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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Famosos relógios públicos da cidade (II)

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Quem hoje tem a hora exata a um toque no telefone celular e vive cercado de meios de obter essa informação mal imagina como, em tempos idos, uma torre com relógio, os sinos de uma igreja dobrando nas chamadas horas canônicas, a sirene apitando para chamar os trabalhadores, tinham significação extraordinária para a população de uma cidade que mal contava com sistemas de telefonia razoáveis.

Um dos mais famosos relógios públicos de Santos foi o da Western Telegraph. Mas, o que foi feito desse equipamento? É o que investigou o jornal santista A Tribuna, em matéria de 29 de março de 2004:


Relógio ocupava a torre do prédio da Western Telegraph, na esquina das ruas Tuiuti e Frei Gaspar

Foto: Almanaque da Baixada Santista 1976, Olao Rodrigues, Gráfica da Prodesan, Santos, 8ª edição

HISTÓRIA
Esquecido pelo tempo

Relíquia da época da Western Telegraph, o relógio inglês de ferro fundido e bronze - referência no Centro, no início do século passado - está jogado em um dos armazéns da Codesp

Evandro Siqueira
Da Reportagem

As peças chegaram em navios, logo no início do século passado. Vieram da Inglaterra. Em ferro fundido e bronze, pesavam juntas mais de 2.500 quilos. Uma a uma, eram levadas ao topo de uma torre de concreto, bem em frente ao cais do Valongo, e montadas cuidadosamente por operários. Até que, em 1914, deram forma a um relógio.

Na época, não era um relógio qualquer. Era o relógio da Western Telegraph, uma companhia britânica que iniciou atividades no Brasil em 1873, instalando redes de telégrafo em várias cidades, inclusive Santos. Foi contratada pelo Governo Imperial.

Mais que um monumento que embelezava o prédio da Western, o relógio era tido por trabalhadores da região central e portuária como sinônimo da pontualidade britânica.

"As pessoas acertavam a hora por ele", conta a doutora em História e professora da UniSantos, Wilma Therezinha.

A sede da Western funcionava onde hoje é a esquina das ruas Tuiuti e Frei Gaspar, no  Centro. Era o chamado Largo do Senador Vergueiro. Como a torre era alta, o relógio podia ser visto à distância.

Os ponteiros giraram até o meio-dia de 25 de abril de 1973, quando a Western encerrou as atividades no País. Depois de quase 60 anos marcando a hora certa, o relógio entraria em um período de descaso que se arrasta até hoje.

Preocupação

"O Poder Público e até mesmo a iniciativa privada poderiam assumir a restauração. O que não podemos é perder esse tesouro"

Augusto Zago - Vereador

Abandono - O prédio que servia de sede para a empresa inglesa e abrigava a torre do relógio foi demolido, após ser vendido para a extinta Companhia Docas de Santos (CDS). Mas o gigante de bronze e ferro fundido escapou.

Desmontado, ficou sob responsabilidade da CDS, que em 1980 deu lugar à Codesp. Nesta época, porém, o antigo relógio já sofria com a insensibilidade do homem. Passou anos esquecido em algum armazém do cais.

Em 92, a Codesp ainda tentou reativá-lo. Apresentou um projeto mirabolante, que até dava impressão de que seria executado. Mas com os problemas financeiros da época, a estatal logo abandonou a idéia. E, mais uma vez, o relógio da Western amargou um longo período de esquecimento.

Dando corda - Hoje, mais de 30 anos depois de ter sido desligada, a relíquia volta a receber olhares especiais. A esperança de restauração vem da Câmara. No início de fevereiro, os vereadores aprovaram, sem muito alarde, um requerimento de Augusto Zago (PSDB).

O parlamentar, preocupado em "resgatar um símbolo histórico e cultural da Cidade", pede o empenho da Prefeitura para recuperar o relógio e reinstalá-lo no Centro.

Para Zago, o monumento pode se tornar um dos símbolos da preservação histórica do bairro, onde hoje já é possível apreciar verdadeiras jóias do passado, como prédios seculares e o Bonde Turístico.

"O Poder Público e até mesmo um grupo empresarial poderiam assumir a restauração. O que não podemos é perder este tesouro, que conta uma parte da história de Santos", afirma o vereador.


Partes do relógio estão quebradas. Codesp não tem planos para restauração a curto prazo
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Conservação das peças do relógio é precária

O estado de conservação do antigo relógio da Western é de causar arrepios até no mais frio dos historiadores. Está praticamente jogado em um armazém da Codesp, no Macuco, e com vários componentes quebrados.

O número sete, escrito em romano, soltou-se da estrutura circular, que tem quase 2,5 metros de diâmetro. Um caixote de madeira acomoda algumas peças. Outras, como os ponteiros de quase 1,5 metro de comprimento, estão pelo chão, como se fossem sucata.

A Codesp, que está responsável pelo relógio, não tem planos para restaurá-lo a curto prazo. A empresa informou que "estuda a possibilidade" de reaproveitá-lo em algum trecho da Avenida Perimetral, que será construída na faixa portuária. Mas admite que ainda não há nada concreto.


Imagem: trecho da matéria de 29/3/2004

Ex-serralheiro sonhava com a restauração

O ex-serralheiro industrial da Codesp, Gilberto de Moraes, é uma das pessoas que presenciaram o descaso com o relógio da Western. Ele trabalhava na estatal no início dos anos 90, quando cogitou-se reativar o relógio.

"Lembro claramente que naquela época o relógio já estava meio avariado. O comentário entre nós, funcionários, era que daria muito trabalho para recuperar", conta.

Mesmo assim, Moraes diz que técnicos começaram a tentar consertar a parte mecânica do relógio. Mas lembra que todos possuíam outras atividades tidas como prioritárias.

"Nunca houve uma equipe específica para fazer a restauração. Apesar disso, depois que saí da Codesp, soube por alguns amigos que as engrenagens voltaram a funcionar".

Como era serralheiro, Moraes só iria trabalhar na parte externa do relógio. O sonho do operário, no entanto, não se realizou, pois, antes que isso acontecesse, o projeto foi engavetado.

Os ponteiros que eram referência para os trabalhadores do Centro e do Porto
funcionaram até o meio-dia de 25 de abril de 1973
Foto: Fundação Arquivo e Memória de Santos, publicada com a matéria

Cidade não tem dados históricos sobre essa relíquia

Se um dia resolver restaurar o relógio da Western, o Município terá dificuldade em recuperar características próximas às originais, pois as informações a respeito são escassas. Isso transformaria o trabalho em um complicado quebra-cabeça.

Na Codesp, não há qualquer registro relatando o período de funcionamento do relógio, nem mesmo o tempo em que ele ficou guardado nos armazéns da estatal.

Na Fundação Arquivo e Memória, que reúne um rico acervo histórico sobre fatos e monumentos da Cidade, existem apenas fotografias que mostram o relógio, mas a uma grande distância, o que impede a percepção dos detalhes.

O Centro de Documentação da UniSantos, outro importante arquivo histórico, também tem dificuldades para reunir informações sobre o relógio.

Até mesmo na Internet, onde o acervo disponível costuma ser vasto, há poucas informações. Um dos poucos sites que citam o relógio da Western, ainda que de forma superficial, é o www.novomilenio.inf.br.

A Tribuna voltou ao tema em 31 de março de 2004:


Desmontado e em estado precário, o equipamento está abandonado em um armazém da Codesp

Foto: Paulo Freitas, 19/3/2004, publicada com a matéria

RELÍQUIA
Condepasa vai proteger relógio da Western

Da Reportagem

O presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Arquitetônico de Santos (Condepasa), Bechara Abdalla Pestana Neves, defendeu ontem a criação de mecanismos de proteção para o relógio da Western Telegraph, abandonado há anos em um armazém da Codesp. O tombamento da relíquia inglesa não está descartado.

A história do relógio, que funcionou no cais do Valongo de 1914 a 1973, foi contada na edição da última segunda-feira de A Tribuna.

Segundo Neves, a preservação do equipamento será um dos assuntos principais da próxima reunião do conselho, marcada para o dia 8 de abril. Caso os técnicos do Condepasa optem pelo tombamento do relógio, será uma decisão inédita na Cidade, que não possui nenhum bem móvel nesta condição.

"Temos vários edifícios, monumentos e campas do Cemitério do Paquetá tombados. E como a lei nos permite tombar também um bem móvel, não podemos descartar esta hipótese", afirmou o presidente. O Condepasa tem ainda a opção de incluir o relógio em algum nível de proteção, impedindo ações que danifiquem ou descaracterizem o equipamento.

Ainda esta semana, um técnico do órgão deve ir ao armazém onde está o relógio para vistoriá-lo e fotografá-lo. O Condepasa também vai tentar obter mais informações históricas sobre a relíquia junto à Codesp, já que elas são escassas.

Todo o material, incluindo a reportagem da última segunda-feira, será levado à reunião de conselheiros da próxima semana. Os técnicos vão analisar e decidir qual medida de proteção será adotada. "O que posso adiantar é que interessa ao Condepasa preservar este patrimônio da Cidade", disse Neves.

Entenda o caso - A Western Telegraph foi a empresa inglesa que implantou redes de telégrafo em várias cidades brasileiras, na primeira metade do século passado. Em Santos, a sede da Western ficava na esquina das ruas Tuiuti e Frei Gaspar, no Centro Histórico. O relógio funcionava em uma torre de concreto, erguida sobre o prédio.

Durante anos, o equipamento serviu de referência para os trabalhadores do porto. Era conhecido por ter a chamada pontualidade britânica, o que fazia muita gente ajustar os relógios de pulso ou bolso com base no horário marcado por ele.

Em 5 de abril de 1973, quando a companhia encerrou as atividades no Brasil, o relógio foi desligado pontualmente ao meio-dia. Mais tarde, o prédio da Western foi demolido e o relógio, desmontado.

Desde então, está sob responsabilidade da Codesp. Em 92, a estatal ainda tentou restaurar o equipamento, mas esbarrou na falta de dinheiro para bancar um projeto mirabolante, que acabou engavetado.

Peças quebradas - Só no mês passado o relógio voltou a ser lembrado. O vereador Augusto Zago apresentou um requerimento na Câmara pedindo providências para impedir a degradação do patrimônio histórico da Cidade.

O estado de conservação, no entanto, já é precário. Algumas peças estão quebradas. Outras, como os ponteiros de quase 1,5 metro de comprimento, estão pelo chão, como se fossem sucata.

A Codesp informou apenas que tem planos de reinstalá-lo em algum trecho da futura Avenida Perimetral. Mas não há, até agora, um projeto concreto.

E o mesmo jornal A Tribuna destacou, nas edições impressa e eletrônica de 2 de agosto de 2006:


Rotary vai restaurar o relógio que está desativado desde 1973
Foto: Carlos Nogueira, em 18/3/2004, publicada com a matéria

WESTERN
Quarta-feira, 2 de Agosto de 2006, 07:40
Relógio é liberado para restauração

Da Reportagem

Desativado desde 25 de abril de 1973, o antigo relógio da Western Telegraph estará liberado para restauração já a partir da próxima semana. Ontem, na sede do Ministério Público, Codesp e Rotary Club de Santos entraram num acordo para permitir a recuperação do equipamento. A formalização, agora, só depende da aprovação da Diretoria Executiva da estatal, que se reúne ainda esta semana. Também ontem ficou determinado um prazo máximo de 120 dias para definir o local onde o relógio, depois de restaurado, será instalado.

Além da promotora de Meio Ambiente Ana Paula Nogueira da Cruz e de representantes da Codesp e do Rotary, também participaram do encontro membros do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) e da Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

Assim que a transferência estiver concretizada, o Rotary deverá enviar as peças do relógio para o Senai, que fará o trabalho de restauração. "O Senai confirmou que tem a capacitação técnica para o serviço", explicou Terezinha Calçada Bastos, do Rotary Club de Santos, responsável pela captação dos recursos para a reforma.

O Rotary se comprometeu a arcar com todos os custos do processo, da recuperação das peças, abandonadas há mais de 30 anos, até a construção da torre necessária para o funcionamento das engrenagens.

Como a captação financeira será feita junto a terceiros, o único compromisso pedido pela entidade é que, depois de pronto, o relógio fique protegido de possíveis ações de vandalismo.

Memória
Construído em 1914, o relógio funcionou na sede da Western Telegraph, empresa inglesa instalada no Centro que atuava no ramo de construção de redes de telégrafo. O equipamento, com cerca de 2,5 toneladas e 2,5 metros de diâmetro, foi desativado em abril de 1973. Após a demolição do prédio da empresa, ele foi desmontado e guardado em um armazém da Codesp, onde está até hoje.

Localização - A integridade do equipamento, inclusive, será o fator determinante para definir o local onde o relógio será instalado. Segundo o presidente do Condepasa, Bechara Abdalla Pestana Neves, presente à reunião, o órgão já aprovou uma proposta para que o relógio seja integrado ao projeto Alegra Centro, sendo instalado em uma área portuária, no trecho dos armazéns de 1 a 8 da Codesp, incluídos no programa.

"Vamos pegar o projeto elaborado pela Seplan (Secretaria Municipal de Planejamento) e viabilizar um espaço para o relógio", garante Pestana Neves, sobre a área dos armazéns. A confirmação deste local depende, porém, da definição do órgão que ficará responsável pela vigilância, Prefeitura ou Codesp.

A estatal, representada na reunião pelo assessor de Diretoria de Infra-estrutura e Serviços, Francisco Vilardo Neto, e pelo advogado Marco Antônio Gonçalves, ofereceu a possibilidade do relógio ser colocado no Museu do Porto, na Rua Rodrigues Alves, onde ele teria a vigilância garantida pela Codesp.

"Neste caso, teremos que ver a viabilidade técnica de instalação por conta da torre", diz Vilardo Neto, lembrando que a base do relógio deverá ter cerca de 20 metros de altura.

Também participaram da reunião o arquiteto Edson Luís da Costa Sampaio, do Condepasa; Maria Inah Rangel Monteiro, da Secult; Pablo Anjel Sanches Castro, presidente do Rotary Club de Santos, e Marcelo Vallejo Marsaioli, presidente eleito do Rotary.

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