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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (X)
Porto disputa espaço com a cidade (1)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Em todo esse tempo, como nos cem anos anteriores, o porto foi avançando sobre o território urbano. Na mudança de milênio, inverteu-se a situação: a cidade passou a avançar sobre o espaço ocupado pelo porto. A velha disputa continuou, agora agregando não apenas questões econômicas, mas também urbanísticas, ambientais e sociais. Como registrou em 17 de abril de 2004 o jornal santista A Tribuna:
 


PATRIMÔNIO AMEAÇADO - O projeto da Codesp, de demolir o Armazém 1 externo do cais, recebeu críticas. Estatal quer desafogar tráfego
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Valongo
Patrimônio ameaçado

Proposta da Codesp de demolir o Armazém 1 externo do porto para favorecer o tráfego de caminhões recebe críticas do secretário de Planejamento e vice-prefeito, João Paulo Papa

Da Reportagem

O vice-prefeito e secretário de Planejamento de Santos, João Paulo Tavares Papa, criticou a proposta da Codesp de demolir o Armazém 1 externo do porto para desafogar o tráfego de caminhões no cais do Valongo. O projeto da estatal foi anunciado ontem, em A Tribuna.

Embora admita que o problema do transporte de cargas necessita de uma solução, Papa entende que a Codesp "precisa ter mais cuidado com o patrimônio histórico da Cidade".

"Eles têm uma visão funcional do trânsito, que prioriza apenas solucionar o problema deles, sem demonstrar a sensibilidade necessária com o patrimônio da Cidade", afirmou. "É puro reflexo da falta de planejamento dentro do porto".

O Armazém 1 está entre os mais antigos e fica a poucos metros de um dos conjuntos arquitetônicos mais valiosos da Cidade, tanto do ponto de vista histórico, quanto cultural: a Igreja, o Casarão e a Estação Ferroviária do Valongo.

Técnicos da Prefeitura temem que a demolição do armazém e o conseqüente tráfego de veículos pesados no local causem impactos negativos nas estruturas dos monumentos.

"Se constatarmos que a mudança implicará em prejuízos aos patrimônios municipais, vetaremos a proposta", disse o presidente do Condepasa, Bechara Abdalla Pestana Neves.

Papa: é preciso mais cuidado
Foto: arquivo - publicada com a matéria

Paliativa - Para a Codesp, demolir o armazém é a única alternativa para eliminar o gargalo do sistema viário da margem direita do porto. Dessa forma, a estatal poderia alargar a pista e propiciar melhor escoamento do tráfego, que é intenso.

Mas a medida, segundo a própria Codesp, é paliativa, pois, no futuro, o projeto da Avenida Perimetral beneficiará aquele trecho do cais.

"É uma proposta que não faz sentido", criticou Papa. "É absurdo demolir um imóvel histórico para implantar uma medida que não vai resolver definitivamente os problemas viários do cais".

Mesmo sem ter o aval do Condepasa, a Codesp parece convencida de que conseguirá executar o projeto. Pelo menos é a impressão que uma placa colocada próxima ao armazém dá.

Um dos dizeres é o seguinte: "Demolição do Armazém 1 e remanejamento do sistema viário para atender o aumento das exportações e os anseios de toda a comunidade portuária".

Procurada por A Tribuna, a Assessoria de Imprensa da Codesp informou que nada será feito até que o Condepasa emita um parecer oficial.

A estatal, entretanto, preferiu não revelar o que fará caso o Condepasa se manifeste contrariamente à obra. "Não comentaremos hipóteses".

Impasse - A dúvida que nem a Prefeitura nem a Codesp souberam eliminar é se um parecer do Condepasa (órgão municipal) poderia impedir uma ação da estatal em uma área federal, como o porto.

O Condepasa entende que sim, pois o armazém está localizado em uma área de preservação cultural do município. Além disso, possui nível de proteção 2, que proíbe modificações na fachada e no gabarito do imóvel.


Embora o Condepasa ainda não tenha autorizado, placa dá como certa a demolição do imóvel
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Condepasa poderá cuidar do relógio que era da Western

Codesp e Condepasa não discutem apenas a demolição do Armazém 1 externo do porto. A preservação de outro patrimônio histórico da Cidade - o antigo relógio da Western Telegraph - também está forçando um diálogo entre as partes.

Após reportagem publicada por A Tribuna, no último dia 29 - que denunciou o descaso da estatal com um relógio que chegou a ser referência no porto (veja quadro), o Condepasa decidiu cobrar explicações da direção da Codesp.

Em reunião realizada na última quinta-feira, o órgão deliberou por oficiar à estatal. O Condepasa quer saber se a empresa tem planos concretos de restaurar o relógio.

 

A Tribuna abordou o assunto em 29 de março

 

Caso a resposta seja negativa, ou os planos sejam de médio ou longo prazo, o Condepasa pleiteará o direito de cuidar da relíquia, que está esquecida em um armazém da Codesp.

"Queremos que o relógio receba um cuidado mais adequado pela sua importância histórica, enquanto não é restaurado", afirmou Bechara Abdalla Pestana Neves, presidente do Condepasa.


Relógio ficava em uma torre de concreto, erguida sobre o prédio da empresa Western Telegraph
Foto: Arquivo

Saiba mais
A Western Telegraph foi a empresa inglesa que implantou redes de telégrafo em várias cidades brasileiras, na primeira metade do século passado. Em Santos, a sede da Western ficava na esquina das ruas Tuiuti e Frei Gaspar, no Centro Histórico.

O relógio funcionava em uma torre de concreto, erguida sobre o prédio da empresa. Durante anos, o equipamento serviu de referência para os trabalhadores do porto. Era conhecido por ter a chamada pontualidade britânica, o que fazia muita gente ajustar os relógios de pulso ou bolso com base no da Western.

Em 25 de abril de 1973, quando a companhia inglesa deixou de prestar serviços no Brasil, o relógio foi desligado, pontualmente ao meio-dia. Mais tarde, a sede foi demolida e o relógio, desmontado. Desde então, o equipamento encontra-se sob responsabilidade da Codesp. Em 92, a estatal ainda tentou restaurar o relógio, mas esbarrou na falta de dinheiro para bancar um projeto mirabolante, que acabou engavetado.

 


Desmontado desde a década de 70, relógio ficou com a Codesp
Foto: Carlos Nogueira, 18/3/04, publicada com a matéria

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