Foto: Alex Almeida, publicada com a matéria
CENA SANTISTA
Histórias fantásticas de pescador
Mírian Ribeiro
Quarenta e oito peixes espadas em uma única noite?
Parece história de pescador, mas o aposentado José Gil, 59 anos, garante que foi este o resultado de uma proveitosa noite que ele e mais três
companheiros tiveram há algum tempo no Deck dos Pescadores (N.E.: nome anglófilo do tradicional
Cais dos Pescadores), na Ponta da Praia. Para eles, não tem hora nem tempo ruim. Seja de
dia, noite ou madrugada, aprendizes e outros tantos veteranos dos segredos da vara e anzol costumam ser vistos no Deck e espalhados pela mureta da
Ponta da Praia, no trecho entre o Aquário e a rua do Peixe, numa paciente espera por alguma fisgada na linha.
O barulho do trânsito da avenida ao lado, a música e burburinho dos dois bares que
originalmente deveriam servir de píer de pesca, o movimento dos navios, nada disso atrapalha, garantem. Se derem sorte, voltam para casa com um ou
mais espadas (um peixe de superfície, fácil de ser capturado na região), uma corvina (mais comum na época do frio), bagre e até robalo. No mínimo,
alguns siris desprevenidos que caem nos puçás.
O que realmente os incomoda são as redes de espera lançadas por barcos. "Eles batem no
barco para espantar os peixes em direção à rede e o barulho acaba nos prejudicando", reclama José Gil, freqüentador do lugar há apenas um ano e
meio, mas já com muitas histórias para contar.
No Deck ou na mureta, o iniciante sempre encontra pescadores mais antigos que não
fazem segredo de truques e dicas para melhorar a pescaria. Para esses amadores o prazer maior da pesca (além do peixe, claro!) é a prosa, as
amizades que acabem se firmando, as horas de tranqüilidade passadas à beira-mar.
No Deck, eles ocupam um dos lados; o outro é freqüentado por pessoas que vão até lá
apenas para apreciar a paisagem. Chegam até a trocar receitas feitas à base dos peixes fisgados no local, como o cuscuz e o bolinho de espada. A
maioria é de Santos - o pessoal de fora aparece nos finais de semana - e alguns são acompanhados pelas esposas ou namoradas, que acabam pegando o
gosto pela pesca.
"Para mim não tem terapia melhor", diz Sidney Ferreira, 59 anos de idade e há 30 na
pesca amadora. Antes ficava na mureta, mas resolveu ir para o Deck por questão de segurança. Sidney é técnico de manutenção de equipamentos
odontológicos e ensina os segredos de uma boa pescaria: paciência e escolha da isca certa. "Se for espada, uma meia sardinha; já para um peixe de
fundo, como a corvina e a perna-de-moça, o ideal é o camarão. Em pescaria de mar o silêncio não é tão importante, o peixe quase fisga sozinho".
Wanderley de Souza, 46 anos, maquinista de trem, é um dos mais novatos, mas também dos
mais entusiasmados com a nova atividade. Começou a freqüentar o Deck em dezembro passado e garante que já gastou mais de R$ 2 mil na compra de
equipamentos. "Cheguei aqui com minha varinha e aí vi estes varais enormes, fui comprar o meu", brinca. "Sempre tive vontade de ter um". É que eles
costumam usar varas de 3,30 a 3,90 metros, dotadas de molinetes e iscas de fundo ou meia-água com o auxílio de bóias. O sinal que a isca foi fisgada
é quando a bóia afunda ou a linha puxa.
Wanderley ouve com curiosidade as histórias de Gil, como a do dia que pegou dois
peixes de 15 quilos cada um. "Um deles soltou do anzol e tive até que me jogar na pedra para dominá-lo". Os outros ao redor confirmam a proeza com a
cabeça. Gil pesca diariamente; chega por volta das 20 horas e estica até 2, 3 ou mesmo 6 horas da manhã. "Quem não tem paciência não vai ser
pescador nunca", profetiza. E imaginação? Indagados se pescador costuma aumentar a história, eles não confirmam nem negam, mas brincam: "sempre o
maior o pescador acaba perdendo, ou então estava sozinho".
Foto: Alex Almeida, publicada com a matéria
PONTOS DE PESCA DE VARA NA BAIXADA |
São Vicente - o local de mais fácil acesso e
mais procurado é o trecho que vai da Praia da Biquinha até a Ponte Pênsil, de onde
se pesca das pedras e plataformas ai instaladas. O lugar costuma reunir muita gente.
Guarujá - O Morro do Maluf e a Ponta das
Astúrias são as melhores indicações. A pesca é como a de costão, com seus riscos e desconfortos, mas dá
para instalar uma cadeira de praia. Nesses locais é possível capturar betaras, espadas, corvinas, raias e pequenos cações.
Bertioga - A opção mais atraente é a
pesca embarcada, no Canal de Bertioga, onde se captura robalos, pescadas, corvinas, espadas e muitos outros. O serviço pode ser encontrado no
entreposto de peixes, junto ao ferry-boat.
Praia Grande - Um dos melhores pontos de pesca
do litoral Sul fica na reserva militar da Fortaleza de Itaipu, cujo acesso é controlado. É preciso retirar com
antecedência uma autorização de ingresso fornecida pelo 6º GACOSM, junto à Fortaleza (solicite fax com mais detalhes pelo fone 3491-3322). Ali,
os grandes tubos da fortaleza, contornando o morro, propiciam a existência de espécies de fundo rochoso e peixes típicos de mar aberto. O
habitual é a captura de pampos, betaras e corvinas, mas também podem ser pescados sargos, garoupas, pescadas e robalos.
Mongaguá - a cidade possui a única plataforma marítima de pesca de São
Paulo. De fácil acesso, o local dispõe de banheiros, estacionamento, lugar para a limpeza de peixes e quiosques de lanches e bebidas. Fica no
bairro de Agenor de Campos. O mais comum é a captura de betaras, bagres, corvinas e roncadores.
Itanhaém - Na barra do Rio Itanhaém, onde ele se encontra com o mar,
podem-se captura betaras, robalos e bagres. Ainda nas proximidades, as pedras que se concentram junto ao Iate Clube também têm fama de ser um
bom local de pesca. |
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