Com 21 cômodos, o casarão da Rua Constituição, 278,
tem 104 anos e 1.200 m² de área construída
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
PATRIMÔNIO
Condepasa tomba 5 imóveis da época do café
São três abrigos de estações da Sabesp e dois casarões
Da Reportagem
O Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural
de Santos (Condepasa) tombou cinco imóveis construídos no início do século 20, época áurea do café na Cidade. A decisão foi tomada em reunião do
conselho realizada na última quinta-feira.
Dos cinco imóveis, três são abrigos das estações elevatórias da Sabesp, projetadas por
Saturnino de Brito (ver matéria), e os outros dois são os casarões da Avenida Conselheiro Nébias nº 361, e da
Rua Constituição nº 278.
"A decisão de tombar um imóvel parte, na verdade, de todo um processo de tombamento,
um estudo. Quando abrimos o processo, o imóvel já fica protegido, não se pode mexer nele", explicou o presidente do Condepasa, Bechara Abdalla
Pestana Neves.
De acordo com ele, o conselho vem tentando agilizar a conclusão dos processos de
tombamento. "No caso dos casarões, por exemplo, os processos foram abertos em abril deste ano. Os cinco imóveis tombados têm uma importância
inegável para a Cidade. São alguns dos poucos exemplares restantes da arquitetura eclética do começo do século".
Estações - Os abrigos das estações elevatórias da
Sabesp são quiosques hexagonais com telhado em madeira e azulejos na fachada e na parte interna. Na região, foram construídas quatro unidades, sendo
três em Santos e uma em São Vicente.
Na Cidade, os abrigos estão localizados na Avenida Conselheiro Nébias, esquina com a
Avenida Campos Sales; na Rua João Octávio, no Paquetá; e na Alameda Neiva da Mota e Silva, no José Menino, na área onde está a Estação de Tratamento
da Sabesp em Santos.
"Tão ou mais importante que a questão da arquitetura dos abrigos, é que eles são
remanescentes de um sistema de saneamento criado por Saturnino de Brito que revolucionou uma época".
Segundo o presidente, o tombamento dos abrigos das estações elevatórias veio
complementar o tombamento dos canais da Cidade. "Eles fazem parte do conjunto da obra, do trabalho de
Saturnino de Brito".
Casarões - Localizado na Vila Nova, o
casarão da Rua Constituição tem 104 anos. Considerado uma das mais bem conservadas relíquias arquitetônicas de Santos, o
imóvel foi construído pela antiga Companhia Docas de Santos.
São 21 cômodos e 1.200 metros quadrados de área construída, de um total de 1.700
metros quadrados de propriedade. O casarão foi colocado à venda este ano por R$ 700 mil.
Um dos detalhes que chama atenção para o imóvel é a sua fachada repleta de azulejos
portugueses e espanhóis. Na parte interna, se destacam a imponente escadaria de mármore e as portas, janelas e o lustre da sala de jantar feitos de
ipê.
Já o casarão da Avenida Conselheiro Nébias, construído em 1920, possui a fachada
principal em estilo normando estilizado. A parte interna, a pintura das paredes, os lustres, móveis e objetos de decoração remetem aos anos 20.
"O nosso trabalho (Condepasa) estava focado na área central de Santos. Agora, estamos
fazendo um inventário de outras regiões para que possamos garantir a preservação da história de toda a Cidade. Só na Conselheiro Nébias, já abrimos
13 processos de tombamento".
A casa da Avenida Conselheiro Nébias, 361, construída
em 1920
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
Saturnino de Brito criou estações elevatórias
As estações elevatórias faziam parte do revolucionário projeto de saneamento que o
médico sanitarista Saturnino de Brito implantou na Cidade.
As unidades construídas no início do século passado possuíam abrigos revestidos por
azulejos, com janelas, portas, e um telhado de madeira em forma de exaustor para liberar o odor provocado pelo esgoto.
Na parte interna, também revestida de azulejos, tampões no chão fechavam a entrada
para o poço que recebia o esgoto. Uma talha presa ao teto puxava a bomba responsável por lançar o esgoto na tubulação.
De acordo com o engenheiro da Sabesp Sérgio Bekerman, das três antigas estações
construídas por Brito, apenas a localizada no José Menino continua em funcionamento. "A última deve ser desativada em breve, talvez já no ano que
vem, com a modernização e a ampliação do sistema da Sabesp".
Segundo o engenheiro, antes de chegar à Estação de Tratamento da Sabesp, no José
Menino, para ser lançado pelo Emissário Submarino, o esgoto é trazido pela tubulação utilizando a força da gravidade.
"Os canos vão descendo pelo subterrâneo. Mas chega uma hora que eles vão tão fundo que
não há como manter uma manutenção adequada além dessa profundidade. Então são construídas as estações elevatórias, que têm esse nome justamente
porque pegam o esgoto lá no fundo, bombeiam e jogam para uma cota mais alta".
De lá, explicou Bekerman, o esgoto segue novamente pela tubulação até chegar à Estação
de Tratamento da Sabesp, podendo, antes disso, passar ou não por outra estação elevatória.
Escoamento - Conforme o engenheiro, as estações elevatórias construídas por
Saturnino de Brito tinham capacidade de escoar 80 litros de esgoto por segundo. Com o passar dos anos, tornaram-se incapazes de atender à demanda da
Cidade em razão do crescimento populacional acelerado.
"Por isso fomos desativando e construímos outra estação elevatória ao lado do abrigo,
com maior profundidade e capacidade para escoar 220 litros por segundo".
Um dos abrigos da Sabesp fica na Conselheiro Nébias
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
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