee. Fundado no ano antrior, filiou-se à L.F.A. e nesse primeiro ano cumpriu uma "performance" das mais brilhantes, conquistando com toda justiça o título pelo qual se bateram 11 concorrentes.

Nas divisões varzeana e juvenil foram campeões, respectivamente, o Flor do Norte e o Santos F. C.

Novas direções - Se houve sucesso na parte técnica do certame, o mesmo não ocorreu com referência ao setor administrativo, pois a diretoria encabeçada pelo sr. Aquiles Massa Neto, que tão bem se vinha conduzindo na direção da entidade, por uma questão de mera coerência, solidarizou-se com o sr. Álvaro de Sousa Dantas, que se demitira do cargo de presidente da Comissão Central de Esportes, e renunciou coletivamente a 19 de julho, quando os campeonatos estavam em pleno desenvolvimento.

Os dirigentes demissionários, entretanto, não abandonaram imediatamente o seu posto. Permaneceram até 27 de agosto, quando então confiaram os seus cargos ao novo presidente da C.C.E., dr. Constâncio Vaz Guimarães.

Daquela data até 25 de fevereiro de 1942, a Liga de Futebol Amador esteve sob a orientação direta da CCE. Nessa ocasião, foi eleito presidente da entidade o sr. Sílvio Tolini e como vice-presidente o sr. Joaquim Augusto de Oliveira, que tiveram um mandato de curta duração, pois a 27 de março o sr. Sílvio Tolini demitiu-se e, logo a seguir, o vice-presidente em exercício assumiu a mesma atitude.

A 16 de abril, ainda em 1942, a CCE resolveu estabelecer a intervenção na L.F.A., nomeando seu interventor junto à referida entidade o sr. Aníbal Sousa, que se fez cercar de ótimos elementos, iniciando a tarefa de completar a organização da entidade, volvendo com particular carinho a sua atenção para a realização dos campeonatos. Não só foram efetuados os certames das divisões criadas no ano anterior, mas também foi instituída a divisão intermediária, formada pelos clubes melhor colocados no campeonato varzeano de 41, e a realização desse campeonato demonstrou, pelo seu sucesso, o acerto da iniciativa.

Feliz empreendimento - A nova administração da L.F.A., com o objetivo de solucionar o angustioso problema de árbitros, criou a Escola de Juízes, oficializada pela Fed. Paulista de Futebol, funcionando o curso sob a direção prática do sr. José da Silva Sousa e orientação do prof. Leopoldo Santana.

No ano passado houve o segundo curso de juízes, desta vez sob a direção do nosso prezado companheiro de trabalho, Rubens de Ulhoa Cintra.

Foi uma iniciativa feliz, pois, com o grande número de jogos dos seus diversos campeonatos, a L.F.A. encontrava dificuldades para designar dirigentes para cada encontro. Hoje, esse obstáculo foi contornado, contando aquela entidade com um punhado de juízes formados pela sua própria escola.

Os campeonatos de 42 - Em 1942, a L.F.A. fez realizar cinco campeonatos, além de um torneio eliminatório, contando com a participação de 44 clubes, num total de 318 partidas, assim discriminadas:

Divisão principal: 1ºs quadros, 46, 2ºs quadros, 52;
Divisão juvenil: 35;
Divisão intermediária: 1ºs quadros, 37, 2ºs quadros, 36;
Divisão varzeana: série verde: 1ºs quadros, 29, 2ºs quadros, 36; série amarela: 1ºs quadros, 21, 2ºs quadros, 21;
Torneio eliminatório, entre os clubes da divisão principal, 13 jogos.

Foram campeões os seguintes:

Divisão principal - Clube American Coffee; vice-campeão: A.A. dos Portuários.

Divisão intermediária - A.A. Palmeiras; vice-campeão: Praticagem Quadro; campeão dos 2ºs quadros: Flor do Norte F. Clube.

Divisão varzeana - série verde: União Brasil F. Clube; vice-campeões: Osvaldo Cócrane F.C. e Benjamim Constant F. Clube. Série amarela: E.F. Sorocabana F. Clube; vice-campeão: E. Clube Vila Paulista; Campeão dos 2ºs Quadros: E. F. Sorocabana F. Clube.

Campeão absoluto da Divisão Varzeana em 1942: União Brasil F. Clube; vice-campeão: E. F. Sorocabana F. Clube.

Torneio eliminatório - Campeão: A. A. dos Portuários; vice-campeão: SPR A. Clube.

Divisão juvenil - Campeão: Santos F. Clube; vice-campeão: A. A. Aliança.

Renovação administrativa - Com o término da temporada de 42, ficou encerrada também a missão que a CCE confiara ao sr. Aníbal Sousa, à qual emprestou um desempenho dos mais brilhantes, consubstanciado em empreendimentos úteis e na marcha progressiva da entidade, que apresentou um índice de prosperidade não alcançado no seu primeiro ano de existência.

Reunido o Conselho para a eleição do presidente e vice-presidente, foi reconduzido ao mais alto posto administrativo o sr. Aníbal Sousa e para vice-presidente foi eleito o sr. José D'Áurea.

A conservação do sr. Aníbal Sousa na direção suprema constituiu não só o reconhecimento dos clubes filiados pela sua operosidade, mas um ato de justiça à sua capacidade administrativa.

Estatística impressionante - Durante a temporada de 43, a L.F.A. levou a efeito, simultaneamente, seis campeonatos, perfazendo um total de 572 jogos nas seis divisões! Além disso, realizou oito torneios eliminatórios, num total de 65 partidas. Se aduzirmos a isso 33 jogos amistosos, locais e intermunicipais, verificar-se-á o total de 670 partidas, num ano!

Os campeões de 43 - No ano passado, além das divisões já existentes em 42, foi criada a 1ª divisão, com a participação dos clubes que disputaram no ano anterior na divisão intermediária, acrescidos do Santos Dumont F. Clube, A.A. Sulamericana e Cia. City A. Clube, estes dois últimos novos filiados e o primeiro transferido, a pedido, da divisão principal.

São os seguintes os campeões das respectivas divisões, em 1943:

Divisão principal - 11 participantes, 111 jogos realizados, sendo 55 entre os quadros secundários. Campeã: A.A. Americana. Vice-campeão: A.A. Portuguesa.

Eis a colocação final dos concorrentes nesta categoria: 1º: A.A. Americana; 2º: A.A. Portuguesa; 3º:  E.C. Senador Feijó; 4º: S.P.R.A. Clube; 5º: A.A. Portuários de Santos; 6º: Brasil F. Clube; 7º: C.A. Enguaguassu; 8º: Santos F. Clube; 9º: D.N.C. Clube; 10º: Jabaquara A. Clube; 11º: E.C. Corintians Santista. Campeão dos 2ºs quadros: A.A. Portuários. Vice-campeã: A.A. Portuguesa.

1ª Divisão - 11 participantes, 110 jogos realizados, 55 dos quais entre os times secundários. Campeão: Praticagem Quadro. Vice-campeão: Flor do Norte F. Clube. Campeão dos 2ºs quadros: A. A. Palmeiras.

Divisão Intermediária - 11 participantes, 112 partidas efetuadas, sendo 56 entre os 2ºs quadros. Campeão: Armazéns D.N.C. Quadro. Vice-campeão: C. A. Estrela Azul.

Divisão Varzeana - 12 participantes, 133 encontros efetuados, sendo 66 entre os quadros secundários. Campeão: E.C. XV de Novembro. Vice-campeão: Flamengo F. Clube. Campeão dos 2ºs quadros: E. C. XV de Novembro.

Divisão de Guarujá - 6 participantes, 62 jogos realizados, 31 dos quais entre os 2ºs quadros. Campeão: Wilson A. Clube. Vice-campeão: Itapema F. Clube. Campeão dos 2ºs quadros: Brasil A. Clube.

Divisão Juvenil - 7 participantes, 44 jogos (dois turnos). Campeão: Jabaquara A. Clube. Vice-campeão: Santos F. Clube.

Divisão extra-varzeana - 7 participantes, 6 jogos. Campeão: Afonso Pena F. C. Vice-campeão: C. A. Liberdade.

Torneio dos campeões - 5 participantes, vencedores das respectivas divisões. Realizaram-se 5 partidas e foi esta a colocação final: A.A. Americana (campeã); 2º lugar, Praticagem Quadro; 3º, Wilson A. Clube; 4º, E.C. XV de Novembro; e 5º, Armazéns D.N.C. Quadro.

Torneio pré-campeonato - campeões:

Divisão principal - Jabaquara A. Clube. Vice-campeão: Santos F. Clube.

1ª Divisão - A.A. Sulamericana. Vice-campeã: A. A. Aliança.

Divisão de Guarujá - Wilson A. Clube. Vice-campeã: A.A. União Guarujá.

Divisão Intermediária - E.F. Sorocabana F. Clube. Vice-campeão: E. C. Vila Paulista.

Divisão Varzeana - E. C. XV de Novembro. Vice-campeão: Comercial Santista F. Clube.

Torneio de classificação para o campeonato do interior, promovido pela Federação Paulista de Futebol. Participaram todos os inscritos na divisão principal, tendo sido realizados 10 jogos e, na final, o C.A. Enguaguassu venceu o S.P.R.A.C. por 2 a 1, classificando-se, portanto, para representar Santos naquele certame.

Os encontros disputados pelo Enguaguassu no campeonato do interior tiveram os seguintes resultados: empatou com o E. C. Corintians, de Santo André, por 2 gols; venceu o mesmo clube, em Santo André, por 2 a 1; perdeu para o E.C. Taubaté, em Taubaté, por 6 a 1, e empatou com o mesmo clube, em Santos, por 3 pontos.


Eis aqui o conjunto do Enguaguassu, um dos campeões da LFAS
Foto e legenda publicadas com a matéria

Outros jogos intermunicipais - Verificaram-se ainda no ano passado os seguintes jogos intermunicipais de clubes pertencentes à Liga de Futebol Amador: A.E. Guaratinguetá, 4 x C.A. American Coffee, 3, em Guaratinguetá; A.E. Guaratinguetá, 5 x Santos F.C., 4, e A. E. Guaratinguetá, 1 x A.A. Americana, 1, estes dois últimos nesta cidade.

Um programa digno de aplauso - Para este ano, além das divisões já existentes, a Liga de Futebol Amador instituiu mais a divisão corporativa, o torneio militar, já em realização, e o campeonato colegial juvenil, estando, portanto, assim formado o seu calendário:

Campeonato das divisões principal, juvenil, intermediária, varzeana (em duas séries, em virtude do grande número de clubes inscritos), Guarujá, corporativa, 1ª divisão, colegial juvenil; e torneios militar, de classificação e dos campeões, ao todo 12 campeonatos!

Honra ao mérito - Todos esses detalhes estatísticos que apresentamos, evidenciam a projeção que vai ganhando o futebol amador em Santos, recuperando o terreno perdido nos anos de completo ostracismo até o seu ressurgimento. Em todos os seus setores, há vitalidade, animação, entusiasmo pelo ideal que norteia os princípios dos clubes que o praticam, sem outro interesse senão o de concorrer para a elevação do esporte em suas nobres finalidades.

E à Liga de Futebol Amador cabe o quinhão maior dos méritos dessa vitória, pela sua assistência constante e porque, graças à sua perfeita organização, o futebol não remunerado progride extraordinariamente, como o demonstram de maneira insofismável as cifras que exibimos.

A Federação Paulista de Futebol reconheceu essa verdade através de um ofício enviado recentemente pelo dr. Álvaro Barbosa, diretor do departamento amador, em que esse distinto paredro acentuou que a Liga de Futebol Amador de Santos é a de mais perfeita organização de quantas são filiadas àquela entidade.

Toda essa admiração nada mais é que o prêmio moral ao esforço, abnegação e espírito de sacrifício dos dedicados dirigentes da L.F.A. A esses construtores anônimos dessa formosa obra, os aplausos que surgem, espontâneos, de todos os lados, são um conforto a compensar as canseiras do trabalho desinteressado e a satisfação pela sua consciência do dever cumprido.

A origem da falada L.A.F. em Santos

Como surgiu e desapareceu, segundo a palavra do sr. José Maria Matos Júnior, administrador da extinta entidade em nossa cidade

José Maria de Matos Júnior, o líder lafeano em Santos
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)

Em crônica que separadamente publicamos, demos alguns episódios sobre a existência da L.A.F. (Liga de Amadores de Futebol), em Santos.

Entretanto, melhor que nós, para falar sobre a L.A.F., de sua origem e de seu fim, seria uma única pessoa disso capaz - o sr. José Maria de Matos Júnior, que foi, por assim dizer, seu administrador em Santos, pois era ele quem tudo fazia na extinta entidade.

Por isso, ouvimos o sr. Matos Júnior, veterano esportista local, antigo diretor da Associação Santista de Esportes Atléticos, diretor do Clube Atlético Santista e outros grêmios. De início, relutou, mas, de maneira gentil, terminou assim falando:

- "A L.A.F. apareceu em Santos por iniciativa do Atlético, que logo encontrou apoio por parte do Brasil, América, S.P.R. e Palestra Itália (de Santos). Esses grêmios estavam um tanto revoltados com a atitude então assumida pelo presidente da Associação Santista, na memorável assembléia realizada em 24 de fevereiro de 1924, na qual negados foram ao representante do Atlético os direitos de defender os interesses de seu clube e ainda o de poder votar em seu candidato à presidência da entidade.

"Uma política pouco justa de outros clubes que se colocaram ao lado do sr. Alfeu Paim, que era presidente da A.S.E.A., determinaram um certo movimento de repulsa por parte de outros grêmios e eu mesmo quero acrescentar - prosseguiu o sr. Matos Júnior - que essa má política em muito contribuiu para a morte da gloriosa A.S.E.A. e para o dissídio então verificado na família esportiva santista.

"Por esse tempo, representava eu o América e foi nessa qualidade que compareci à assembléia do dia 24 de fevereiro de 1924, e, assim credenciado pelo clube, coloquei-me ao lado daqueles cujos direitos estavam sendo cerceados, principalmente ao lado do Atlético, cujos direitos, na citada assembléia, não foram respeitados e toda a questão surgida motivada pelo jogo realizado entre o Atlético e o América, em disputa do campeonato citadino, em janeiro daquele ano.

"Entretanto, eis que o América resolve voltar para o seio da A.S.E.A., isso devido à orientação de seu presidente, o mesmo que surgira para combater a candidatura do sr. Alfeu Paim. Ante esse fato, desobriguei-me de qualquer compromisso para com o clube.

"Pouco depois, surgia a Liga de Amadores de Futebol, fundada pelos clubes dissidentes da A.S.E.A., tendo me colocado ao lado do Atlético, contribuindo da melhor maneira possível pela vida da L.A.F. Tinha eu a certeza de que estava combatendo por uma causa justa e também não demorou que o Clube Atlético Paulistano, em São Paulo, apoiado por outros clubes, lá fundasse também a Liga de Amadores, levando para seu convívio o Clube Atlético Santista, ficando eu, aqui em Santos, como representante da novel entidade.

"Eis que o tempo passa. Surgiram várias outras complicações na A.S.E.A., e sempre havendo uma política daninha, isso fez com que os grêmios locais Portuguesa e Espanha deixassem a velha entidade, pedindo filiação à L.A.F., onde logo ingressaram".

E, continuando sua narrativa, disse-nos o sr. Matos Júnior o seguinte:

- "Da vida da L.A.F. todos sabem um pouco e todos ainda se lembram do que foi a campanha com a A.P.E.A. Veio a pacificação, sendo feita, afinal, justiça ao Atlético, para que participasse do campeonato paulista, mas outros fatos surgiram e são eles bem conhecidos.

"Feita a pacificação, deixara de existir a razão de ser da L.A.F. e desde então dei por encerrada aqui em Santos a minha missão, passando, entretanto, a defender os interesses do C.A. Santista, ao lado do qual ainda continuo, por ele fazendo o que me fôr possível".

Aí ficam, na palavra do sr. Matos Júnior, narrados os episódios principais sobre a fundação em Santos da Liga de Amadores de Futebol.

O que fez o órgão controlador do Esporte em Santos desde sua fundação

Perfeita união de vistas entre o poder municipal e o estadual - Nossa cidade, exemplo de organização - O serviço de educação física, nos grupos escolares, é uma realização que servirá de exemplo - Um pouco de estatística

Pelo prof. Oscar da Silva Musa

A Comissão Central de Esportes da 21ª Região, instalada em 1939, vem tendo o seu funcionamento com sede própria e expediente fixo, desde 1943.

Deve o esporte da cidade esta grande conquista, bem como tudo o que se tem feito em benefício do esporte local, ao nosso prefeito, dr. Antônio Gomide Ribeiro dos Santos, que não tem medido esforços e sacrifícios, para atender, dentro naturalmente do que lhe é permitido, todas as aspirações dos desportos locais, amparando-os em todos os seus setores.

De início, como garantia para o progresso desportivo local, organizou, em 1941, uma Comissão de Esportes, composta de homens radicados ao esporte da cidade e que fora do âmbito oficial já haviam prestado a ele grandes e benéficos serviços, quer como esportistas dirigentes, quer como desportistas praticantes. Na direção suprema da Comissão, colocou Constâncio Vaz Guimarães, moço trabalhador, bem orientado e figura querida não somente no meio esportivo da cidade, como de todo o país, pelo seu dinamismo e pelas maneiras cavalheirescas no contato com os que o cercam.

Com homens dessa envergadura na direção da Comissão Central de Esportes, e sobretudo, com um prefeito que tem a perfeita visão do que representa o esporte nos destinos de uma Nação, como um dos elementos básicos na formação da raça e na aproximação dos povos, Santos tem que caminhar na vanguarda, ombro a ombro com os centros desportivos mais adiantados do país.

Foi este o panorama que encontrei em Santos, quando em 1942 o governo do Estado determinou que eu viesse exercer as funções de meu cargo nesta formosa Santos, a sala de visitas do grande Estado.

Em 1942, foram as seguintes as realizações da CCE, que reputo das mais interessantes e, com a rápida análise que vamos fazer, conheceremos que em sua maioria constituem exemplos para as demais Comissões e até mesmo para o Estado.

De início, devemos assinalar a instalação da sede da Comissão em sala ampla e confortável, com o contrato de funcionários, o que permitiu fossem estabelecidos expediente fixo e grande facilidade aos interessados, a fim de serem tratados assuntos de caráter esportivo.

A regularização e instalação definitiva da Liga de Futebol Amador, que hoje constitui um padrão de organização dentro do desporto nacional, foi outra conquista da CCE. Devemos lembrar ainda que já em 1942 funcionou com toda a regularidade a Escola de Juízes da referida entidade, escola esta patrocinada e custeada financeiramente pela Comissão.

No setor do atletismo, como não havia uma entidade especializada, foi contratado um técnico para assistir aos atletas da cidade e promover competições.

De início, foi organizado um regulamento, criando a Insígnia Atlética aos amadores que obtivessem resultados bons em provas de sua especialidade.

Mais tarde, dado o grande interesse que despertou no meio esportivo, foi ampliado o seu regulamento, passando a Insígnia a pertencer a todas as modalidades esportivas.

Este prêmio é hoje procurado por todos os desportistas do Estado, que desejam obtê-lo e sentem-se honrados em ostentá-lo.

A prova do Distintivo Esportivo da Mocidade Paulista, instituída pelo D.E.E.S.P., foi ampliada pela Comissão, sendo a única a realizá-la com regularidade e que procura interessar os estabelecimentos de ensino, pois foi oferecida a copa "Dr. Gomide", de posse transitória, à equipe que maior número de pontos conseguir nas provas atléticas.

Entre outras atividades, destacamos o campeonato de tênis, como preparação para os Jogos Abertos do Interior, campeonato este que, além de ser o primeiro no gênero, conseguiu reunir tenistas de todos os clubes locais.

Como aconteceu em 1940, 1941 e no ano passado, não foi em 1942 menos brilhante a participação de Santos nos Jogos Abertos do Interior.

Com os estabelecimentos de ensino, fonte inesgotável da reserva de nossos clubes, não foi menor o trabalho da CCE. Foram realizados dois campeonatos com a participação de quase todos os estabelecimentos de ensino secundário da cidade.

O primeiro constituiu uma grande vitória para Santos, pois o campeão do certame, Ginásio José Bonifácio, obteve, por intermédio da Comissão, permissão para participar do Campeonato Colegial de Educação Física organizado para os Ginásios Oficiais do Estado, sendo mesmo o primeiro e único ginásio particular que tomou parte nesse máximo certame estudantil do Brasil.

O outro campeonato, constituiu a maior conquista para a Educação Física de São Paulo e Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde. Foi este o campeonato colegial de Educação Física para os estabelecimentos de ensino feminino, tomando parte nele os três Colégios Religiosos da cidade.


Prof. Oscar da Silva Musa quando fazia entrega ao sr. Miguel Stela de um troféu conquistado por Santos, na cidade de Ribeirão Preto, em 1941, em bola-ao-cesto, nos Jogos Abertos do Interior
Foto e legenda publicadas com a matéria

Propositadamente, deixamos para o fim a análise do exame médico.

Como já é bastante conhecido de toda Santos e não menos do Estado, foi instituído no ano de 1942 o exame médico obrigatório para todos os amadores da cidade. Reconhecendo o alto valor patriótico e baseando-se nas determinações legais, a Diretoria de Esportes baixou portaria obrigando ao exame médico todos os esportistas praticantes, quer profissionais, quer amadores, citando, na referida portaria, que os exames seriam realizados nos moldes instituídos pela Comissão Central de Esportes de Santos.

Desta data em diante, nenhum amador em Santos competiu sem o necessário exame médico. Muitos benefícios aos amadores têm trazido os exames médicos. Resolveu a Comissão Central de Esportes, em 1942, o que a maioria dos dirigentes desportivos julgavam problema sem solução. Hoje, já se pratica esporte sob controle médico em quase todo o Estado de S. Paulo.

Em 1943, não quis a C.C.E. repousar sobre as vitórias colhidas no ano anterior. Fundou a Liga Santista de Atletismo, que obteve para a nossa cidade vitórias das mais brilhantes, quer no interior, quer nos campeonatos da Federação. Subvencionou as entidades locais, com o fim de serem todas instaladas num só local, sem grande ônus para elas.

Procurando uma aproximação mais íntima com a imprensa, entidades e clubes, resolveu organizar reuniões mensais em sua sede, onde foram tratados assuntos de grande interesse para o esporte local, bem como trazia os interessados sempre ao par de suas realizações.

Organizou os Jogos Abertos da Cidade, participando dele 16 clubes locais, prestando uma justa homenagem ao nosso prefeito.

Outras competições que estavam previstas em seu calendário não foram realizadas, pois as patrióticas medidas de Segurança Nacional, postas em prática, não permitiram iluminação de praças desportivas.

Além destas novas realizações, em 1943, foram continuados todos os serviços iniciados no ano anterior.

Os trabalhos da CCE foram executados sempre com a colaboração da Inspetoria Regional de Educação Física e vice-versa, o que permitiu uma perfeita união de vistas entre o poder Estadual e Municipal.

Assim é que o dr. Gomide Ribeiro dos Santos criou o serviço de Educação Física nos Grupos Escolares Municipais, nomeando dois professores especializados para ministrarem aulas às crianças.

Como não podia deixar de ser, pois Santos, em todos os setores da Educação Física, tem surgido sempre como exemplo, foi o ato do dr. Gomide, criando o serviço nos Grupos Escolares, recebido com grande satisfação e interesse. Com ele, passou Santos, mais uma vez, a ser exemplo em organização.

Como se vê, são muitos os serviços organizados pela CCE nestes dois últimos anos, que, somados aos dos anos anteriores, formam um volume dos maiores, constituindo uma grande contribuição com que uma cidade já concorreu para o progresso do esporte, e, porque não dizer, da Educação Física em geral, do nosso país.

Para ilustrar o que acima dissemos, temos os seguintes números:

Jogos realizados
1942
1943
Futebol
1.378
1.111
Voleibol
175
184
Basquetebol
106
131
Natação
2
8
Atletismo
6
14
Tênis
53
62
Total
1.720
1.510

Amadores inscritos nas diversas entidades:
1942 - 3.253
1943 - 3.882

Turmas volantes:
1942 - 23
1943 - 42

Total de campeonatos:
1942 - 38
1943 - 42

Entidades e clubes com funcionamento regular
1942
1943
Entidades
4
5
Clubes
171
102
Movimento da secretaria
1942
1943
Correspondência recebida
668
1.749
Correspondência expedida
739
1.341
Processos recebidos e informações
152
114
Exames médicos
1942
1943
Amadores examinados
2.042
2.909
Amadores reprovados
80
51
Exames complementares
74
161

Prêmios conferidos pela C.C.E. - Foram conferidos prêmios no valor de
1942 - Cr$ 4.152,20
1943 - Cr$ 9.762,50

A primeira entidade paulista de remo

Por que desapareceu após 17 meses de existência - Interessante projeto de regata - Um páreo com 5 libras esterlinas para o vencedor - Uma discussão que põe fim à entidade - Nem a ata ficou concluída...

Em outro local fizemos ligeira referência à União Paulista das Sociedades do Remo, a primeira entidade que surgiu no Estado de São Paulo e antecessora da Federação Paulista das Sociedades do Remo.

A sua existência foi de curta duração. Fundou-se em 21 de abril de 1904 e não foi além de 17 de setembro de 1905, sem mesmo chegar a promover uma competição, não obstante projetada diversas vezes e com alterações em seu programa, devido tão somente à falta de embarcações do mesmo tipo nos clubes filiados, o Espéria, Clube São Paulo, Saldanha e C. R. Santista.

A sessão inicial, na qual se fundou a entidade, teve por local a sede do Centro Comercial e Industrial de Santos. O relator do projeto dos estatutos foi o sr. Godofredo de Faria, do Clube de Regatas Santista.

Vale a pena recordar no histórico que publicamos o projeto da primeira regata da União Paulista das Sociedades do Remo, a qual não chegou a ser efetuada sob a égide dessa entidade, bem parecendo, através de documentos que possuímos e outros que nos foram gentilmente cedidos, que o programa chegou a ser aproveitado mais tarde pela Federação Paulista das Sociedades do Remo.

Eis então o projeto da primeira regata com os respectivos prêmios:

1º páreo - escaleres a 4 remos - medalha de prata ao 1º e de bronze ao 2º.

2º páreo - baleeiras a 4 remos - (2 remadores a 2 remos), distância 600 metros - medalha de vermeil ao 1º e um objeto de arte à guarnição colocada em 2º lugar.

3º páreo - ioles-gigs a 4 remos, distância 2.000 metros - medalha de ouro (o documento nada observa quanto aos demais prêmios).

4º páreo - escaleres a 6 remos - distância 1.200 metros - medalhas de prata ao 1º e de vermeil ao 2º.

5º páreo - para profissionais (marinheiros de navios surtos no porto) - escaleres a 4 remos, prêmio 5 libras esterlinas ao vencedor.

Esse programa sofreu, depois, ligeiras alterações, incluindo-se também um páreo de natação na distância de 300 metros.

Para essa competição o Santista forneceria os escaleres a 4 remos e o Internacional as baleeiras, realizando-se um sorteio para se saber a que clube devia caber esta ou aquela embarcação.

A dissolução da União Paulista das Sociedades do Remo, pelo que foi dado observar no livro de atas dessa entidade, teve sua origem numa discussão em torno do adiamento da primeira regata, que, estando pela última vez com data marcada para setembro de 1905, não concordou com isso o sr. Jorge de Sá Rocha, representante do Internacional de Regatas, que propôs novo adiamento para 15 de outubro do mesmo ano.

O sr. Godofredo de Faria, do C. R. Santista, se opôs à transferência, apresentando justificativa. A discussão em torno do assunto tomou vulto, nela intervindo o representante do Espéria, de São Paulo, também vencido na votação, pois a regata sofreu, de fato, novo adiamento, escolhendo-se a raia da Ilha Barnabé até a garage do Internacional de Regatas.

A última ata da União nem terminada está, ficando concluída com a seguinte anotação: "Terminada a votação, o representante do Clube Espéria levantou-se bruscamente e declarou que, em vista de tal resolução, retirava-se da União, o que foi muito notado, principalmente pela maneira pouco atenciosa como o referido representante fez tal declaração".

E assim era uma vez a União Paulista das Sociedades do Remo.

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